Sábado, 26 de Maio de 2007

Bloqueio de escritor

Já não é possível fazer piadas sobre detentores de cargos públicos, especialmente os participantes na marcha dos santos populares de Lisboa. Enquanto aguardamos impaciantemente a estação dos incêndios, o Líbano arde já, num prenúncio do que acontecerá no Iraque assim que Bush aceitar o inevitável. Lisboa e Timor-Leste vão a votos, a França e Timor-Leste já foram, os Estados Unidos ainda não vão mas o circo já tem um número recorde de participantes das duas rivais famílias circenses a armar a respectiva tenda.
A Polónia ainda está ressentida não se sabe muito bem com o quê, os britânicos estão ressentidos sabe-se muito bem com o quê no mandato de Blair, os portugueses já nem ressentidos estão com a marcha lenta da economia, e nem uma greve geral os retirará da apatia do sofá onde vêm com indignada tensão notícias pouco novas sobre uma criança desaparecida há quase um mês, enquanto, falta de panem, curam a ressaca do final do circenses nacional, feliz para quem gosta de azul, menos para quem prefere verde, vermelho ou cor de burro quando foge.
Enquanto tudo isto vai fluindo por entre os dedos e escapando-se rápida e inexoravelmente da clepsidra dos apressados tempos, uma certa gaulesa aldeia onde alguns irredutíveis gauleses aparecem de vez em quando e cujo chefe não tem dado sinais de vida, imerso no conforto da sua cabana e no que preguiçosamente se apelida de bloqueio criativo, uma certa gaulesa aldeia, dizíamos, vai ficando como que parada, como que em pausa - e nas próximas duas semanas com verdadeira razão para tal, que o al-Andalus espera este vosso chefe.
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Abraracourcix o chefe falou sobre:
Sexta-feira, 18 de Maio de 2007

Lá vai Lisboa...

Bem se pode dizer que a actual situação política de Lisboa se assemelha às marchas populares, que também se aproximam: temos vários candidatos a santos, competindo para ser escolhido como o mais popular. A diferença é que em vez de uma noite, estas marchas populares se desenrolarão ao longo de um mês e meio, culminando na grande marcha eleitoral de 1 de Julho, onde se saberá finalmente se o santo mais popular para os lisboetas é S. José, S. Ruben, Sta. Helena, S. Fernando, S. Luís (??), S. Manuel, S. José (este desfila pela direita e é bastante menos santo que o outro), tentando contrariar o presumido favoritismo do santo da casa, Sto. António...

José Sá Fernandes
Só poderia ser ele o candidato do Bloco de Esquerda. Tem aura de "incorruptível" e terá aí granjeado popularidade. Vai por meio disso e do seu extremo mediatismo (marca registada do BE) conseguir um bom resultado.

Ruben de Carvalho
O candidato comunista tem também uma imagem de rectidão. Junto com o BE, o PC desde sempre reclamou também eleições antecipadas para resolver a confusão em que mergulhou a Câmara de Lisboa, o que ajuda a retocar a imagem comunista de impoluto. É de frisar que a situação em que Lisboa está não é da exclusiva responsabilidade das gestões de Carmona Rodrigues e Santana Lopes - ela já se começava a desenhar antes, em executivos PS com uma mãozinha comunista... mas duvido que a memória do eleitorado vá tão longe.

Helena Roseta
Campanha Alegre, parte 2. Os "alegristas", ou melhor, a ala mais à esquerda do PS, parece adorar dar dores de cabeça a Sócrates. É o preço a pagar por ser um líder que só olha para a sua direita, suponho. Ainda não é sequer certo que consiga apresentar a candidatura, fruto de uma decisão vergonhosa do Governo Civil da capital, mas se for às urnas será a grande sombra de dúvida sobre a vitória do PS. A corrida será então a três, entre uma candidata independente (mesmo que "dissidente", como ontem ouvi na televisão) e que só por isso já merecerá crédito suplementar face ao status quo, e cujos votos serão retirados do espaço "natural" do PS - mas também do BE - o candidato oficial do PS e que quererá beneficiar do  "castigo" que os eleitores deverão querer dar ao PSD e o candidato laranja, que poderá beneficiar da dispersão de votos à esquerda. Neste cenário, o resultado das eleições intercalares será completamente imprevisível.

António Costa
É um nome forte, conhecido de todos, com imagem de "posso, quero e mando", o que em altura de crise é um ponto a favor. Já o facto de ser um "homem do aparelho", o que ele sem dúvida é e não tenta sequer camuflar, poderá jogar contra ele. Tal dependerá da eficácia com que a carta for jogada pelos adversários - por exemplo, a instabilidade que a sua escolha para candidato gerou no Governo e no Tribunal Constitucional; já a paternidade da Lei das Finanças Locais, que terá lesado os cofres lisboetas, me parece pura demagogia, mas é sabido como esta por vezes é eficaz...

Fernando Negrão
É sintomático do abismo em que o PSD mergulhou o facto de este ser o nome mais forte que o PSD conseguiu apresentar. Em autêntico clima de pré-guerra civil, um natural mau resultado do candidato - será castigado por o PSD ser o directo responsável pela crise política da Câmara - será indirectamente um castigo a Marques Mendes, e Luís Filipe Menezes sairá beneficiado (já esfregará as mãos de contente, e silenciosamente torcerá sem dúvida para que o PSD seja esmagado nas urnas).
O candidato não é especialmente conhecido pelos lisboetas (é deputado por Setúbal, autarquia assolada por um escândalo de tráfico de influências onde é também vereador), foi ministro mas passou entre as gotas da chuva das trapalhadas de Santana Lopes, e ninguém se lembrará dele desse período. Chefiou a Polícia Judiciária, mas isso já foi há muito tempo e ninguém se lembra, por isso não conseguirá capitalizar o perfil de "durão".

CDS
Ainda não apresentou o seu candidato. O mais falado é Luís Nobre Guedes, que é um bom nome mas que saiu chamuscado da experiência governativa catastrófico-santanista e do caso Portucale.
Mais uma vez, dependerá da memória e cultura política de quem for votar... (uma abstenção elevada como será talvez de esperar fará com que quem vote tenha , na minha óptica, tendencialmente mais cultura política beneficia os candidatos "de boa memória" - neste caso, Sá Fernandes, Ruben de Carvalho, talvez Roseta)


Manuel Monteiro
Pouca mossa poderá fazer, a não ser que siga o ovo de Colombo (como é que nunca ninguém se tinha lembrado disto?) revelado pela campanha para as eleições regionais madeirenses, onde a campanha do PND foi de longe a mais inventiva e original (e premiada por isso com um inesperado deputado regional), apresentando nas inaugurações de Jardim um suposto candidato "pacóvio", uma engraçada caricatura de Jardim que foi mediaticamente muito eficaz.

José Pinto Coelho
Tem-se falado demais do PNR nos últimos tempos. Qualquer coisa que o partido ou Pinto Coelho faça, ou qualquer coisa que não faça, tem um eco desmesurado. A 1 de Julho, terá uma votação insignificante e (assim os media o entendam também...) será reduzido à insignificância que é.
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um discurso de Abraracourcix às 10:22
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Sexta-feira, 11 de Maio de 2007

Porquê ter medo de Sarkozy

Ao contrário do que possa eventualmente transparecer do meu último post, de comentário ao resultado das eleições presidenciais franceses, não morro de amores por Sarkozy. Muito longe disso, aliás. Limitei-me a constatar os motivos por que Sarko ganhou: porque era melhor candidato. Se fosse francês teria votado em Ségo nesta segunda volta, apesar de não gostar da sua retórica vazia, da demagogia constante e do destaque dado à sua feminilidade. Teria votado mesmo, talvez, contra Sarko mais do que pela socialista, reconhecendo no entanto que ele era o candidato mais preparado e com propostas mais definidas, concorde ou não com elas... e obviamente não concordo com a maior parte.
A este propósito e do que mais assusta em Nicolas Sarkozy, aqui fica um excerto do artigo de opinião de Rui Tavares, na última página do Público de ontem:

"estes insultos [a polémica da "escumalha"] dirigidos ostensivamente às ovelhas negras se destinam em geral a coagir todo o rebanho, a estigmatizá-lo e retirar--lhe liberdade (...)
Os jovens da banlieue não entraram em combustão espontânea. A coisa começou com a morte de dois deles no seguimento de uma perseguição policial. E não acabou enquanto Sarkozy não espremeu o espectáculo da repressão até à última. Toda a imprensa internacional notou então o prolongamento propositado do conflito.
(...) Na altura dos motins foram bem divulgadas as pesquisas oficiais sobre a prevalência do racismo latente. O mesmo currículo tem três vezes mais hipóteses de ser aceite quando o nome é Jean-Claude Dupont em vez de, digamos, Ibrahim Yassin. Muitos patrões franceses preferem deixar uma vaga por preencher do que contratar árabes ou negros. Depois de não os contratar, é só pedir a Sarkozy que venha metê-los na ordem."
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Segunda-feira, 7 de Maio de 2007

Abram alas para Sarkozy, o presidente-exterminador implacável

Como seria de esperar, Sarkozy venceu, e por larga margem. A participação voltou a exceder os 85%, dando ao resto da Europa - refiro-me acima de tudo a Portugal, cujos políticos deviam enfiar esta carapuça - uma nova lição de democracia.
Dando continuação ao discurso assertivo do período de campanha, ao fazer a declaração de vitória Sarko mostrou já ao que vinha: sossegou os Estados Unidos, prometeu unir em vez de dividir a França (numa clara demarcação da retórica de Chirac, que prometeu fazer face à "fractura social" quando foi eleito e nada fez a este respeito, antes pelo contrário, agravou-a e muito), declarou que a França seria um "farol de liberdade" para os oprimidos de todo o mundo (uma nota algo americanista e soberanista e por isso muito à la de Gaulle).
Uma nota especial para a primeira proposta surpreendente do futuro presidente francês, que prometeu ainda ir ter em especial atenção os países da bacia mediterrânica e disse pretender criar uma comunidade do Mediterrâneo. Eis algo que fará Sócrates sorrir e aplaudir fortemente - e até eu estou por uma vez de acordo com ambos. O auxílio - económico, político - é a melhor forma de os países da orla meridional do "mar interior" da Europa se desenvolverem e, por essa via, debelarem problemas que são também preocupantemente europeus, como os diversos tráficos (droga, armas, pessoas...) e acima de tudo as gigantescas ondas de imigração ilegal.
Já que desconfio que não proporei isto muitas vezes, aqui fica: um forte aplauso para esta proposta de Sarkozy! (que não para o resto do seu discurso-robocop...)
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Sexta-feira, 4 de Maio de 2007

Para lá dos clichés anti-americanos

Já que estou numa onda francesa, aqui fica uma entrevista de Bernard Henry-Lévy ao Ípsilon, suplemento cultural do Público, a propósito do seu último livro, uma destruição de todos os clichés - bons e maus - que os europeus têm em relação aos Estados Unidos.

"Depois da sua longa viagem pela América, mudou as ideias que tinha?
Mudei. Fiz o que muito pouca gente faz: atravessar o país em todos os sentidos por estrada, olhar para tudo, para tentar testar os clichés contra a prova do real. Todos nós temos a cabeça cheia de clichés quando se trata da América. Os anti-americanos têm clichés, os pró-americanos também. Todos os clichés são falsos.
Uma experiência como esta transforma-se numa máquina de quebrar clichés. As minhas ideias mudaram.

Por exemplo?
Pensava que a América era um país imperial. A ideia merece ser revista. Pensava que a América não tinha sistema de saúde e de segurança social. É mais complicado que isso. É diferente do nosso, uma mistura de publico e privado, mas existe. Pensava que a América era um país materialista e é provavelmente o país mais religioso do mundo. Pensava que o Sul eram os Estados da segregação, onde os negros teriam ainda um longo caminho a percorrer para cumprir o programa de Martin Luther King. Descobri que o caminho já tinha sido percorrido no essencial. Cada passo foi uma surpresa.

Esta surpresa confirmou a ideia de que europeus e americanos continuam a pertencer ao mesmo planeta ou viu uma América que diverge cada vez mais de nós?
O que vi e o que discuti com inúmeros intelectuais, de direita e de esquerda, conservadores e democratas, é que há, de facto, uma tentação de largar as amarras da Europa. Mas direi que a questão que acabou de colocar é aquela que se colocam a eles próprios todos os americanos. A questão central é essa...

A relação com a Europa?
O que é que fazemos com a Europa? A Europa é a nossa mãe, mas como é que traduzimos isso nos dias hoje? Como é que resolvemos o nosso complexo de Édipo ou de Electra? Matamos ou não a mãe? É a questão metafísica e, consequentemente, política.

Porque é que se coloca agora? Porque a guerra-fria terminou? Porque o mundo está a mudar?
Porque a guerra-fria acabou. Porque há uma mudança da população americana com a chegada dos hispânicos. E pela proximidade à Ásia através da costa do Pacífico. E também por causa da psicologia dos homens. O complexo de Édipo existe nos humanos como nas colectividades. Nós, na Europa, temos o complexo ao contrário: o ódio da mãe pela filha. Que é o anti-americanismo. Mas, se tivesse de fazer uma aposta, apesar de tudo diria que não haverá ruptura entre a América e a Europa. A presença europeia é demasiado forte, os valores europeus impregnam a sociedade americana de forma profunda e creio que, sem isso, a América seria outra coisa.

Há passagens no seu livro dedicadas a descrever o Presidente americano. Pelo menos inicialmente os europeus não compreendiam essa escolha...
Olhe para o seu país. Uma civilização, um império, uma cultura e ofereceu-se a si próprio durante décadas dois cretinos: Salazar e Caetano. Isso não quer dizer nada. Na França é o mesmo. O que eu creio, realmente, é que George W. Bush é um parêntesis. Temos os olhos fixos em Bush, ficamos completamente obnubilados por ele, como se ele fosse a verdade da América. Ora, não é nada disso.

Mas é essa a América que temos visto, dos "neocons", do fundamentalismo religioso...
Isso quer dizer que não compreendemos nada.

Encontrou Barak Obama em 2004 e diz no seu livro que é preciso prestar-lhe atenção. Hoje todos nós lhe prestamos imensa atenção.
Creio ter sido um dos primeiros europeus a imprimir o nome de Barak Obama e a fazer o seu retrato. Logo que o vi, senti imediatamente que era uma personagem considerável e uma das faces possíveis da América.

Diz que Obama é um negro branco.
O que digo é que a força de Obama reside no facto de não ser um descendente de um escravo do Sul. O seu pai era queniano. E isso muda tudo. Quer dizer que ele não reenvia aos outros americanos uma imagem culpabilizante. Não lhes reenvia a imagem do país da segregação, do Ku-Klux-Klan, do esclavagismo. É um negro que joga na sedução e não na culpabilização. A sua força está aí.

Escreve também bastante sobre a sua experiência com as comunidades árabes, sobre o facto de se sentirem americanos, ao contrário do que acontece na Europa.
Os americanos inventaram um sistema de cidadania, um modo de regulação dialéctica entre o particular e o universal, entre a origem e o destino, que funciona bastante bem. Na Europa e na França teríamos todo o interesse em inspirarmo-nos nisto.

Podemos voltar aos valores? Há hoje na Europa a ideia de que, depois de Guantánamo e de Abu Ghraib, a democracia americana não funciona. Visitou Guantánamo. Contesta essa ideia no seu livro.
Fui ver Guantánamo. É verdade que é inadmissível, que é um escândalo, que é uma zona de não-direito e que é indigna de uma democracia. Mas não é o Gulag. E os que nos vêm dizer que Guantánamo é o Gulag americano são cretinos, não têm a mínima ideia do que é o Gulag. O Gulag significa dezenas de milhões de mortos. Guantánamo significa centenas de prisioneiros sem direitos que não são bem tratados, sem dúvida, em alguns casos torturados. Eis um caso em que está diante de um verdadeiro cliché.

Compara a denúncia de Abu Ghraib com a denúncia do que se passou com a França na guerra da Argélia. Diz que eles foram mais rápidos a denunciar e a condenar.
A grande diferença entre a França e a América é que a França levou 40 anos para aceitar o seu Abu Grahib e a América levou três dias.

Porquê?
Porque a América é uma democracia mais viva que a França. Bastaram 48 horas para a América ser informada sobre Abu Ghraib, ficar horrorizada com Abu Ghraib e condenar Abu Ghraib. Há pouco falávamos de Obama e de Hillary Clinton. A América pode eleger no próximo ano uma mulher ou um negro. Portugal estaria preparado para isso?

Mas a França está, pelo menos no que diz respeito a uma mulher.
Mas está pronta a eleger um negro? E mesmo uma mulher? Vamos ver. Espero que sim. Mas olhe para a maneira como ela é tratada, a nossa mulher, Ségolène. Os insultos as insinuações.

Conversou longamente com algumas das figuras mais conhecidas entre os neoconservadores. As suas origens são as mesmas que as deles: vieram da esquerda, são anti-totalitários, vêm a democracia como valor universal. Também costuma apelar às democracias para agirem contra os tiranos. Qual é a diferença?
A diferença é que continuo a ser de esquerda e eles não. No plano moral, não há diferença. O problema deles não é serem imorais. Moralmente tinham razão. Claro que é preciso derrubar um ditador. Claro que a democracia é boa para todos os povos. Claro que os Direitos do Homem não são reservados aos ocidentais. Apenas há diferença no plano político. A responsabilidade de um Estado não é apenas ter razão nos princípios mas também ganhar no plano político. A guerra no Iraque, a maneira como foi conduzida, fez com que estivesse antecipadamente perdida. Para ganhar é preciso um consenso internacional, aliados no terreno e um plano de reconstrução. Foram as três coisas que faltaram à América.
Eles fizeram no Iraque os mesmos erros que fazem na América. Pensam que o Estado serve de pouco para combater a miséria, para os cuidados de saúde, que é preciso deixar o mercado livre funcionar. Fizeram o mesmo erro no Iraque: bastava derrubar Saddam e, depois, a Providência democrática faria o resto.

Diz no seu livro, já disse aqui, que a América não é uma nação imperial. Mas, depois da guerra-fria, começou a pensar-se como império.
Não tenho a certeza disso. A questão imperial é uma questão nossa, dos europeus. Fomos nós as nações imperais. O imperialismo é o nosso fardo. A América não tem um imaginário imperial, isso é falso. A verdadeira tentação da América, a sua tendência pesada e, talvez, o maior perigo é deixar cair o mundo... O isolacionismo.
Espero que a queda dos neoconservadores não tenha como efeito deitar fora o bebé com a água do banho. Abandonar toda a espécie de preocupação com o mundo.

Como é que explica que a ideia de uma Europa como anti-América seja sobretudo uma ideia francesa?
Não, não é apenas francesa. É verdadeira na Alemanha, na Espanha, na Itália, talvez em Portugal... Mas é verdade que nasceu em França. O anti-americanismo era uma ideia de extrema-direita...

Agora é de esquerda.
Se o anti-americanismo se transformar no programa da esquerda, isso será muito grave porque, na sua substância, é uma ideia fascista. É o reflexo dos fascistas franceses dos anos 20 e 30 face a uma nação democrática. É a reacção dos nostálgicos da nação orgânica, a nação baseada numa raça, num sangue, etc..., face à nação rousseauniana, que é a América. A América é uma incarnação do sonho de Rousseau, gente que vem de toda a parte e que, por um acto de vontade, decide fazer uma nação. Isto, os contra-revolucionários franceses do século XIX e, depois, os fascistas dos anos 20, viam como o seu o pior pesadelo. É daqui que nasce o anti-americanismo em França. Que, depois, passa para a Alemanha, como os românticos alemães, com os ideólogos nazis, com Heidegger. Ver uma parte da esquerda europeia ligada a este anti-americanismo de origem fascizante é algo que me aterroriza.

E isso é um problema para a integração europeia?
Sim. Creio que não se pode detestar a América e querer, ao mesmo tempo, a Europa. Porque, no fundo, a ideia de que a Europa é possível é a América que no-la dá. É já, de alguma maneira, uma Europa - povos diferentes, de tradições e memórias que não têm nada umas com as outras, que formam uma nação. É isto a América e é isto que tentamos fazer na Europa.

O que leva 70 por cento dos franceses a dizer que a França está em declínio? Ou, como se diz, como se explica este "malaise" de um país que é rico e, a muitos títulos, magnífico?
Isso vai mudar... O "malaise" é uma questão de memória. Há três acontecimentos recentes na nossa memória com os quais temos dificuldade em lidar. Vichy, a colonização e o Maio de 68...

Acha que podemos comparar o Maio de 68 com Vichy...
Não. Mas há uma relação difícil com o Maio de 68. Há uma parte da França que continua a pensar que foi uma coisa muito má, que os nossos males vêm daí.

Diz no seu livro, contrariando a percepção comum na Europa, que o terrorismo islâmico é uma forma de fascismo - o islamofascismo. É a mesma definição de Bush.
As pessoas na Europa crêem que a origem do terrorismo islâmico é a pobreza ou o Corão. Não é uma coisa nem outra. A sua tradição ideológica chama-se fascismo. É a sua verdadeira natureza. É uma questão política, não é uma questão religiosa.

Os americanos percebem isso melhor que nós?
Não, não creio. Eles estão mais na linha da guerra de civilizações, ou seja, uma guerra de religiões. Ora, não é nada disso, é uma batalha política contra gente que é fascista...

Porque defendem uma ideologia totalitária?
Li os fundadores dos Irmãos Muçulmanos, li os inspiradores de Komeini, li os fundadores do Partido Baas e verifiquei que as ideias que os alimentam são ideias europeias e, em grande parte, fascistas. Há também o Corão naturalmente. Mas o Corão é como todos os textos religiosos, permite várias interpretações. Se fosse só isso não estaria tão inquieto."

Quando era mais novo, ouvia com frequência um programa da Antena 3, aos domingos de manhã, chamado "De costa a costa", que passava música que, num sentido lato, era country - mas não aquele country "pimba" que associamos, fruto dos filmes e séries, à América profunda.
Esse foi o primeiro cliché que se destruiu para mim, o de que o country era "pimba". Porque eu aprendi a gostar daquele country, e através dele do que é a moderna América profunda, tornei-me nessa medida "americanófilo" e percebi que nem tudo o que é tido como mau o é nos Estados Unidos. No fundo, percebi que por muita coisa má que uma cultura - no caso a americana - tenha, é sempre necessário passar para lá dessas supostas coisas nefastas, porque muito de bom sempre haverá. E, assim, tive de aprender a conviver com um sentimento de atracção-repulsa em relação aos Estados Unidos e a all things American..
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um discurso de Abraracourcix às 18:59
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A semana em cartoon: Ségolène ao ataque da fortaleza-Sarkozy


(Petar Pismestrovic, Kleine Zeitung, Áustria)
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um discurso de Abraracourcix às 18:57
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Quinta-feira, 3 de Maio de 2007

Sarkozy vs Royal: les jeux sont faits

Ontem à noite decorreu o único debate entre os dois candidatos à segunda volta das eleições presidenciais francesas, Nicolas "robocop" Sarkozy e Ségolène "pudim" Royal.
Um bom sinal do interesse que estas eleições têm despertado é o facto de quer a SIC Notícias quer a RTPN terem transmitido, em diferido (e ambas quase em simultâneo), o debate - só que eu não sabia disto e já tinha visto o debate em directo na TV5 (e portanto sem legendas, o que a mim não me faz diferença - sim, podem chamar-me maluquinho francófilo - pelo contrário, deixa-me prestar mais atenção a outros pormenores, como a postura dos candidatos, o cenário, etc.).
Como se esperava, Ségo surgiu mais agressiva, tentando por um lado reduzir a diferença nas intenções de voto face ao seu oponente e favorito de todas as sondagens (entre 52 e 54%) e, por outro lado, tentar fazer surgir a agressividade latente de Sarko - não é por acaso a alcunha de "robocop"... Vi o debate quase todo (aguentei quase duas horas antes de sucumbir por exaustão, os candidatos continuaram até às duas horas e meia...) e pessoalmente penso que Ségo se saiu ligeiramente melhor.
Não conseguiu causar nenhum ataque de fúria em Sarko - pelo contrário, ela é que pareceu em certos momentos demasiado exaltada, o que o adversário não deixou de aproveitar para marcar pontos - mas pareceu claramente "presidenciável", respirando confiança e conseguiu, na questão da reforma laboral, que Sarkozy acabasse por admitir que não iria mexer nas 35 horas semanais (algo que em campanha ele apresenta como um terrível erro).
Penso, no entanto, e fruto desse excesso de irritabilidade de Royal, que não deverá colher grandes frutos eleitorais da sua prestação retórica. Sarkozy, pelo contrário, apareceu na forma esperada: tentando sempre ser calmo e cordato, explicando as suas propostas de forma mais assertiva e atacando Ségo quando ela não o era, capitalizando o principal handicap da socialista, a falta de sustentabilidade prática do que propõe.
Assim, não será pelo debate - sempre alvo de muita atenção por parte dos franceses, um dos povos mais politizados da Europa  - que Ségolène Royal conseguirá equlibrar a balança presidencial: Sarkozy continuará o favorito e, a não ser que todas as inúmeras sondagens feitas para esta segunda volta se enganem, será o próximo ocupante do Palais de l'Élysée.
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Os melhores javalis


O chefe viu:
   "Nightwatchers", Peter Greenaway

  

 

   "The Happening", M. Night Shyamalan

  

 

   "Blade Runner" (final cut), Ridley Scott

  


O chefe está a ler:
   "Entre os Dois Palácios", Naguib Mahfouz

O chefe tem ouvido:
   Clap Your Hands Say Yeah, Some Loud Thunder

   Radiohead, In Rainbows
 

por toutatis! que o céu não nos caia em cima da cabeça...

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