Segunda-feira, 31 de Março de 2008

Mail por mim enviado ao PCP em relação à questão do Tibete

Assunto: Carta de repúdio de um militante à posição do PCP na questão do Tibete


Camaradas,

No final da semana passada, foi votado na Assembleia da República um voto de protesto contra a recente irrupção de violência no Tibete, ao qual o PC foi o único partido a opor-se. Escrevo-vos para vos manifestar a minha veemente discordância e o meu repúdio face à vossa posição.
Independentemente de justificações, espúrias ou não, independentemente de alegados ataques à realização dos Jogos Olímpicos, de teorias da conspiração, de campanhas de desinformação (as quais, camaradas, podem ser alegadas pelos dois campos), o que está em causa é a coragem de assumir a defesa de uma posição mesmo que incómoda, mesmo que contrária a afinidades de outra índole. O que está em causa é não se refugiar em teorias da conspiração para não ter de se assumir algo incómodo: que possíveis afinidades ideológicas ou amizades políticas não podem sobrepor-se, nunca, aos mais básicos e absolutos dos direitos - os Direitos Humanos.
São estes os Direitos que devem valer, e estes, quaisquer que sejam os olhos com que se vejam (desde que se queira ver), foram - e são continuadamente desde a ocupação chinesa há mais de 50 anos - barbaramente violados no Tibete.
Do meu ponto de vista, camaradas, perderam toda a legitimidade moral para protestar e opor-se a tantos casos de ilegais invasões de países terceiros, grosseiras violações do Direito Internacional e violações dos Direitos Humanos por esse mundo fora. A questão do Tibete é-me demasiado clara para poder deixar passar em branco mais esta vossa agressão (não, não é a primeira...) àquilo em que mais profundamente acredito.

Camaradas, perderam com este acto o meu afecto e a minha militância. O meu cartão de militante do PCP, nº 36402, que com orgulho ostentava na minha carteira, foi colocado na gaveta. A minha militância também.
Hei-de continuar a chamar-me, a considerar-me, comunista, pois isso tem a ver com aquilo em que se acredita, e não com a pertença a um grupo ou partido. Hei-de ser para sempre comunista. Não posso, neste momento, continuar a ser e a considerar-me membro do PC.

          Cumprimentos,
      
                António Rufino

PS - Esta carta será também colocada no meu blog, altermundo.blogs.sapo.pt, como parte da minha manifestação de repúdio.
:
Abraracourcix o chefe falou sobre: , , , ,
um discurso de Abraracourcix às 13:43
link do discurso | comentar - que alegre boa ideia!
4 comentários:
De Héliocoptero a 31 de Março de 2008 às 21:15
Os meus parabéns pela coragem. Depois de ler o que li durante duas semanas nas caixas de comentários de vários blogues, já começava a pensar que o comunismo português é sinónimo de fidelidade cega e de anti americanismo absoluto.
De Abraracourcix a 1 de Abril de 2008 às 11:06
Obrigado pelo comentário, heliocóptero.
O comunismo enquanto grupo organizado (ou seja, o PC) é, acredita, do mais cegamente fiel que possas imaginar (mais ainda que o anti-americanismo). Também mais que este último, é um defeito que eu tendo a perdoar, em virtude do que ideologicamente perfilho no que defendem.
No entanto, não perfilho da tal fidelidade canina, e nisso me distingo da esmagadora maioria dos militantes do PC. E se a minha tendência tem sido a de "olhar para o lado" quando não concordo com uma posição do PC, há coisas mais fortes que uma simples discordância.
Esta questão do Tibete não foi sequer a primeira, foi apenas a última de uma longa série, e a mais grave para mim.
A coragem que me elogias mais não é que o recusar-me a que alguém me diga como ou o que pensar, o obstinar-me a pensar pela minha cabeça e não ir com a "carneirada", seja o rebanho comunista seja outro qualquer.
Como frisei na carta, continuo, na minha cabeça, a ser comunista, no sentido em que defendo princípios que o são. Não sou certamente comunista no sentido de defesa cega de uma ideoogia apesar dos seus defeitos, e sobretudo apesar do que em nome dela foi feito - e que para mim não é comunismo, antes uma subversão deste - e do princípio, aparentemente dogmático no PC, de que o fim justifica os meios. Para mim, há meios (estou a pensar em termos sobretudo de Direitos Humanos) que nenhum fim justifica.
De Cão rafeiro a 3 de Abril de 2008 às 18:01
uma atitude na linha de albert camus... e do que leio de ti, creio que não ficará por aqui. de que servem as ideologias quando não reflectem sobre a realidade?

os meus sinceros parabéns por teres sido capaz de tirar as devidas ilacções das ideias e valores que defendes. ser coerente é uma virtude difícil de alcançar e muitas vezes dolorosa de manter.
De Abraracourcix a 4 de Abril de 2008 às 10:20
Obrigado pelo elogio simpático!
Quando eu escrevi na caixa de comentários de um blog há longos tempos atrás que, sendo comunista, pensava acima de tudo por mim próprio, era isto que queria dizer: coerência a valores é diferente de cega fidelidade a afinidades quase feudais... E sim, é doloroso ser-se coerente, pelo menos nesta situação foi.

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