Sábado, 5 de Janeiro de 2008
O pior, e de alguma forma inesperado mesmo sob as ameaças que pairavam, aconteceu mesmo: o Lisboa-Dakar deste ano foi
anulado, depois do atentado terrorista que vitimou quatro turistas franceses na Mauritânia a semana passada, dos avisos do Governo francês quanto à falta de segurança nesse país e das ameaças directas da Al Qaeda - cujo braço argelino é o presumível autor do atentado - sobre a prova.
É compreensível a decisão da organização de não organizar o mítico rally este ano. Não deixa, no entanto, de ser muito triste, sobretudo pelo trunfo que confere ao terrorismo magrebino e à Al Qaeda em geral, que a partir de agora tem razões reforçadas para cometer atentados deste género, provado que está que têm efeitos produtivos.
Este efeito de tristeza é
duplo, pois para além da vitória terrorista soma-se o próprio desaparecimento, espera-se que irrepetível, da prova.
Para mim, que cresci com a certeza de ver a cada início de ano os resumos da prova (já que, até ao ano passado, quando cumpri um sonho de criança, a minha presença pessoal foi impossível), para mim que aprendi a sonhar com o deserto ao ver as imagens televisivas do Paris-Dakar a cada ano, este cancelamento tornará os meus próximos dias mais cinzentos.
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Sexta-feira, 13 de Abril de 2007
Depois de um lutuoso interregno causado por imprevistos - mas infelizmente demasiado previstos - acontecimentos, o Altermundo volta ao mundo dos vivos...
(e desde já as minhas desculpas pelo atraso na resposta aos comentários)
Ainda a inteirar-me das implicações das notícias desta semana, não vou falar da
licenciatura do sr. Sócrates (não seria tudo mais simples se os notáveis portugueses fossem tratados apenas por "sr.", como tão impecavelmente fazem os britânicos?), cujos
fraternos laços com a nefasta Universidade Independente permanecem por desvendar por mais esclarecimentos que (não) se façam. Também não falarei das
eleições timorenses, a aguardar mais definitivos resultados, nem das
novas diatribes iranianas, apenas o culminar da política externa de Teerão ou da
al-qaedização do terrorismo na Argélia.
Por ora, quero apenas frisar que a eleição do
Verdadeiro Melhor Português de Sempre, que deveria já ter terminado, se prolongará para mais alguns dias. Isto dará, espero, tempo para que os votantes corrijam os resultados actuais e que põem Eusébio em primeiro lugar, e deste modo para que eu possa respeitar inteiramente a atmosfera democrática desta gaulesa aldeia...
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Sexta-feira, 2 de Março de 2007
Quinta-feira, 11 de Janeiro de 2007
"Os EUA terão ontem lançado a terceira vaga de bombardeamentos aéreos contra localidades do extremo Sul da Somália, junto à fronteira com o Quénia, onde dizem estarem escondidos responsáveis da Al-Qaeda, procurados pelos serviços secretos.(...) o vice-primeiro-ministro, Hussein Aidid, falou numa intervenção dos EUA no terreno como sendo "apenas uma questão de tempo" depois ou durante os ataques aéreos dos últimos dias. "A única forma de os EUA eliminarem e capturarem os terroristas da Al-Qaeda é destacarem forças especiais no terreno", considerou, pondo a hipótese de já estarem em curso operações secretas terrestres."
(Público de hoje)
Ataques aéreos dos Estados Unidos a supostas bases da Al Qaeda na Somália - onde é que já ouvi isto?...
Operações terrestres de militares americanos neste cenário - onde é que já ouvi isto?..
Ambas as afirmações soam estranhamente a
déjà vu - e, segundo me lembro, nenhuma delas terminou bem para os Estados Unidos; segundo me lembro, alguns anos depois, numa bela manhã de Setembro, o país acordou para um pesadelo do qual ainda hoje não vislumbra saída...
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Quinta-feira, 7 de Dezembro de 2006
Do Público de hoje:
"Governo recusa dar listas de passageiros ao PE"
"O ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, comunicou ontem à delegação da comissão temporária que investiga os voos secretos da CIA a impossibilidade de o Governo fornecer aos eurodeputados "elementos complementares" sobre os aviões considerados suspeitos de transportarem prisioneiros.
Amado justificou esta posição alegando que tal procedimento violaria a lei nacional. (...) "O ministro recordou que não está em condições de fornecer à comissão alguns elementos complementares, nomeadamente as listas de passageiros, uma vez que isso constituiria uma violação da lei portuguesa"
Mais um facto muito significativo - embora se trate quase de um segredo de Polichinelo, tão óbvia parece ser a evidência do que aconteceu - escondido sobre a "capa" de uma relativamente inócua notícia: o Governo reconhece que tem em sua posse o nome dos passageiros que foram transportados de e para, entre outros destinos, Guantánamo... É como a história das bruxas: pero que las hay, las hay...
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Sexta-feira, 24 de Novembro de 2006
Este já está um pouco desactualizado, mas está tão bom que não resisto:
Sexta-feira, 17 de Novembro de 2006
Li ontem no Público algo que me fez reflectir sobre o
agravamento da situação na Somália. A notícia fala de acusações, constantes num relatório de observadores da ONU, a Damasco e Teerão, supostamente envolvidos em esquemas de venda de armas aos islamistas dos Tribunais Islâmicos, que controlam neste momento a maior parte do país, incluindo a capital, Mogadiscio, e de treino a milícias ligadas a estes através do Hezbollah.
O suposto envolvimento sírio e iraniano - prontamente desmentido por responsáveis diplomáticos dos dois países - parece-me plausível e com motivações relativamente claras pelas afinidades ideológicas entre o
Hezbollah e os
Tribunais Islâmicos. O que me alarmou mais, e me fez pensar, foi a parte da notícia onde se acusam outros países de envolvimento:
"(...) o documento da ONU refere que pelo menos sete países - entre eles o Irão e a Síria - estão a fornecer armamento e treino militar às milícias islâmicas, que querem impor a sharia, a lei corânica. Outras três nações fazem o mesmo em relação ao Governo.Os relatores acusam a Etiópia e a Eritreia - nos apoios dados, respectivamente, ao governo em Baidoa e à união dos Tribunais em Mogadíscio - de serem os principais violadores do embargo decretado pelas Nações Unidas em 1992. O Djibuti, a Líbia, o Egipto e ainda mais "alguns países do Médio Oriente" terão também canalizado ajuda aos islamistas via Eritreia, que foi "apanhada" em pelo menos 28 fornecimentos de armamento e no envio de mais de dois mil soldados para a Somália.O documento da ONU denuncia ainda a existência de uma ligação entre os islamistas somalis e o movimento xiita libanês Hezbollah (apoiado por Teerão e Damasco), explicitando que este Partido de Deus está a treinar os guerrilheiros da associação dos Tribunais Islâmicos. É mencionado, aliás, que mais de 700 guerrilheiros islamistas estiveram em Julho no Líbano, a lutar ao lado do Hezbollah na guerra contra Israel."O interesse da
Etiópia em envolver-se é claro. Trata-se de uma questão que mexe directamente com ela, por se desenrolar mesmo junto às suas fronteiras e ter implicações político-militares no próprio país, inimigo histórico da Somália (os dois países já se envolveram em diversas guerras), e para a qual consegue granjear o apoio de um ou dois aliados regionais a quem também não interessa um estandarte extremista islâmico no corno de África.
Da mesma forma, e no campo oposto, é claro o interesse da Eritreia em apoiar os Tribunais Islâmicos, dada a inimizade também entre os Eritreus e a Etiópia, da qual aliás a Eritreia fazia parte até à
secessão e posterior independência, em 1993. O apoio do
Djibuti poderá ser explicado, da mesma forma, pelo complexo jogo de interesses e alianças regionais.
É bem mais obscuro, por outro lado, o interesse da Líbia, do Egipto e dos tais "vários países do Médio Oriente" em desestabilizar a região e apoiar um movimento extremista islâmico, algo que não é por norma tolerado mesmo dentro desses países...
A deriva islâmica e os apoios que surgem de uma e outra parte apenas auguram um cenário negro para o corno de África, uma das mais pobres regiões do mais pobre dos continentes, e que está muito perto de uma guerra à escala regional, de consequências devastadoras para as populações e mesmo para o quadro geoestratégico de toda a região do Nordeste africano, do Mar Vermelho e do Golfo Pérsico e Médio Oriente. O tabuleiro de jogo vai-se alargando...
PS - O título refere-se à Al Qaeda porque estou convencido de que a ascensão dos Tribunais Islâmicos tem muito que ver com o apoio da organização meta-terrorista. O processo tem aliás inquietantes paralelismos com o que se desenrolou no Afeganistão e levou os taliban ao poder... Mais ainda: estou consciente de que estou a dar um tiro no escuro, mas tenho um
wild guess em como a resposta à questão "onde está Bin Laden?" está intimamente relacionada com a Somália...
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Sexta-feira, 29 de Setembro de 2006
Reprodução na íntegra de uma análise feita na edição de ontem do Público ao relatório da CIA e de outras agências de serviços secretos, o qual diz aquilo que é para todos óbvio - menos para Bush. Pior, diz aquilo que todos sabiam há muito tempo - menos Bush. Pior ainda, diz aquilo que muitos, antes mesmo dos acontecimentos, previram que ia acontecer - muitos, mas não Bush e a sua entourage (alguns deles sabiam-no, mas ou não quiseram ver ou não quiseram falar, para não perder possíveis benefícios futuros...).
Parece mesmo tratar-se - tal como na tese do "choque de civilizações", de que aliás a "guerra ao terrorismo" é instrumental - de mais um caso daquilo a que se chamou self-fulfilling prophecy: ao querer evitar mais terrorismo e insegurança, invade-se, bombardeia-se (nos países errados, já agora), saqueia-se, prende-se, tortura-se, e no fim causa-se mais terrorismo e insegurança do que se nada tivesse sido feito.
Isto é perfeitamente claro para qualquer observador que, em primeiro lugar, seja atento, e que, em segundo lugar, esteja deste lado do Atlântico. Que Bush não o tenha visto só prova, em definitivo, que em primeiro lugar não é - não o pode ser dadas, digamos assim, as suas idiossincrasias intelectuais - um observador atento e que, em segundo lugar, os EUA são um país de História curta que lhes confere uma visão historicamente curta...
O artigo então, para dar mais profundidade a esta minha análise:
"UMA ESTRATÉGIA QUE FALHOU NO COMBATE AO TERRORISMO E ENFRAQUECEU OS EUA
O fracasso da "guerra ao terror" de Bush, assente no uso da força militar, é inseparável
da tentativa de imposição de uma hegemonia indiscutida no Médio Oriente, através da doutrina da "mudança de regime". Hoje, os americanos perderam a iniciativa, enquanto o inimigo Irão surge como o grande beneficiário da sua aventura iraquiana.
Cinco anos depois do lançamento da "guerra ao terror" e, sobretudo, após a invasão do Iraque, o terrorismo parece de boa saúde, os EUA estão atolados em Bagdad, os taliban renascem no Afeganistão, Israel está mais ameaçado, o Irão começou a assumir o papel de potência regional e todo o Ocidente está em risco de ver enfraquecida a sua margem de manobra no mundo e não apenas no Médio Oriente.
1. O relatório das 16 agências de informação traz menos novidade do que parece. A CIA há muito produziu idênticas análises. Em Junho de 2005, constatou que o Iraque se tornara num território de recrutamento e treino para o terrorismo jihadista mais importante que o Afeganistão dos taliban. Antes disso, Samuel Huntington concluíra que "a invasão do Iraque foi vivida pelos muçulmanos como uma guerra contra o islão" e que, nestes termos, "os Estados Unidos vão gerar cada vez mais terroristas". O valor do relatório está na sua "autoridade": os serviços secretos preferem a informação à apologia ideológica.
O texto constata que o jihadismo de influência Al-Qaeda "se desenvolve e adapta aos esforços antiterrorismo" e que os seus grupos aumentam, tanto em termos de número como de dispersão geográfica". "A jihad no Iraque formou uma nova geração de dirigentes e agentes terroristas." É evidente que não foi o Iraque que criou o terrorismo. O que acontece é que a ocupação de Bagdad, em lugar de erradicar o terror, o veio alimentar.
O relatório tem passagens menos negras. "A maior fraqueza dos jihadistas é que o seu objectivo último é impopular para a grande maioria dos muçulmanos." Esse objectivo é criar sociedades fundamentalistas baseadas numa aplicação ultraconservadora da sharia (lei islâmica). O que suscita a interrogação sobre o melhor método de o combater. O modelo europeu terá sido mais eficaz.
O islamólogo francês Gilles Kepel explicou que os movimentos islamistas radicais, do Egipto à Argélia, falharam nos anos 1990 por não conseguirem mobilizar as massas à volta do seu programa. O 11 de Setembro - diz - traduz uma mudança de estratégia por iniciativa da Al-Qaeda, a tentativa de "galvanizar as massas" através de atentados espectaculares, a começar pelo coração da América.
A resposta americana, a "guerra ao terror", privilegiando a acção militar, terá tido "o efeito perverso de mobilizar largas franjas da opinião no mundo árabe e muçulmano contra os EUA, em particular, e o Ocidente em geral". A questão da tortura abalou o que restava do capital moral americano.
2. A "grande estratégia" da Administração Bush, esboçada antes do 11 de Setembro, era ambiciosa e "revolucionária". Aliava duas vertentes. Por um lado, erradicar as causas do terrorismo, o que levará ao projecto do Grande Médio Oriente para democratização e modernização do mundo árabe. Por outro, consolidar a hegemonia americana na região. As duas vertentes eram unidas pela doutrina da "mudança de regime", que tanto ameaçava os aliados sauditas, como os adversários Iraque ou Irão. O acento tónico era posto na força militar, quando ninguém ousava desafiar o poderio americano. Esta mistura vai perder a Administração Bush.
A conquista do Iraque não criou um "modelo virtuoso", tornou-se num desastre de engenharia geopolítica. Quase tudo falhou (para os americanos, não para os iraquianos xiitas e curdos). À desordem, seguiu-se a revolta sunita e a explosão do terrorismo jihadista. Hoje, a questão central é a ameaça de guerra civil. Para se retirarem sem perder a face, os americanos necessitariam de deixar um Iraque estável, já não necessariamente democrático. Uma saída em debandada afundaria a credibilidade da "hiperpotência" por muitos anos e permitiria à Al-Qaeda proclamar vitória.
A guerra no Afeganistão tinha outra lógica e foi apoiada pelos aliados como resposta ao regime que albergava a Al-Qaeda. A progressiva deterioração deve-se em boa medida à obsessão iraquiana de Bush, que depressa esqueceu Cabul. Cinco anos perdidos criaram um terreno de "apodrecimento" e insegurança que os taliban aproveitam para regressar. Antes de militar, o problema é político e económico. Mas, mesmo no plano militar, os EUA não têm já recursos para intervir e a Europa está no limite da sua capacidade. Um fiasco será grave para a NATO.
O evidente e paradoxal vencedor foi o Irão. Os EUA eliminaram os seus dois inimigos: Saddam Hussein e os taliban. O desastre iraquiano permitiu-lhe emergir como potência regional dotada de imenso poder de desestabilização. Acaba de fazer a demonstração no Líbano. Teerão não só resistiu à ameaça americana como surge hoje como uma potência bivalente: capaz de organizar um frente radical antiamericana ou, se os EUA escutarem as suas propostas, ajudarem-nos a sair do Iraque e a estabilizar a região. O seu preço é seguramente alto e o clima não ajuda a um entendimento. No entanto, há dias, Bush disse ao Washington Post coisas insolitamente simpáticas sobre Teerão.
Em suma: para lá do impasse no terrorismo, a estratégia de Bush provocou um desastre político. Os EUA perderam a iniciativa e parecem hoje condenados a reagir aos acontecimentos."
(Por Jorge Almeida Fernandes)
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Segunda-feira, 25 de Setembro de 2006
Habitualmente, a pergunta que todos se faziam era "onde está Bin Laden?". Agora, a pergunta é "como está Bin Laden? vivo ou morto?", desde que, no sábado, o jornal francês L'Est Republicain (jornal da região da Lorraine , o arquivo é de acesso pago) noticiou a sua morte, invocando fontes da Direction générale des services extérieurs DGSE ), os serviços secretos franceses.
Naturalmente, quer a DGSE , quer a CIA quer os próprios serviços secretos sauditas, de onde a notícia originalmente proveio, negam qualquer confirmação da morte do homem mais procurado do mundo. Claro que isto não quer dizer absolutamente nada, porque tal negação ocorreria quer em caso de a notícia ser verdadeira quer não - resta-nos então esperar uma confirmação, ou desmentido...
Seja como for, esta é já a "quarta morte" de Osama bin Laden , pois já por três vezes no passado tinha sido anunciada a sua morte, e sempre desmentida. Será desta? Ou será que, furtivo como um gato que sempre consegue iludir os seus perseguidores, herdou também as suas sete vidas?
De uma forma ou de outra, e excluindo o lado simbólico, de efeitos desconhecidos, a sua morte nada alteraria no actual estado do mundo e da região. É esse o seu legado, como por altura da 5ª efeméride do 11 de Setembro li: o de que a sua organização, a Al Qaeda , sobreviveu à própria Al Qaeda , como sobreviverá à queda do seu líder.
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Sexta-feira, 15 de Setembro de 2006
Vem no Destak de hoje, essa folha de alface que não vale o papel em que é escrito, mas como é grátis todos os portugueses se pelam por ele.
A mulher mais rica do Reino Unido, a autora dos livros de Harry Potter, J.K. Rowling, foi impedida de embarcar num voo de New York com destino a Londres, porque se recusou a separar-se do manuscrito do último livro da saga, que está a escrever, para que este fosse enviado juntamente com a mala. Segundo afirmou a própria, ainda ponderou viajar de navio, mas após acesas discussões com os seguranças do aeroporto de New York, foi autorizada a embarcar com o manuscrito enrolado em elásticos.
De facto, era uma hipótese que não podemos descartar: uma das maiores celebridades britânicas podia ter sido recrutada por uma rede terrorista para explodir o avião! Enrolar o manuscrito em elásticos, claro, faz toda a diferença, assim já não há qualquer hipótese de ela o utilizar como arma para sequestrar o avião - uma resma de folhas de papel, de resto e como todos sabem, é uma arma perigosíssima. Os cortes de papel são terríveis.
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Terça-feira, 12 de Setembro de 2006
Felizmente, porque como alguns dos meus companheiros blogosféricos concordarão fala-se tanto, mas tanto, do acontecimento que se torna insuportável... sobretudo porque não dizem nada de novo, é mesmo só um momento carpideiro. Ontem, num desenfreado em busca de qualquer coisa que me permitisse escapar a esse momento, não consegui encontrar nada que não fosse alusivo à efeméride. Valeu-me no entanto o canal Arte (um dos melhores que existem na TV por cabo - TV Tel, no caso), que passou o filme "11'09'01", que hélas nunca tinha visto - interessava-me sobretudo, e correspondeu ao interesse, o pequeno filme de Sean Penn, em que um senhor já algo idoso e que vive desorientado após a morte da sua mulher, vê de súbito a sua sombria casa, que percebemos no fim ser obscurecida pelas torres do WTC, invadida pela luz enquanto as torres ruem...
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Sexta-feira, 8 de Setembro de 2006
Acerca da pseudo-polémica " da "descoberta" que as FARC estiveram presentes com um stand na Festa do Avante! , muito tenho lido pela blogosfera fora, e muito tenho comentado, mas ainda não tinha escrito nada aqui. Encontre agora um excelente post no Renas e Veados ("
FARC /CIA: Cosmopolitanismo à portuguesa"), que vou citar em parte e fazer um acrescento.
"1) Membros da
FARC terão estado na
festa do Avante!. Festa pública e anual, e tal presença, ao que parece, verifica-se regularmente há vários anos. Tal como de resto a de dezenas de jornalistas que cobrem o evento. Desde 2002 que a União Europeia classificou a FARC como sendo um "grupo terrorista", o PCP discorda da classificação.
2) Aviões da CIA fizeram escala em aeroportos portugueses a caminho de Guantánamo ,
reconheceu finalmente o governo, depois de várias fugas às perguntas. É possível, provável até, que transportassem prisioneiros de guerra para o campo de detenção que os EUA detêm em Cuba. Entretanto o próprio
Bush reconheceu agora a existência de prisões secretas da CIA fora dos EUA - há muito que existia a suspeita de estarem localizadas no Leste Europeu."
Acerca da essência do post , nada tenho a acrescentar, é lê-lo por inteiro. Subscrevo.
E agora o acrescento, pormenor de notícia a que ninguém parece ter dado particular atenção: dos aviões que já se sabe terem feito escala em Portugal, houve um que aterrou em Lisboa, levantou voo para Cascais (Tires ), e aí ficou três dias. Três dias. Nenhuma suspeita se vos levanta? A mim sim...a suspeita de que talvez isto seja mais grave do que simples escalas, e de que talvez as prisões clandestinas da CIA não fossem apenas no Leste da Europa, mas também noutros cantos esquecidos da Europa...
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Quarta-feira, 6 de Setembro de 2006
É este o título, provocador, de um artigo de opinião de Rui Ramos no Público de hoje, de que citarei partes:
"Foi há cinco anos, lembram-se? Fomos então todos americanos, ou pelo menos era assim que se dizia. No princípio do mês passado, em Londres, o slogan da manifestação anti-israelita era outro: We are all Hezbollah now . Estava lá, vi-os desfilar. Não eram os personagens barbudos ou velados que associamos à militância islâmica. Eram o resto persistente do radicalismo estudantil de 1968 (...) Eram os jovens profissionais da guerra à globalização (...)
...nos países ocidentais mais comprometidos na "guerra ao terror", esta transformou-se no principal pretexto de polémica e debate. No Reino Unido (...) é a política para o Médio Oriente que tem servido aos adversários de Blair , à esquerda e à direita, para o isolar e demolir. Até os conservadores passaram a criticar os EUA e Israel, logo que perceberam que era aí que estava o ponto fraco do Governo trabalhista.
Os conservadores britânicos, apesar de tudo, provaram que é possível criticar a Administração americana sem chegar ao "hoje somos todos do Hezbollah ". Por que é que a esquerda contestatária e revolucionária britânica passou essa linha? (...)
Na Grã-Bretanha, uma parte da extrema-esquerda parece tentada a servir-se dos militantes islâmicos como um sucedâneo para as massas revolucionárias que a sociedade ocidental deixou de produzir. Em Londres, nas últimas eleições legislativas, a coligação Respect , de George Galloway , explorou isso: graças ao lastro da votação islamista , os velhos marxistas elegeram um deputado pela primeira vez. Ajudou-os muito, de resto, o facto de a candidata oficial do Partido Trabalhista ser de origem judaica. (...) Aqueles que exigem liberdade de expressão, direito ao aborto e diversidade sexual condenam as sociedades onde há essa liberdade e direitos, e dão a mão a movimentos que condenam tudo isso como pecado e sacrilégio.
Alguns, como Baxter , detectam aqui uma contradição bizarra. (...)
A esse respeito, a história de David Myatt (...) é ilustrativa. Myatt era o líder de uma das mais violentas organizações neonazis britânicas (...) Hoje, Myatt dá pelo nome de Abdul Aziz Ibn Myatt . O neonazi explica a sua conversão, argumentando que o Islão, tal como ele o entende, é hoje a única força capaz de atingir os alvos que, enquanto nazi, já eram os dele: o capitalismo, a democracia e a "corrupção" dos costumes. Myatt convenceu-se que a "nação" e a "raça", na medida em que já não incutem nos indivíduos uma razão para matar e morrer, nem despertam simpatia na sociedade, deixaram de servir para criar uma "situação revolucionária" no Ocidente. (...) Não há aqui qualquer contradição, nem é necessário imaginar filiações espúrias entre os credos. O objectivo, para Myatt , é o mesmo, só os meios mudaram.
Quando veremos gente, à esquerda , a fazer o mesmo (...)? Em França, o velho estalinista Roger Garaudy já abriu o caminho, com a sua conversão ao Islão e um livro a negar o Holocausto. Foi um best-seller quando traduzido em árabe. Para alguns dos cidadãos do Ocidente, dado o ódio que lhes inspira a sociedade em que vivem, faz todo o sentido "ser do Hezbollah "."
Em suma, Maquiavel continua vivo e de boa saúde. Fazendo jus ao adágio de que o inimigo do meu inimigo meu amigo é, haverá sempre gente para quem o fim justifica os meios, quaisquer meios.
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Segundo ouvi ontem nas notícias, o nosso ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Freitas do Amaral (alguém acredita que ele se demitiu mesmo por motivos de saúde?), reconheceu finalmente o que era já um segredo de Polichinelo: que houve de facto voos fretados pela CIA que secretamente aterraram no nosso país para reabastecimento.
Sendo já de si lamentável a autorização para estas pausas técnicas da parte de quem supostamente condenou a guerra no Iraque e a política externa dos EUA, ainda o é mais - embora reveladora de como funciona a realpolitik - a negação veemente de que tais voos tenham sequer acontecido, unicamente para não desagradar ao amo e senhor (o sr. Bush) deste cãozinho rafeiro à beira-mar deitado. É de uma hipocrisia gritante mas, infelizmente e como já referi acima, não consigo sequer indignar-me porque sei que isso de nada serve face a uma realpolitik - a qual concordo que é por vezes necessária - levada ao extremo.
Um efeito positivo teve no entanto a polémica levantada pela revelação destes voos: segundo li ontem no Público (já sabem por que não deixo o link), e depois de isto já ter sido autorizado anteriormente, e devidamente divulgado nos media, "Países europeus recusam paragem para reabastecimento a aviões de carga israelitas" transportando material americano - o tal "material bélico não ofensivo" suponho...
Embora conclua que esta recusa advém unicamente da repercussão que uma eventual autorização teria na opinião pública, e não de qualquer consideração moral ou ética - os motivos errados portanto - o facto em si é sem dúvida positivo. Parece que os militares israelitas se começam a queixar que, sem poder parar para reabastecer na Europa, têm de transportar muito menos material em cada viagem e, por isso, fazer muito mais viagens, com os correspondentes gastos... 'tadinhos...
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Quinta-feira, 17 de Agosto de 2006
Eis algo que na minha demanda por novidades blogosféricas encontrei no Bloguítica:
«[L]et's drop the metaphor of a "war on terrorism". Wars are fought mostly on battlefields between soldiers of opposing countries. Wars have beginnings and ends. None of these characteristics applies here.
(...)
Here's the key point: Terrorism is now part of the fabric of contemporary life.
There is another reason to jettison the martial vocabulary. Terrorism cannot be defeated by arms alone. Indeed, intelligence, police work and diplomacy are likely to play a larger part in any effective policy.
Second, it is essential to distinguish between existing and potential terrorists. Existing terrorists need to be stopped before they act.
But much more can and should be done to persuade young men and women not to become terrorists in the first place.
Terrorism must be stripped of its legitimacy, seen as neither acceptable nor necessary.
(...)
But terrorism also needs to be stripped of its motivation.»
1. «Drop 'war on terror' imagery», por Richard N. Haass (PHILADELPHIA INQUIRER, 15.8.2006).
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