Fã enorme, enormíssimo, dos U2 (de tal forma que lhes consigo até perdoar a deriva não-activista , comercialista dos últimos tempos), não resisto a fazer publicidade, e a deixar na íntegra o destaque dado pelo Público de hoje ao lançamento. Apesar de não ter estado presente, não consigo evitar um arrepio na espinha ao ler...
"Quando os U2 deixaram o mundo de boca aberta
"Nunca se havia visto nada assim e depois não foi criado algo comparável. No início dos anos 90 os U2 assombravam o mundo com um espectáculo total, a Zoo TV. Hoje é lançado em todo o mundo, pela primeira vez, o DVD que retrata a digressão que quase levou à falência a maior banda rock da actualidade. Por Vítor Belanciano
O mundo já havia visto os fãs em delírio com os Beatles, as correrias pelo palco de Mick Jagger , as gigantescas encenações pirotécnicas dos Pink Floyd ou as engenhosas coreografias de Madonna mas aquilo era outra coisa. Aquilo foi o maior espectáculo alguma vez realizado por uma banda rock. Na alvorada dos anos 90, na era dos grandiosos concertos de estádio, os irlandeses U2 criavam uma mega-acontecimento, a que deram o nome de Zoo TV, que deixou o mundo de boca aberta.
Nunca se havia visto nada assim. Ninguém se atreveu a tentar algo parecido depois. Pela primeira vez disponível em DVD, é hoje lançado em todo o mundo Zoo TV - Live From Sydney, o retrato de uma das maiores extravagâncias do rock.
O DVD (capa reproduzida em baixo) é lançado em dois formatos. A edição normal retrata o concerto de estádio, em Sydney (Austrália), filmado em Novembro de 1993 por David Mallet . A edição especial, para além do espectáculo, contém excertos de outras actuações, documentários que dão conta dos contornos estéticos de toda operação, imagens de bastidores e curiosidades, como um olhar sobre a extinção dos carros Trabant - símbolo da então recentemente finda RDA - que viriam a ser recuperados para o cenário do espectáculo.
Com 700 televisores, 5 câmaras broadcast , 36 monitores, 4 mega-telas , 4 vídeo-halls , 18 projectores, 12 discos lasers, uma antena satélite, 176 colunas, 200 pessoas, vários carros Trabant pendurados no tecto, um avião privado para as deslocações e quatro músicos em palco, a Zoo TV foi muito mais do que um concerto. Foi um espectáculo multimédia onde os U2 se encenavam a si próprios e ao mundo, glosando e desmontando os mecanismos da era da tele-comunicação . Como Bono haveria de afirmar, tratava-se de uma extravagância que promovia "um encontro entre Berlim Leste e Las Vegas no planeta do lixo".
Foi um espectáculo de tal forma megalómano que Bono confessou, recentemente, que estiveram à beira da falência. Mesmo com todos os concertos da digressão de dois anos esgotados a rentabilidade foi mínima. "A Zoo TV foi muito dispendiosa. Deslocar aquela coisa, por dia, custava-nos 191.340 euros", afirmou. "Se tivéssemos tido menos dez por cento das pessoas a ver-nos, teríamos falido. E com aquelas contas astronómicas não dá para ter uma pequena falência. A falência seria gigantesca. Nem posso pensar nisso hoje. É muito dinheiro. Desde então descobrimos gente preparada para assumir esse risco por nós, mas na altura foi assustador."
Os U2 e o mundo satirizados
"O maior", "o mais explosivo", "o mais caro" ou a "mais ambiciosa digressão da história", foi assim que a imprensa caracterizou o espectáculo que os U2 criaram com o produtor e ideólogo Brian Eno . A digressão prenunciou a segunda fase da vida criativa do grupo, depois de terem gravado em 1991, na cidade de Berlim, o álbum Achtung Baby , a que se seguiria, dois anos depois, Zooropa .
Contrariando os princípios que até aí caracterizavam o quarteto, assentes nas ideias mais óbvias de autenticidade, os U2 chegavam ao topo da fama e resolviam encenar-se e satirizar-se a si próprios, mas não só: era todo o universo do rock, a comunicação para massas, o poder da imagem ou a queda do muro de Berlim que estavam em cena.
No palco, Bono vestia a pele de personagens, brincando com clichés, expondo-os, pondo-os a nu. Nem todos perceberam a desmontagem e foi dito que estavam a desperdiçar o capital de prestígio, mas passados mais de dez anos é evidente que nunca um grupo de massas havia sido tão ousado. Entre os muitos aspectos curiosos do espectáculo, conta-se o vídeo-confessionário , onde qualquer pessoa podia gravar uma mensagem íntima, ou os telefonemas de Bono , encarnando a personagem de MacPhisto , interpelando em directo alguém desconhecido ou figuras ilustres como George Bush , Luciano Pavarotti ou Bill Clinton .
Pela primeira vez na história, os U2 não recusavam os excessos do rock e do universo da comunicação. Abraçavam-nos, de forma assumidamente excessiva. Há três anos os ingleses Massive Attack , na digressão do álbum 100th Window , inspiraram-se em alguns dos elementos multimédia expostos em Zoo TV, mas com aquele impacto nunca mais houve nada igual. "
"A Zoo TV em Portugal
"Foi a 15 de Maio de 1993, no Estádio de Alvalade, em Lisboa, que a Zoo TV passou por Portugal. Semanas antes o concerto havia esgotado e a expectativa era enorme. Um dos episódios mais singulares aconteceu quando uma jovem, de nome Maria, foi chamada ao palco para filmar o grupo, durante a interpretação de Trying to throw your arms around the world . Ao que parece fazia anos e Bono cantou-lhe os "parabéns a você". O costumado momento em que o cantor telefonava para alguém foi um pouco decepcionante. Nos bastidores falava-se que poderia ser Mário Soares, então Presidente da República, mas o telefonema acabou por ir parar a uma companhia de táxis, onde uma senhora de nome Ana Oliveira - que não percebia inglês - colocou Bono na lista de espera. Tal como nos restantes espectáculos, o cantor vestiu a pele de várias personagens. Numa das mais marcantes, quando fazia de pregador, gritava: "I have a vision ! I have a vision ! I have a vision ! Zoo television !" V.B . "