Séc. XXI d.C. Todo o mundo foi ocupado por uma globalização selvagem...
Todo? Não! Algures num canto da blogosfera portuguesa, um site povoado por irredutíveis gauleses resiste ainda e sempre ao invasor.
Os Gato Fedorento podem estar em (saudável) pousio, mas isso não impede Ricardo Araújo Pereira, não sei se com a ajuda dos outros gatos, de estar em cima do acontecimento! (até porque consta que tiveram alguma inside information, visível nalguns pormenores do video) Brilhante como sempre!
"Obrigado, pá. Obrigado por tudo." (Sócrates para Correia de Campos durante a cerimónia de pancadas nas costas de adeus ao ex-ministro) Obrigado por:
acabar com a exclusividade de propriedade de farmácias por farmacêuticos, afrontando este poderoso lobby (bom)
certificar-se de que a referendada lei do aborto é aplicada em todos os hospitais, incluindo no quintal do sr. Jardim (muito bom)
aplicar sistemas de controlo de pontualidade no SNS (bom e relativamente mau)
não saber comunicar com os médicos na questão do controlo de pontualidade como noutras questões, fazendo com que os médicos do sector público se sintam parte do problema do SNS e não parte da solução - aumentando assim o sentimento de que talvez trabalhar no privado seja melhor, afinal de contas (mau)
reformular a rede de maternidades (bom)
não saber comunicar aos portugueses a bondade e necessidade dessa reformulação (mau)
reformular a rede de urgências (bom)
não saber comunicar aos portugueses a bondade e necessidade dessa reformulação (mau)
não se assegurar de que antes do encerramento de qualquer serviço de urgência estava já implementada a alternativa gizada para cobrir a área afectada - e que na maior parte dos casos irá ainda demorar bastante tempo - fazendo com que a população dessa área ficasse desprotegida e se sentisse, mais do que isso, simplesmente abandonada (mau, muito mau)
não se aperceber de que numa situação em que as populações de muitas zonas já se sentem - já estão - desprotegidas, era essencial que a rede de resposta a emergências (112, VMER, ambulâncias) funcionasse na perfeição, apenas reagindo a casos surgidos nos media fazendo repentinamente reformular a rede de emergências, em lugar de o fazer em antecipação a problemas que já sabia acontecerem há muito tempo e que devia saber que ao acontecer neste período conturbado teria uma repercussão mediática e pública desmesurada (muito mau)
As notas do ministro neste seu curso de 3 anos foram então, nesta avaliação à la prof. Marcelo: 1 muito bom, 3 bom, 1 suficiente, 3 mau, 2 muito mau. 5 positivas, 5 "negas" - balanço mitigado portanto, fazendo assim perceber por que foi um ministro tão controverso, amado por alguns, odiado por muitos (entre os quais me confesso incluir, como foi patente a todos os que visitaram esta gaulesa aldeia quase desde a sua fundação).
Soube há um par de horas desta notícia bombástica e vim a correr para casa escrever a minha alegria no Altermundo: Correia de Campos, ou a Besta, como era conhecido aqui nesta gaulesa aldeia - com direito a fotografia hiper-realista na barra do blog - demitiu-se! Afinal talvez ainda haja esperança para o Serviço Nacional de Saúde... Entretanto, aproveitem a foto da Besta (já que será a última vez - espero - que ela será vista por estas bandas) e, num exclusivo Altermundo/Agência Gaulix, o diálogo que precedeu o pedido de demissão do ministro:
"Não há melhor país para um cronista senão Portugal. Numa semana, está prestes a ser implantado um regime fascista. Na outra, já toda a gente se esqueceu disso..."
Nas minhas deambulações urbanas pelo Porto, tenho verificado que todos os cafés, restaurantes, etc., desta cidade optaram pela proibição total de fumar. Foi já irritado com isto que descobri duas excepções: o restaurante Shakesbeer e o shopping Parque Nascente, que intoduziram espaços para fumadores. Decidi então adicionar à barra direita do Altermundo, para condizer com o novo autocolante azul deste liberal espaço, uma lista de locais onde seja permitido fumar. Conto para isso com a vossa ajuda, ilustres e irredutíveis gauleses leitores deste blog, dizendo-me locais - centros comerciais, restaurantes, bares, tascas, qualquer lúgubre tugúrio deste nosso paternal rectângulo - onde saibam que também é permitido fumar.
PS - apelo já agora ao voto nas belas sondagens (pelo menos acho que as cores são bonitas!) que coloquei aqui e onde ainda ninguém participou.
Primeiro dia da era d.f., ou seja, depois do fascismo. Sinto-me estranho hoje. Sinto olhos cravados nas minhas costas. Sinto-me observado por silenciosos vigilantes, zelando para que me mantenha parte da secção "saudável" da população. Sinto que vivo num país que se tornou hoje definitivamente paranóico e fascizante. Sinto que o big brother está nas ruas e que me espia em cada esquina. Sinto que, com 24 anos de atraso, George Orwell tinha razão.
Deixo para os próximos dias um post de fundo sobre esta questão. Para já, deixo apenas um apelo a quem se sinta tão incomodado como eu com esta lei, fumador ou não, pouco importa:
sempre que entrem num sítio onde passou a ser proibido fumar (centros comerciais, restaurantes, cafés, hotéis), façam de conta que estão a fumar, tenham sempre um cigarro nos lábios ou nos dedos
É um acto de protesto inútil, eu sei, mas já fiz isto hoje e sabe muito bem quando um segurança se dirige a nós ou quando ouvimos comentários maldosos nas nossas costas. Não serve para mais nada, mas trará ao menos um sorriso aos lábios e sossega a nossa alma atormentada pelo definitivo estabelecimento de uma sociedade fascista, paranóica, abjectamente paternalista.
Hoje, o pequeno fascista que vive ainda e sempre dentro de cada português rejubila, sente vibrar dentro de si a pulsão da salazarista delação.
Como seria de esperar, Sarkozy venceu, e por larga margem. A participação voltou a exceder os 85%, dando ao resto da Europa - refiro-me acima de tudo a Portugal, cujos políticos deviam enfiar esta carapuça - uma nova lição de democracia. Dando continuação ao discurso assertivo do período de campanha, ao fazer a declaração de vitória Sarko mostrou já ao que vinha: sossegou os Estados Unidos, prometeu unir em vez de dividir a França (numa clara demarcação da retórica de Chirac, que prometeu fazer face à "fractura social" quando foi eleito e nada fez a este respeito, antes pelo contrário, agravou-a e muito), declarou que a França seria um "farol de liberdade" para os oprimidos de todo o mundo (uma nota algo americanista e soberanista e por isso muito à la de Gaulle). Uma nota especial para a primeira proposta surpreendente do futuro presidente francês, que prometeu ainda ir ter em especial atenção os países da bacia mediterrânica e disse pretender criar uma comunidade do Mediterrâneo. Eis algo que fará Sócrates sorrir e aplaudir fortemente - e até eu estou por uma vez de acordo com ambos. O auxílio - económico, político - é a melhor forma de os países da orla meridional do "mar interior" da Europa se desenvolverem e, por essa via, debelarem problemas que são também preocupantemente europeus, como os diversos tráficos (droga, armas, pessoas...) e acima de tudo as gigantescas ondas de imigração ilegal. Já que desconfio que não proporei isto muitas vezes, aqui fica: um forte aplauso para esta proposta de Sarkozy! (que não para o resto do seu discurso-robocop...)
"(...) É mais fácil, no entanto, optar pela versão "cornos e cauda". Ver o diabo naqueles que não compreendemos nem queremos compreender e dar-lhes combate. A história está cheia desses exemplos, a começar na velha caricatura do forasteiro que mata o indígena só porque este avançou para abraçá-lo. Outra história, ainda com o humor de [Amos] Oz: inquirido sobre qual a fé verdadeira (judaica, católica, protestante, muçulmana), Deus responde: "Para te dizer a verdade, meu filho, não sou religioso, nunca fui, nem sequer estou interessado na religião". Os humanos, pelo contrário, até matam por ela."
(excerto do artigo de opinião de Nuno Pacheco, no Público de ontem, a propósito da oferta, com a edição de hoje do jornal, de um livro de Amos Oz com três textos de opinião sobre o conflito israelo-palestiniano)
Ontem tive o meu primeiro contacto directo com uma loja de comércio justo, algo que há muito procurava - infelizmente só agora descobri a localização das lojas (já há duas) no Porto. Imbuído desde logo do espírito de justiça social e económica do conceito, coloquei já na barra direita dois links para associações que promovem o comércio justo em Lisboa e Porto, a Cores do Globo e a Reviravolta. Para quem não esteja familiarizado, o comércio justo é definido como «uma parceria entre produtores e consumidores que trabalham para ultrapassar as dificuldades enfrentadas pelos primeiros, para aumentar o seu acesso ao mercado e para promover o processo de desenvolvimento sustentado.
O Comércio Justo procura criar os meios e oportunidades para melhorar as condições de vida e de trabalho dos produtores, especialmente os pequenos produtores desfavorecidos. A sua missão é a de promover a equidade social, a protecção do ambiente e a segurança económica através do comércio e da promoção de campanhas de consciencialização».
Alguns dos seus princípios fundamentais são (retirado da wikipedia):
A preocupação e o respeito pelas pessoas e pelo ambiente, colocando as pessoas acima do lucro;
A criação de meios e oportunidades para os produtores melhorarem as suas condições de vida e de trabalho, incluindo o pagamento de um preço justo (um preço que cubra os custos de um rendimento aceitável, da protecção ambiental e da segurança económica);
Abertura e transparência quanto à estrutura das organizações e todos os aspectos da sua actividade, e informação mútua entre todos os intervenientes na cadeia comercial sobre os seus produtos e métodos de comercialização;
Envolvimento dos produtores, voluntários e empregados nas tomadas de decisão que os afectam;
A protecção dos direitos humanos, nomeadamente os das mulheres, das crianças e dos povos indígenas;
A consciencialização para a situação das mulheres e dos homens enquanto produtores e comerciantes, e a promoção da igualdade de oportunidades;
A promoção da sustentabilidade através do estabelecimento de relações comerciais estáveis de longo prazo;
A educação e a participação em campanhas de sensibilização;
A produção tão completa quanto possível dos produtos comercializados no país de origem.
Como pessoa atenta aos mecanismos económicos (pela minha formação) e como chefe de aldeia altermundialista (cujo lema é precisamente o mesmo do comércio justo, "por um mundo melhor"), não podia deixar de divulgar este interessantíssimo - mais do que simples ideia - princípio norteador de um consumo responsável, ideias simples que todos podemos e devemos seguir, lojas também elas simples mas merecedoras pelo menos de uma visita.
Como já de alguma forma se antecipava há algum tempo, Salazar venceu a votação do Maior Português de Sempre, gongoricamente promovida pela RTP desde há largos meses. Conheço quem tenha entrado em choque com o resultado. Conheço quem se recuse a acreditar que 82.000 portugueses (41% dos 200.000 que foi dito terem votado) genuinamente pensem que Salazar é o maior português da nossa História de quase 900 anos. Conheço quem faça planos de emigrar para Espanha, ou para outro qualquer sítio onde um ditadorzeco não seja o maior do sítio. Como conheço quem, não concordando, aplauda a escolha, por ser a manifestação de um descontentamento, um mal-estar, uma malaise indefinida - um spleen, à maneira dos absínticos escritores do séc. XIX - que perpassa e afecta o mais profundo da sociedade portuguesa. Aplausos espúrios, penso eu. Se por um lado gosto do facto de a escolha permitir abrir o armário dos esqueletos onde durante tempo se escondeu, como tabu, tudo o que se referia ao Estado Novo, à ditadura, a Salazar (ainda hoje é difícil pronunciar este nome sem tremer, qual Voldemort português, "aquele cujo nome não se pode pronunciar"), e reconheça que se trata, apenas e só, de um programa de entretenimento que teve muitos defeitos mas a virtude de fazer com que se fale do que não é normalmente falado, por outro há algo que brota do mais profundo de mim, do lugar mais recôndito da minha consciência, lá onde se aloja tudo o que faz de mim aquilo que sou, algo que recusa, que não pode aceitar uma escolha destas. Mesmo admitindo - e até certo ponto concordando - uma necessidade de protesto pelo estado a que isto chegou (o recurso a uma certa citação de há 33 anos é propositado), mesmo partilhando do tal mal-estar geral, mesmo sentindo também eu, e muito, o tal spleen, não posso aceitar que essa necessidade de protesto gere um voto maciço num ditador que representa tanto daquilo que não se quer. É dizer que estamos mal, e que queremos mudar, mas em vez de ansiarmos por algo melhor, ansiarmos a voltar ao estado anterior, que nos esquecemos, ou queremos esquecer, que era pior. Sim, estamos mal. Sim, é preciso mudar o estado a que isto chegou. Mas antes estávamos pior, e acho fantástica a dimensão do aspecto selectivo da memória. A memória colectiva é curta, sem dúvida, e muito, demasiado selectiva. Para além disto, há o aspecto, também focado por alguns dos comentadores e defensores das personagens do top 10 abordadas no derradeiro programa, da falta de cultura da população portuguesa, da falta de qualidade do ensino em Portugal. Eu, que me considero bastante mais culto que a média, nunca falei de Salazar, do Estado Novo, do 25 de Abril na escola. Tudo o que sei devo-o aos meus pais e ao meu voraz apetite por aprender. Ora a maior parte dos portugueses que nasceram depois de 1974, e sobretudo a esmagadora maioria dos que participam em votações como a dos Maiores Portugueses, não beneficia destes aspectos. Para estes, Salazar é um personagem como outro qualquer, sem nenhum carácter particularmente malévolo ou indesejável. Se lhes dizem que havia alguém que "punha ordem na barraca", olhando para o actual estado das coisas e da nossa democracia essas pessoas sentem-se atraídas por esse personagem e votam nele. Ao mesmo tempo, também se tornam mais permeáveis à manipulação e à persuasão daqueles que genuinamente acreditam e promovem Salazar, o Estado Novo, o "nacionalismo", e de caminho (esta é a parte que ocultam, ou tentam ocultar, para assim melhor convencer) a xenofobia, a intolerância, o repúdio pelos valores democráticos. São esses, os PNR, FN e afins que promoveram o voto em Salazar, e com estes argumentos o conseguiram alcandorar a "Maior Português de Sempre" - com aspas, muitas aspas... (prefiro destacar que, facto referido ao de leve no programa, uma sondagem "verdadeira" - isto é, cientificamente preparada - resultou na escolha de D. Afonso Henriques como favorito dos portugueses, uma escolha bem mais consensual, como seria D. João II, ou o Infante D. Henrique, ou Camões). O que é particularmente grave, em relação a esta promoção do voto em Salazar, é verificarmos que idêntica promoção por parte de um grupo legalmente organizado e com muitos milhares de simpatizantes - o PCP - só resultou em 19% de votos para Cunhal... Ou seja, e sendo a capacidade de organização dos "salazarentos", adjectivemo-los assim para conveniência, bem menor que a do PCP, ou a sua capacidade de persuasão é extraordinarimente boa, ou há muita gente por aí pronta a ser persuadida... Nesta perspectiva o sucesso na escolha de Salazar é o sinal mais alarmante até agora do rumo que as coisas estão a tomar, e do que não está a ser feito, por incapacidade ou, pior, por falta de vontade, para contrariar esse rumo.
(este post tem o alto patrocínio de Sua Diabolidade Bento XVI)
O Papa Bento XVI acabou de publicar uma exortação apostólica (traduzindo para português laico, é uma espécie de documento com linhas de orientação), Sacramentum Caritatis (tradução para português não recomendada, como se verá adiante), onde faz diversas recomendações que, estou certo, finalmente porão a Igreja no caminho certo. Assim, sugere-se "não admitir aos sacramentos os divorciados recasados, porque o seu estado e condição de vida contradizem objectivamente aquela união de amor entre Cristo e a Igreja". Partindo do princípio de que todos os padres serão terão a divina iluminação de distinguir, de entre todos os seus fiéis, aqueles que estão nesta condição, isto não pode deixar de ser visto como um grande passo em frente: afinal, as igrejas são locais de meditação e oração, onde o silêncio deve imperar, e missas com mais de vinte fiéis perturbam esse ideal silêncio. Por isso, quanto menos pessoas, melhor será a celebração. Aliás, suspeito que em próximas recomendações o Papa também excluirá da eucaristia todos os que não tiverem efectuado a primeira comunhão e o crisma, etc. Na sequência de tal salutar diminuição de frequentadores das missas, outros grupos se perfilam para serem liminarmente excluidos:
quem tenha abortado (como em Portugal já sabemos desde a campanha para o referendo);
quem nunca tenha feito peregrinação a Fátima ou a Santiago (a pé, claro);
quem não cumpra rigorosamente os 40 dias de jejum da Quaresma;
quem tenha relações sexuais com fins (cruz credo) de mero prazer libidinoso e egoísta, sem tentar a reprodução;
quem utilize métodos contraceptivos, esses artefactos do demo;
quem não tome a iniciativa de chamar Bento a pelo menos um dos seus filhos;
claro que dos homossexuais(eze) nem se fala...
Quando todas estas directivas estiverem em vigor, a missa poderá então ser uma ocasião de celebração perfeita, em que o sacerdote terá todas as condições para que as belas palavras eucarísticas ecoem no silêncio, para que possa contemplar a sua bela igreja vazia e comungar sozinho.
Mas Sua Diabolidade vai mais longe, e num rasgo de ousadia, aconselha aos sacerdotes um maior uso do latim e do canto gregoriano. Se do canto gregoriano não é preciso frisar a enorme popularidade (basta ver os milhares de discos vendidos de qualquer álbum edição de cantos gregorianos), já a maior utilização do latim é o necessário passo avant garde para colocar a missa em linha com a arte pós-moderna. Eu aqui no Altermundo associo-me desde já a este moderno desígnio, pelo que o resto do post será escrito em latim:
Tandem vaticanus habeo audentia et expedio intro semita rectus, semita Ecclesia sine fidelia (tantum impedimentum, ut videor), et vivere per siglo rectus, siglo qui vivemus, nimirum, siglo XVI.
Perceberam alguma coisa? Não?!? Pois bem, também não perceberão as missas, como ninguém perceberá. Mas como os católicos adoram ficar uma hora num sítio a ouvir alguém falar uma língua morta de que não entendem nada, continuarão entusiasticamente a ir à missa, e até a obrigar os seus filhos que querem tirar direito - afinal, que melhor forma de aprender o b-a-ba do ramo? O futuro da Igreja, o milagre da multiplicação dos fiéis, está pois assegurado.
(para os leigos que não percebem latim - como eu, que só consegui escrever umas míseras palavras à custa de muito suor e do Internet Dictionary Project, o único que encontrei com tradução online para latim - e que portanto não poderão frequentar a igreja, a tradução do que escrevi acima: Finalmente o Vaticano tem a coragem e a lucidez de caminhar no rumo certo, o de uma Igreja sem fiéis (só atrapalham, como vimos), e de viver no século certo, aquele em que vivemos, obviamente, o séc. XVI.)
...de uma homofobia demasiado gritada - demasiado capa protectora (e sobre isto tanto haveria a dizer), ousaria dizer. A verdade é que o desporto ainda é encarado como um reduto másculo em que a homossexualidade é estereotipada como ameaça, como anti-masculinidade. Por isso mesmo, actos de coragem como o que retirei do caderno P2 do Público são importantes, pedradas no charco que tentam desmontar esse estereotipo e mostrar que a homossexualidade nada tem de anti-másculo, aliás nada tem de anti-nada - nem é mais masculina nem mais feminina; é, apenas, diferente.
"John Ameochi decidiu sair do armário"
"Acabaram-se os rumores. O antigo jogador da NBA assumiu a sua homossexualidade. Na biografia Man in the Middle, o britânico de ascendência nigeriana veio causar um abalo no mundo masculino do desporto profissional nos Estados Unidos. "Um mundo homofóbico", acusa. (...) "Os balneários da NBA são a coisa mais extravagante que já vi na vida. Homens a exibirem os seus corpos perfeitos. A vangloriarem-se das suas façanhas sexuais. A enfeitarem-se em frente ao espelho, cheios de água de colónia e a porem carradas de gel no cabelo. Experimentam os seus fatos de 10 mil dólares cada um, admiram os seus anéis e fios. Não podia deixar de pensar: "E eu é que sou o gay"".
Este não é o tipo de assunto sobre o qual gosto de falar. Não gosto de me pronunciar sobre algo em que não tenho todos os factos, e todos os que tenho, para um lado ou para o outro, são parciais. No entanto, a Hopes & Dreams apresenta, a propósito do já celebérrimo "caso da criança de Torres Novas", um interessante ponto de vista, que merece reflexão e que subscrevo completamente: até que ponto é legítimo da nossa parte acusar uma ou a outra parte? Até que ponto é legítimo tomarmos partido por uma ou a outra parte? Porque não existe preto nem branco neste caso, como não existe em tudo o que mexe com as personalidades e os actos dos homens - há apenas uma infinita escala de cinzentos.
"Partindo de uma ideia absurda - um actor judeu recrutado num campo de concentração como conselheiro pessoal de retórica de Adolf Hitler -, o cineasta judeu Dani Levy construiu um filme subversivo, cheio de non-sense, que retrata o ditador como impotente, farmacodependente, cobarde e incapaz de ultrapassar os maus tratos infligidos pelo pai na infância. Ainda antes de o filme estrear na Alemanha, esta semana, a discussão é controversa: pode-se rir sobre Hitler? Não se banaliza a morte de milhões de pessoas? Hitler brinca na banheira com um barquinho de guerra, molha a cama, esconde os medicamentos no seu globo terrestre gigante, tem uma disfunção eréctil e quer vingar-se do mundo devido às tareias que recebeu do severo pai. Esta quinta-feira, chega às salas de cinema alemãs a comédia Mein Führer: Die Wirklich Wahrste Wahrheit über Adolf Hitler (numa tradução livre, Meu Líder: Verdadeiramente a Verdade mais Verdadeira sobre Adolf Hitler) do realizador suíço judeu Dani Levy, rodeada de polémica."
(Público de hoje)
A este propósito, aqui fica um video que encontrei no You Tube, a conselho do artigo do Público citado. Para rir, mesmo...
Pode-se então rir sobre Hitler? A minha resposta é: sim, claro que sim, ainda bem que sim.