Quarta-feira, 9 de Abril de 2008

Bem vindos ao Turquemenistão

No Público de hoje, uma notícia aparentemente provinda do correspondente deste pasquim no Turquemenistão:

"PND pede estátua de 50 metros a Jardim (...) o PND propõe que no "próximo orçamento regional seja reservada uma verba adequada para esta importante obra de reconhecimento e gratidão". Com 50 metros e fundida em cobre, deverá, segundo a proposta, ser colocada na entrada do porto e "concebida de forma a possuir uma escada interior que permita aos visitantes a subida até à altura da cabeça, de onde poderão observar o Funchal, através dos olhos do seu amado líder". Deverá ainda estar dotada de "um mecanismo propulsor interno que permita que a estátua acompanhe o movimento do sol, como fazem os girassóis", e, do cimo, sair "um forte silvo que simbolize para as gerações vindouras os imortais dotes oratórios" de Jardim."

Só faltou a comparação ao já defunto Saparmurat "Turkmenbashi" Nyazov...
Mas falando a sério, estava à espera que no final a notícia dissesse: "E então ele riu-se descontroladamente".
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Quinta-feira, 3 de Abril de 2008

O PCP e o Tibete: a minha resposta à resposta de Bernardino Soares

  Caro Bernardino Soares

(espero que não estranhes o tutoiement, é a minha norma blogosférica, bem como penso ser a norma comunista)

Obrigado antes de mais pela resposta, que sinceramente não esperava.

Muito folgo que, pelo menos, o PCP manifeste o seu pesar pelas vítimas e apele ao fim da violência e a uma resolução pacífica da questão.

Não sou no entanto ingénuo ao ponto de pensar que não existe manipulação da informação veiculada. Eu frisei isso na minha carta: sei que ela existe, e que existe dos dois lados (na tua resposta só referes a manipulação "ocidental"); tal como sei - porque isso também passou nos media ocidentais - que os protestos iniciais por parte de tibetanos assumiram também contornos violentos. Não estou como é óbvio de acordo com qualquer tipo de violência, possa ela ser justificada ou não, e julgo que o que escrevi antes deixa claro este meu ponto de vista.

Não compreendo no entanto as aspas relativas à "ocupação chinesa há mais de 50 anos". É um facto que a China ocupou o Tibete há cerca de 50 anos. Ou o facto de haver militares chineses e orgãos de soberania chineses, contra a manifesta vontade dos Tibetanos, não é ocupação? E se é verdade que durante a maior parte da sua história o Tibete não foi independente, é igualmente um facto que o foi (pelo menos de facto) no período imediatamente anterior à ocupação chinesa.

O que está em causa, de resto, nem sequer é a questão da independência, pelo que nem sequer faz grande sentido levantá-la. Como bem dizes, os próprios Tibetanos não se opõem à soberania chinesa; opõem-se isso sim à sistemática aniquilação da sua cultura. O que está em causa é o princípio da auto-determinação, tal como o Dalai Lama repetidamente insiste (embora raramente seja ouvido neste aspecto), princípio que aliás está inscrito na Carta das Nações Unidas. Este não equivale necessariamente a independência, apenas, como é aqui o caso, do direito de cada povo a decidir de si próprio - e o Tibete não se importa de ser chinês, desde que isso permita a livre expressão da sua cultura e religião (que também não é tolerada pela China).

Quanto às tuas alegações em relação a feudalismos e formas de escravatura, não deixas de ter razão: são sistemas contrários aos Direitos Humanos. A sua abolição, porém, pode ser efectuada de múltiplas formas, e não exlusivamente pela força da bota chinesa. De resto, este é uma linha argumentativa perigosa: sob ela alicerçaram os Estados Unidos a sua invasão do Iraque, por exemplo, à qual (e bem) o PCP se opôs.

Alegro-me pelo facto de te teres dado ao trabalho de visitar o meu blog. Espero que talvez o visites novamente (não é preciso concordar com um blog para o ler), e até quem sabe deixar comentários, que seráo sempre bem vindos, concordantes ou não comigo. Quanto à questão do Kosovo, é outro assunto em que discordo com a linha adoptada pelo PCP (mais uma vez as antigas fidelidades a ditarem as suas regras...). O meu ponto de honra é a auto-determinação dos povos, não necessariamente dos países. A inviolabilidade das suas fronteiras deve ser sempre que possível adoptada como ponto de partida para a resolução de questões de auto-determinação (casos na Europa não faltam), mas quando tal não é possível há que avançar para alternativas. No Kosovo é patente que seria impossível a manutenção das fronteiras sérvias, com interferências externas, é certo, mas a partir do momento em que sucederam não se pode retirá-las de cena.

A minha nota final é para o teu argumento de que "é evidente que o apoio a movimentos separatistas por parte de potências ocidentais, é um reflexo do avanço de pretensões de ingerência directa e indirecta no território da China.". Elas existem, como é óbvio - não sou ingénuo como te parece decorrer da minha carta - mas também existem por parte da China, por exemplo no Sudão. Chama-se realpolitik. Não gosto dela, seja por parte de quem for - Estados Unidos, China, Rússia, UE - mas existe. Dos dois lados, como tudo nesta questão (em todas as questões).


                Cumprimentos,


                       António Rufino
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O PCP e o Tibete: resposta de Bernardino Soares ao meu mail

O líder parlamentar do PCP, Bernardino Soares, respondeu - e em pessoa, sem recurso a gabinetes ou secretários, o que muito me lisonjeia - ao mail que enviei em relação à posição comunista face à violência no Tibete:

"Caro António Rufino

 

Com todo o respeito pelas opiniões expressas sobre a posição do PCP em relação ao voto sobre os acontecimentos no Tibete, não posso estar de acordo com elas.

 

Penso mesmo que são injustas em relação ao que realmente é a posição do PCP. Envio por isso a intervenção proferida por ocasião desse debate.

 

Desde logo em relação à questão dos Direitos Humanos nela se afirma clara e inequivocamente: “Não está em causa a manifestação de pesar do PCP em relação às vítimas, o seu desejo de que os conflitos tenham uma resolução rápida e pacífica, bem como os seus princípios de defesa da democracia e dos direitos humanos.”.

 

Mas independentemente disso é impossível, ou pelo menos de uma grande ingenuidade, não compreender todo o alcance do que se está a passar.

 

Dizer que há deturpação de informações, como no caso das imagens sistematicamente difundidas como sendo no Tibete, de cargas policiais que afinal eram no Nepal, ou no constante esquecimento de que os protestos na origem dos acontecimentos também foram violentos, não significa negar que existem situações para as quais entendemos dever haver uma solução pacífica, como afirma a nossa intervenção.

 

E não pode significar qualquer dúvida de que o PCP não abdica dos seus princípios de defesa da democracia e liberdade, de que são testemunhos eloquentes a nossa história, o nosso programa e a nossa actividade política diária. São esses que nos responsabilizam. É por esses que respondemos e não por quaisquer outros.

 

Chamo também a atenção para as deturpações históricas sistematicamente feitas sobre a história do Tibete, pense-se o que se pense sobre a sua situação actual ou sobre a China. É o caso das referências à “ocupação chinesa de há mais de 50 anos”, tese sistematicamente repetida e que não tem adesão à realidade. Para além de não se conhecerem quaisquer questionamentos formais à integração da região do Tibete na China, nem sequer das potências que visivelmente ao longo dos anos têm apoiado e até armado movimentos separatistas, a verdade é que o Tibete é uma das regiões da China, com maior ou menor autonomia, desde há 700 anos. O próprio Dalai-Lama não defende a independência do Tibete. Mesmo no período após a revolução popular chinesa essa integração não foi questionada, até pelo próprio Dalai-Lama, que aliás integrou a primeira Assembleia Nacional Popular da China e teve funções de governação no Tibete nesse período.

 

Seria interessante aliás analisar as razões para a divisão que entretanto aconteceu por parte da nobreza e de dirigentes religiosos tibetanos, e a sua ligação com as iniciativas de abolição da servidão e da escravatura vigentes até a essa data naquela região, bem como de um acesso mais justo à terra e aos meios de subsistência.

 

Uma nota final para a questão do respeito pela soberania dos países e dos povos e pelo direito internacional. É que esse princípio está crescentemente ameaçado nos tempos que correm, como bem se verifica na questão do Kosovo (em que verifico que assume no seu blogue como natural o reconhecimento por Portugal da independência deste território), e do Iraque, entre outras. No caso concreto essa é também uma realidade relevante, porque é evidente que o apoio a movimentos separatistas por parte de potências ocidentais, é um reflexo do avanço de pretensões de ingerência directa e indirecta no território da China.

 

Espero com isto ter contribuído para uma melhor compreensão da nossa posição em relação ao voto apresentado.

 

Cumprimentos,

 

Bernardino Soares"

 

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Segunda-feira, 31 de Março de 2008

Mail por mim enviado ao PCP em relação à questão do Tibete

Assunto: Carta de repúdio de um militante à posição do PCP na questão do Tibete


Camaradas,

No final da semana passada, foi votado na Assembleia da República um voto de protesto contra a recente irrupção de violência no Tibete, ao qual o PC foi o único partido a opor-se. Escrevo-vos para vos manifestar a minha veemente discordância e o meu repúdio face à vossa posição.
Independentemente de justificações, espúrias ou não, independentemente de alegados ataques à realização dos Jogos Olímpicos, de teorias da conspiração, de campanhas de desinformação (as quais, camaradas, podem ser alegadas pelos dois campos), o que está em causa é a coragem de assumir a defesa de uma posição mesmo que incómoda, mesmo que contrária a afinidades de outra índole. O que está em causa é não se refugiar em teorias da conspiração para não ter de se assumir algo incómodo: que possíveis afinidades ideológicas ou amizades políticas não podem sobrepor-se, nunca, aos mais básicos e absolutos dos direitos - os Direitos Humanos.
São estes os Direitos que devem valer, e estes, quaisquer que sejam os olhos com que se vejam (desde que se queira ver), foram - e são continuadamente desde a ocupação chinesa há mais de 50 anos - barbaramente violados no Tibete.
Do meu ponto de vista, camaradas, perderam toda a legitimidade moral para protestar e opor-se a tantos casos de ilegais invasões de países terceiros, grosseiras violações do Direito Internacional e violações dos Direitos Humanos por esse mundo fora. A questão do Tibete é-me demasiado clara para poder deixar passar em branco mais esta vossa agressão (não, não é a primeira...) àquilo em que mais profundamente acredito.

Camaradas, perderam com este acto o meu afecto e a minha militância. O meu cartão de militante do PCP, nº 36402, que com orgulho ostentava na minha carteira, foi colocado na gaveta. A minha militância também.
Hei-de continuar a chamar-me, a considerar-me, comunista, pois isso tem a ver com aquilo em que se acredita, e não com a pertença a um grupo ou partido. Hei-de ser para sempre comunista. Não posso, neste momento, continuar a ser e a considerar-me membro do PC.

          Cumprimentos,
      
                António Rufino

PS - Esta carta será também colocada no meu blog, altermundo.blogs.sapo.pt, como parte da minha manifestação de repúdio.
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Sexta-feira, 28 de Março de 2008

Eleitoralismo precoce

Está confirmado oficialmente (como se necessitasse de confirmação): o Governo está já em campanha eleitoral. A descida do IVA de 21 para 20% foi anunciada por Sócrates como um "sinal" - só que, em meu entender, um sinal no sentido errado.
Do ponto de vista económico (algo de que eu entendo um pouco), esta descida até faria sentido se se pretendesse estimular a economia, numa altura em que paira o espectro de uma nova crise de que ainda não se sabe muito bem a natureza, duração ou dimensão. Deste ponto de vista, os agentes económicos receberiam um pequeno estímulo (mais em termos de expectativas que outra coisa, mas estas em Economia contam muito) a não reduzirem a sua actividade. No entanto, o discurso de Sócrates não foi neste sentido, mas antes de o "sinal" ser de que as maiores dificuldades já passaram.
Ora isto é duplamente mentira. Para além de ser nesta altura impossível prever com alguma certeza como evoluirá nos próximos tempos a economia (a portuguesa, a europeia, a americana, a mundial), qualquer economista minimamente sério (e menos engagé politicamente...) dirá que a redução de impostos só faz sentido quando o défice atingir um patamar bastante mais baixo.
Em termos de dificuldade de aplicação, o que o Governo fez até agora - baixar o défice além dos 3% - é o mais simples. Difícil mesmo é baixar mais ainda, para um nível que seja sustentado no longo prazo (pelo menos entre 1,5 e 2%). Este défice de 2,6% pode muito facilmente resvalar para cima, como já tantas vezes aconteceu em Portugal nos últimos tempos, mais ainda pela tentação eleitoralista. Seria preciso baixar mais ainda para se poder com segurança aplicar este tipo de medidas estimuladoras da economia.
Como nem Sócrates nem Teixeira dos Santos levaram o seu discurso por aqui, e apesar de classificarem a decisão como "prudente" (e é-o apenas porque a descida terá efeitos pouco mais que marginais sobre os preços, embora nem tanto sobre as finanças públicas), sobra apenas a explicação maldosa para esta medida...
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Quarta-feira, 12 de Março de 2008

Lição de democracia (mais uma), versão Espanha

O PSOE, como já era esperado, venceu as eleições legislativas em Espanha, com o resultado e margens de vitória mais ou menos antecipadas pela maioria das sondagens divulgadas. Nada de novo ou sequer inesperado aqui a acrescentar ao que anteriormente escrevi sobre a política à espanhola.
O que me chamou mais a atenção nestas eleições, para além de todos os considerandos sobre resultados, vencedores e vencidos, possíveis acordos de governação, etc., foi, tal como já numa anterior ocasião, o nível de participação dos eleitores. 75% dos espanhóis votou. Menos de 25% de abstenção! Comparem com o nível de participação das mais recentes eleições em Portugal, mesmo as mais importantes...
A política espanhola pode ter muitos defeitos, mas os espanhóis sabem o que politicamente querem, e fazem algo por isso - algo tão simples como deslocar-se a uma escola ou outro edifício público a um domingo, fazer uma cruz num quadrado de papel e metê-lo numa caixa fechada. Algo tão simples mas que os portugueses teimam em achar demasiado complicado, demasiado cansativo.
Cada vez que ocorre uma destas eleições a que em Portugal se dá por algum motivo particular atenção (por ser mesmo aqui ao lado, no caso presente) e surgem estes devastadores - na nossa lusa perspectiva - dados de participação eleitoral, recordo e dou cada vez mais razão a certos e saudosos armadilhadores (agora emigrados para outras e distintas paragens): talvez a democracia como sistema político, plena de vícios como já está, não seja o que era, mas o que está em crise, e em crise grave, é a democracia portuguesa.
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Sexta-feira, 7 de Março de 2008

A gigantesca manif de professores de amanhã

Segundo o Público de ontem, prevê-se a participação de 70 mil professores na manif de amanhã, em Lisboa.

Serão setenta mil, em linguagem de professor de Português.
7 x 104, em linguagem de professor de Matemática.
A maior manifestação de professores de sempre, em linguagem de professor de História.
Um súbito aumento da densidade populacional no centro de Lisboa, em linguagem de professor de Geografia.
Sete zero zero zero zero, em linguagem de professor de Informática.
Setenta mil potenciais novos membros do Clube do Stress, em linguagem de professor de Educação Física.
70 mil divergências dialécticas com a ministra, rejeitando o diálogo socrático, em linguagem de professor de Filosofia.

Todos estes vão estar em Lisboa amanhã. Mesmo eu, que confesso que não concordo com a maior parte dos argumentos dos professores, me sinto sensibilizado.
A ministra não pode dizer que uma tão grande manifestação é unicamente fruto da manipulação sindical, ou da resistência à mudança de interesses instalados. Até porque as manifestações espontâneas que têm despontado em todas as capitais de distrito - mesmo que se saiba quem estará por detrás da primeira SMS enviada, a mobilização não deixa de ser espontânea - refutam essa tese.
Não consigo crer que um nível de descontentamento que consegue mobilizar tantos professores seja apenas fruto da defesa de interesses de classe. Há mais do que isso, embora isso também lá esteja. Há a incapacidade da ministra em dialogar, em envolver as partes afectadas no processo de decisão - isso é o abc de um bom gestor, que um ministro tem sempre de ser - e há mudanças que têm de ser feitas, concordo, mas que estão a ser mal feitas - e mudar só por mudar traz mais desvantagens que benefícios.
Por tudo isto, sinto-me sensibilizado, até impressionado com a gigantesca manif de amanhã.
Tamanha multidão manietará José Sócrates, que querendo defender a ministra perderá apoio público, e que mesmo que quisesse atirá-la à pira não o pode fazer, sob pena de perder toda a credibilidade de líder e de passar a estar para o resto da sua carreira de primeiro-ministro refém de todo e qualquer interesse que consiga moblizar gente.
Sócrates parece-me pois encostado à parede nesta questão, e estu curioso para saber como vai sair daqui. Não será com certeza com o risível comício previsto para o Porto na próxima semana, iniciativa que se alguém tivesse o mínimo sentido do ridículo cancelava imediatamente...
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Sexta-feira, 29 de Fevereiro de 2008

O inanismo português em relação ao reconhecimento da independência do Kosovo

Até à data, 12 países da União Europeia já reconheceram formalmente a independência do Kosovo, incluindo os "quatro grandes",  França, Reino Unido, Alemanha e Itália.
Apenas 4 se recusam a reconhecê-la: Chipre, Roménia, Eslováquia e Espanha, todos por motivos óbvios ou claramente enunciados.
Dos restantes países, todos se encontram num de dois grupos: os que já desencadearam os processos de reconhecimento e os que ainda não o fizeram por terem dúvidas em relação a vários pontos, também aqui sempre claramente enunciados.
Todos os países têm portanto uma posição clara em relação ao reconhecimento do Kosovo; todos, à excepção de um: Portugal. O nosso Governo é o único sem uma posição clara pró ou contra a independência, sem que faça saber quando (ou se) irá efectivar o reconhecimento do Kosovo e quais os motivos para o timing (ou para a ausência dele) da decisão.
Isto deixa-me perplexo, porque não há nenhum motivo óbvio para Portugal ter dúvidas em relação ao reconhecimento. Neste tipo de situações, normalmente os nossos Governos optam por não fazer ondas e seguir a maioria, o que faria com que já tivéssemos se não formalmente reconhecido, pelo menos desencadeado o processo ou anunciado quando o iríamos fazer. Ora isso não aconteceu, tal como não aconteceu o inverso - o anúncio do não reconhecimento para já, o que seria aliás incompreensível. No entanto, mais incompreensível ainda é a não-posição portuguesa, o inanismo total, pois não vislumbro qualquer razão válida.
Os únicos argumentos que me ocorreram foram a vizinhança com Espanha e as nossas tropas no Kosovo. Será que o Governo não quer "ofender" o nosso grande hermano? Estará à espera das eleições espanholas, para não prejudicar a renhida disputa de Zapatero? Se for o caso, é de uma subserviência absolutamente indigente - mas da lusa política isto não seria de admirar. Ou será que o Governo tem medo de alguma represália contra os militares portugueses ainda no Kosovo? Isto não faz quanto a mim sentido: os grandes países de UE têm muito mais militares que nós e com uma presença muito mais visível, e nem por isso hesitaram no reconhecimento.
Seja como for, dá-se uma curiosa coincidência de datas: o último contigente português deixará o Kosovo a 7 de Março, sexta-feira; a 9, são as eleições legislativas em Espanha. Se estes meus argumentos (que não subscrevo, muito pelo contrário) fizerem algum sentido, prevejo que a 10 de Março seremos o 13º país da UE a reconhecer o Kosovo...
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Sexta-feira, 1 de Fevereiro de 2008

Bom dia, boa tarde ou boa noite, é conforme

Os Gato Fedorento podem estar em (saudável) pousio, mas isso não impede Ricardo Araújo Pereira, não sei se com a ajuda dos outros gatos, de estar em cima do acontecimento! (até porque consta que tiveram alguma inside information, visível nalguns pormenores do video)
Brilhante como sempre!

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um discurso de Abraracourcix às 17:47
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"Obrigado, pá. Obrigado por tudo."

"Obrigado, pá. Obrigado por tudo." (Sócrates para Correia de Campos durante a cerimónia de pancadas nas costas de adeus ao ex-ministro)
Obrigado por:
  • acabar com a exclusividade de propriedade de farmácias por farmacêuticos, afrontando este poderoso lobby (bom)
  • certificar-se de que a referendada lei do aborto é aplicada em todos os hospitais, incluindo no quintal do sr. Jardim (muito bom)
  • aplicar sistemas de controlo de pontualidade no SNS (bom e relativamente mau)
  • não saber comunicar com os médicos na questão do controlo de pontualidade como noutras questões, fazendo com que os médicos do sector público se sintam parte do problema do SNS e não parte da solução - aumentando assim o sentimento de que talvez trabalhar no privado seja melhor, afinal de contas (mau)
  • reformular a rede de maternidades (bom)
  • não saber comunicar aos portugueses a bondade e necessidade dessa reformulação (mau)
  • reformular a rede de urgências (bom)
  • não saber comunicar aos portugueses a bondade e necessidade dessa reformulação (mau)
  • não se assegurar de que antes do encerramento de qualquer serviço de urgência estava já implementada a alternativa gizada para cobrir a área afectada - e que na maior parte dos casos irá ainda demorar bastante tempo - fazendo com que a população dessa área ficasse desprotegida e se sentisse, mais do que isso, simplesmente abandonada (mau, muito mau)
  • não se aperceber de que numa situação em que as populações de muitas zonas já se sentem - já estão - desprotegidas, era essencial que a rede de resposta a emergências (112, VMER, ambulâncias) funcionasse na perfeição, apenas reagindo a casos surgidos nos media fazendo repentinamente reformular a rede de emergências, em lugar de o fazer em antecipação a problemas que já sabia acontecerem há muito tempo e que devia saber que ao acontecer neste período conturbado teria uma repercussão mediática e pública desmesurada (muito mau)
As notas do ministro neste seu curso de 3 anos foram então, nesta avaliação à la prof. Marcelo: 1 muito bom, 3 bom, 1 suficiente, 3 mau, 2 muito mau. 5 positivas, 5 "negas" - balanço mitigado portanto, fazendo assim perceber por que foi um ministro tão controverso, amado por alguns, odiado por muitos (entre os quais me confesso incluir, como foi patente a todos os que visitaram esta gaulesa aldeia quase desde a sua fundação).
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um discurso de Abraracourcix às 09:24
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Terça-feira, 29 de Janeiro de 2008

Suharto entra no clube Pinochet

O clube Pinochet, dos ditadores sanguinários saídos do poder e mortos sem terem visto a Histõria ajustar contas com eles, tem mais um ilustre membro: Suharto. Digo dele o mesmo que disse de Pinochet: que não descanse em paz.
Disse coisas bem mais eloquentes do que eu conseguiria Helena Matos, no Público de hoje, acerca da relação de Suharto com as potências ocidentais e também acerca do dúbio papel português de que nunca se fala:

"[Foi um ditador conveniente] para vários Estados. Como os EUA, que viam nele um aliado da realpolitik. Para o Vaticano, que não ignorava ser a Indonésia o mais populoso país muçulmano do mundo e que, no meio da crescente radicalização do Islão, se mostrava comparativamente tolerante para com os católicos. Foi-o também para Portugal onde a brutalidade das tropas indonésias nos poupou a maiores explicações sobre o nosso papel naquela tragédia. E para os próprios timorenses cujo calvários às mãos dos indonésios lhes ofuscou as suas próprias responsabilidades nos acontecimentos de 1975, pois quando as tropas indonésias entraram em Timor já a violência e a brutalidade estavam instaladas.
(...)
[Em 1975] Portugal encontrara finalmente o seu ditador conveniente: Suharto. O homem a quem finalmente, numa espécie de frenesi e alívio patrióticos, todos os portugueses podiam odiar e condenar."
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Alvíssaras! alvíssaras! A Besta demitiu-se!

Soube há um par de horas desta notícia bombástica e vim a correr para casa escrever a minha alegria no Altermundo: Correia de Campos, ou a Besta, como era conhecido aqui nesta gaulesa aldeia - com direito a fotografia hiper-realista na barra do blog - demitiu-se! Afinal talvez ainda haja esperança para o Serviço Nacional de Saúde...
Entretanto, aproveitem a foto da Besta (já que será a última vez - espero - que ela será vista por estas bandas) e, num exclusivo Altermundo/Agência Gaulix, o diálogo que precedeu o pedido de demissão do ministro:



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Terça-feira, 22 de Janeiro de 2008

Co-incineração na Arrábida

É uma das minhas obsessões, reconheço, e mesmo agora que se tornou inevitável co-incinerar na cimenteira da Secil no Outão, em pleno Parque Natural da Arrábida, não significa que sinta menos a gravidade do que se passa ali.
Helena Matos no Público de hoje:

"Preservar a Arrábida não é, para o ministro, procurar, dentro da legalidade, pôr fim à actividade da cimenteira SECIL, naquele parque. Nada disso. Defender a Arrábida foi, sim, como se decidiu recentemente, não só prolongar o contrato da SECIL como também escolher precisamente as instalações desta cimenteira naquele parque natural para incinerar lixos, tudo isto devidamente dispensado de estudo de avaliação de impacte ambiental."

Até que enfim alguém concorda comigo!
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Quinta-feira, 17 de Janeiro de 2008

Prémios Personalidade do Ano 2007 - os vencedores

Acabei de fechar a votação para os Prémios Personalidade do Ano 2007.
Os democráticos vencedores deste ano:

Prémio Santana Lopes:
José Sócrates

Prémio Gandhi:
Al Gore


Prémio Bush:
Pervez Musharraf
e Vladimir Putin, ex aequo

Prémio Picasso:
Radiohead


Prémio Pimba:
Isabel Pires de Lima


Prémio Paris-Dakar:
Vanessa Fernandes

Prémio Bimbo da Costa:
Doping
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Terça-feira, 15 de Janeiro de 2008

Contestação de memória curta

"Não há melhor país para um cronista senão Portugal. Numa semana, está prestes a ser implantado um regime fascista. Na outra, já toda a gente se esqueceu disso..."

(Rui Tavares, Público de ontem)
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Os melhores javalis


O chefe viu:
   "Nightwatchers", Peter Greenaway

  

 

   "The Happening", M. Night Shyamalan

  

 

   "Blade Runner" (final cut), Ridley Scott

  


O chefe está a ler:
   "Entre os Dois Palácios", Naguib Mahfouz

O chefe tem ouvido:
   Clap Your Hands Say Yeah, Some Loud Thunder

   Radiohead, In Rainbows
 

por toutatis! que o céu não nos caia em cima da cabeça...

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