Sexta-feira, 29 de Setembro de 2006

Cartoon da semana

Abraracourcix o chefe falou sobre: ,
um discurso de Abraracourcix às 15:14
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Relatório da CIA - o que já todos sabiam menos Bush

Reprodução na íntegra de uma análise feita na edição de ontem do Público ao relatório da CIA e de outras agências de serviços secretos, o qual diz aquilo que é para todos óbvio - menos para Bush. Pior, diz aquilo que todos sabiam há muito tempo - menos Bush. Pior ainda, diz aquilo que muitos, antes mesmo dos acontecimentos, previram que ia acontecer - muitos, mas não Bush e a sua entourage (alguns deles sabiam-no, mas ou não quiseram ver ou não quiseram falar, para não perder possíveis benefícios futuros...).
Parece mesmo tratar-se - tal como na tese do "choque de civilizações", de que aliás a "guerra ao terrorismo" é instrumental - de mais um caso daquilo a que se chamou self-fulfilling prophecy: ao querer evitar mais terrorismo e insegurança, invade-se, bombardeia-se (nos países errados, já agora), saqueia-se, prende-se, tortura-se, e no fim causa-se mais terrorismo e insegurança do que se nada tivesse sido feito.
Isto é perfeitamente claro para qualquer observador que, em primeiro lugar, seja atento, e que, em segundo lugar, esteja deste lado do Atlântico. Que Bush não o tenha visto só prova, em definitivo, que em primeiro lugar não é - não o pode ser dadas, digamos assim, as suas idiossincrasias intelectuais - um observador atento e que, em segundo lugar, os EUA são um país de História curta que lhes confere uma visão historicamente curta...

O artigo então, para dar mais profundidade a esta minha análise:

"UMA ESTRATÉGIA QUE FALHOU NO COMBATE AO TERRORISMO E ENFRAQUECEU OS EUA

O fracasso da "guerra ao terror" de Bush, assente no uso da força militar, é inseparável
da tentativa de imposição de uma hegemonia indiscutida no Médio Oriente, através da doutrina da "mudança de regime". Hoje, os americanos perderam a iniciativa, enquanto o inimigo Irão surge como o grande beneficiário da sua aventura iraquiana.
Cinco anos depois do lançamento da "guerra ao terror" e, sobretudo, após a invasão do Iraque, o terrorismo parece de boa saúde, os EUA estão atolados em Bagdad, os taliban renascem no Afeganistão, Israel está mais ameaçado, o Irão começou a assumir o papel de potência regional e todo o Ocidente está em risco de ver enfraquecida a sua margem de manobra no mundo e não apenas no Médio Oriente.

1. O relatório das 16 agências de informação traz menos novidade do que parece. A CIA há muito produziu idênticas análises. Em Junho de 2005, constatou que o Iraque se tornara num território de recrutamento e treino para o terrorismo jihadista mais importante que o Afeganistão dos taliban. Antes disso, Samuel Huntington concluíra que "a invasão do Iraque foi vivida pelos muçulmanos como uma guerra contra o islão" e que, nestes termos, "os Estados Unidos vão gerar cada vez mais terroristas". O valor do relatório está na sua "autoridade": os serviços secretos preferem a informação à apologia ideológica.
O texto constata que o jihadismo de influência Al-Qaeda "se desenvolve e adapta aos esforços antiterrorismo" e que os seus grupos aumentam, tanto em termos de número como de dispersão geográfica". "A jihad no Iraque formou uma nova geração de dirigentes e agentes terroristas." É evidente que não foi o Iraque que criou o terrorismo. O que acontece é que a ocupação de Bagdad, em lugar de erradicar o terror, o veio alimentar.
O relatório tem passagens menos negras. "A maior fraqueza dos jihadistas é que o seu objectivo último é impopular para a grande maioria dos muçulmanos." Esse objectivo é criar sociedades fundamentalistas baseadas numa aplicação ultraconservadora da sharia (lei islâmica). O que suscita a interrogação sobre o melhor método de o combater. O modelo europeu terá sido mais eficaz.
O islamólogo francês Gilles Kepel explicou que os movimentos islamistas radicais, do Egipto à Argélia, falharam nos anos 1990 por não conseguirem mobilizar as massas à volta do seu programa. O 11 de Setembro - diz - traduz uma mudança de estratégia por iniciativa da Al-Qaeda, a tentativa de "galvanizar as massas" através de atentados espectaculares, a começar pelo coração da América.
A resposta americana, a "guerra ao terror", privilegiando a acção militar, terá tido "o efeito perverso de mobilizar largas franjas da opinião no mundo árabe e muçulmano contra os EUA, em particular, e o Ocidente em geral". A questão da tortura abalou o que restava do capital moral americano.

2. A "grande estratégia" da Administração Bush, esboçada antes do 11 de Setembro, era ambiciosa e "revolucionária". Aliava duas vertentes. Por um lado, erradicar as causas do terrorismo, o que levará ao projecto do Grande Médio Oriente para democratização e modernização do mundo árabe. Por outro, consolidar a hegemonia americana na região. As duas vertentes eram unidas pela doutrina da "mudança de regime", que tanto ameaçava os aliados sauditas, como os adversários Iraque ou Irão. O acento tónico era posto na força militar, quando ninguém ousava desafiar o poderio americano. Esta mistura vai perder a Administração Bush.
A conquista do Iraque não criou um "modelo virtuoso", tornou-se num desastre de engenharia geopolítica. Quase tudo falhou (para os americanos, não para os iraquianos xiitas e curdos). À desordem, seguiu-se a revolta sunita e a explosão do terrorismo jihadista. Hoje, a questão central é a ameaça de guerra civil. Para se retirarem sem perder a face, os americanos necessitariam de deixar um Iraque estável, já não necessariamente democrático. Uma saída em debandada afundaria a credibilidade da "hiperpotência" por muitos anos e permitiria à Al-Qaeda proclamar vitória.
A guerra no Afeganistão tinha outra lógica e foi apoiada pelos aliados como resposta ao regime que albergava a Al-Qaeda. A progressiva deterioração deve-se em boa medida à obsessão iraquiana de Bush, que depressa esqueceu Cabul. Cinco anos perdidos criaram um terreno de "apodrecimento" e insegurança que os taliban aproveitam para regressar. Antes de militar, o problema é político e económico. Mas, mesmo no plano militar, os EUA não têm já recursos para intervir e a Europa está no limite da sua capacidade. Um fiasco será grave para a NATO.
O evidente e paradoxal vencedor foi o Irão. Os EUA eliminaram os seus dois inimigos: Saddam Hussein e os taliban. O desastre iraquiano permitiu-lhe emergir como potência regional dotada de imenso poder de desestabilização. Acaba de fazer a demonstração no Líbano. Teerão não só resistiu à ameaça americana como surge hoje como uma potência bivalente: capaz de organizar um frente radical antiamericana ou, se os EUA escutarem as suas propostas, ajudarem-nos a sair do Iraque e a estabilizar a região. O seu preço é seguramente alto e o clima não ajuda a um entendimento. No entanto, há dias, Bush disse ao Washington Post coisas insolitamente simpáticas sobre Teerão.
Em suma: para lá do impasse no terrorismo, a estratégia de Bush provocou um desastre político. Os EUA perderam a iniciativa e parecem hoje condenados a reagir aos acontecimentos."
(Por Jorge Almeida Fernandes)
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Quinta-feira, 28 de Setembro de 2006

Viva a OPA da Sonae, viva o capitalismo desenfreado!

Como se previa já há muito tempo a Autoridade da Concorrência (AdC) não foi imune às vontades de quem a nomeou, o Governo, e aprovou a OPA da Sonae sobre a Portugal Telecom (PT). Paulo Azevedo bem protesta que os chamados "remédios" prescritos pelo dr. Abel Mateus são demasiado pesados para a patologia a erradicar, mas não evita a impressão de apenas fazer semblante de estar contrariado.
Devo dizer que sempre fiz figas para a que a OPA tivesse sucesso, porque a PT é provavelmente a empresa portuguesa que mais detesto, e de certeza das mais mal geridas. Sempre foi um elefante numa loja de porcelanas que demora uma eternidade a fazer seja o que for, seja decisões de gestão, reagir face à concorrência ou simplesmente responder ou resolver problemas aos clientes...
A Sonae, pelo contrário (e já sei que vou ser impiedosamente espancado pelo Pedro Silva, que discordará em absoluto do que estou a dizer), é uma das empresas portuguesas que mais enfoque coloca na satisfação do cliente como forma de sucesso nos seus negócios, para além de ter uma gestão bastante eficiente.
É claro que como pessoa atenta e que pensa, não deixei de me preocupar com os problemas levantados pela OPA em matéria de concorrência. Aplaudo a OPA e faço votos para que seja bem sucedida, sim, mas não às custas de qualquer perda de concorrência nos mercados em que a Sonae e a PT actuam.
Na rede fixa, o que sempre foi dito pela Sonae (alienação ou da rede de cobre - telefones fixos - ou de cabo - TV Cabo, internet) desde logo assegurou que esse nível de concorrência não só seria mantido mas seria reforçado, e aqui nunca tive qualquer reticência.
No que toca aos telemóveis, parece-me no entanto incrível, absurdo até, que não se veja qualquer problema de concorrência numa operação que faz o número de operadores passar de três para dois e em que um dos dois a fundir já é, no quadro a três, o operador dominante  - pior o será, obviamente, no quadro a dois. E os "remédios" preconizados - a abertura a operadores virtuais de telecomunicações e a um putativo futuro novo terceiro operador  - são apenas areia para os olhos dos desinformados (quase todos infelizmente)...
Resumindo, eu era - e sou - a favor de uma OPA em que uma das redes fixas seja alienada e em que não fosse permitida a fusão Optimus/TMN, e se fosse líder da AdC era o que decidiria. Claro que isto inviabilizaria a própria operação, dado Paulo Azevedo sempre ter dito que era condição sine qua non do registo definitivo da OPA... mas isso não é matéria que devesse preocupar uma AdC verdadeira e genuinamente independente.
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Uma convocatória esquisita de Scolari - mais uma...

Notícia retirada do Record: (os destaques são meus)

"Scolari divulgou a lista de convocados para a dupla jornada com Azerbaijão (7 de Outubro em Lisboa) e Polónia (11 de Outubro em Chorzow). José António é a grande novidade. Destaque também para os regressos de Miguel e Maniche e para a chamada do jovem do PSV Manuel da Costa (integra a convocatória para ser observado, pelo que não vai jogar). Saem das opções do seleccionador nacional, Boa Morte, Ricardo Costa, Ricardo Quaresma, João Moutinho e Carlos Martins.
Manuel da Costa aproveita o estágio da Selecção "A" para preparar a integração na Selecção "Sub-21". Esta estratégia foi acordada entre Scolari e José Couceiro pelo facto de o jovem do PSV estar suspenso para o jogo da primeira mão do playoff de qualificação para o Euro'2007, que se disputa na Rússia, a 8 de Outubro.

Lista de convocados:

Guarda-redes: Quim (Benfica) e Ricardo (Sporting).
Defesas: Fernando Meira (Estugarda, Ale), José António (Borussia M'gladbach, Ale), Miguel (Valencia, Esp) Manuel da Costa (PSV, Hol) , Caneira (Sporting), Nuno Valente (Everton, Ing), Paulo Ferreira e Ricardo Carvalho (Chelsea, Ing) e Ricardo Rocha (Benfica).
Médios: Deco (FC Barcelona, Esp), Petit (Benfica), Costinha e Maniche (Atl. Madrid, Esp) e Tiago (Lyon, Fra).
Avançados: Cristiano Ronaldo (Manchester United, Ing), Hélder Postiga (FC Porto), Hugo Almeida (Werder Bremen, Ale), Nani (Sporting) e Simão e Nuno Gomes (Benfica)."

Espero não ser o único a considerar esta uma das mais estranhas convocatórias de Scolari - e ele é mestre no assunto...
Em relação aos destaques que coloquei a negrito: nunca vi o tal defesa do Borussia Mönchengladbach, José António, jogar, pelo que não me posso pronunciar sobre as suas qualidades - mas lá que é estranho chamar um jogador do qual quase ninguém ouviu falar, isso é...
Dos que saem da convocatória, Boa Morte e Ricardo Costa nunca lá deviam ter estado. Quaresma e Moutinho nunca deviam ter saído, sobretudo o primeiro - espero que seja para dar espaço a outras observações, e que voltem a ser chamados no futuro próximo. A Selecção precisa deles.
Fico feliz por Nani ter sobrevivido à razia de saídas de jogadores pouco rodados, a provar que o golo que marcou na Finlândia mereceu os aplausos também de Scolari - mas não consigo deixar de sonhar com Nani e Quaresma nas alas, uma dupla que seria verdadeiramente endiabrada... Fico feliz também por Hugo Almeida ter regressado aos convocados, é jovem e merece nova aposta, face ao que tem mostrado no Werder Bremen.
Enfim... globalmente, não sei que pensar. Espero que Portugal conquiste 6 pontos, mas algo me diz que Scolari vai apostar (e como sempre nestas situações conseguir exactamente o que quer) nos 4 pontos...
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A gaulesa aldeia

Os 4 ou 5 leitores mais assíduos do Altermundo já devem ter reparado na remodelação que introduzi ontem. Já há algum tempo que andava a pensar em tornar o layout um pouco menos amorfo, e decidi pegar numa metáfora que me ocorreu e que já repeti em várias caixas de comentários e transformar o Altermundo em "gaulesa aldeia" - e quem tiver lido a sua dose [recomendada pela OMS] de Astérix saberá ao que me refiro nos campos que mudaram de nome...
É favor então, pelo menos esses tais 4 ou 5 leitores assíduos, deixarem a sua opinião, comentários pertinentes ou nem por isso, críticas, sugestões - ou, como agora se chama, "alegres boas ideias" ;)E como me disse a Macambúzia, que o céu não nos caia em cima da cabeça, por Toutatis!
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Quarta-feira, 27 de Setembro de 2006

Despenalização do aborto: a polémica segue dentro de momentos

Há algum tempo que aguardava a oportunidade de introduzir o blog da Macambúzia Jubilosa na minha lista "companheiros, amigos, palhaços". Os meus "critérios editoriais" obrigam-me a fazer aqui alguma publicidade a algo que julgue particularmente pertinente que lá tenha encontrado, e a oportunidade surgiu a propósito de um post sobre a ridícula Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN).
O post é interessante porque resume de forma assaz irónica muitos dos meus próprios argumentos a favor da despenalização do aborto. A partir de agora, a quem me perguntar porque defendo esta posição, eu direi que é por causa
da  ATMMNAMDTEPTU,
da AMQFACFETCSSM,
da AMFHEPPSJCBTTA,
da AHEMQPSVFACMALNCICAM,
da AJ17AETCECPAFPHPAFDPEESUDDADFCDCMC,
da AMNVFATDPAPUVQAESAMPEESERPMEECSL,
da AMQNELPNSLQVDFACPFFCEPATNVU e da
AMQNDFQCSIPMTEICCIMQCPUTND.
Quem quiser saber mais sobre isto, que vá até lá descobrir...
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Hipocrisia nuclear

Isto assusta-me e frustra-me: o Egipto vai reiniciar o seu programa de energia nuclear, abandonado após o acidente em Tchernobyl. O Presidente Mubarak assegura que o programa tem fins inteiramente pacíficos, e que é "uma questão urgente" com vista a resolver o problema energético do país. O Público, ontem, adiantava que estão projectadas três centrais nucleares, a primeira das quais prevista para começar a funcionar dentro de dez anos, na zona de Alexandria, com uma produção energética maior que a barragem de Aswan. Prevê-se um um investimento total de 1170 milhões de euros, através de uma parceria com a Rússia ou a China.
Perante a já anunciada anuência da diplomacia americana ("os Estados Unidos encorajam a utilização pacífica com fins civis do nuclear", afirmou Francis Ricciardone, embaixador americano no Cairo, dando-me uma sarcasticamente tremenda vontade de rir), eu pergunto: entre o Egipto e o Irão, qual é a diferença?
Ambos os países clamam tratar-se de um programa nuclear com fins exclusivamente pacíficos; ambos pretendem colmatar o que dizem ser prementes necessidades energéticas (o Egipto exporta petróleo bruto, embora sem grandes reservas, esclarece o Público, tendo no entanto vindo a  descobrir importantes reservas de gás natural; o Irão tem importantes reservas de petróleo e de gás natural); ambos têm boas relações com a Rússia e a China e contam com o seu apoio diplomático e económico.
Qual é a diferença então? O regime político nos dois países? Mubarak, um déspota que é eleito com maiorias soviéticas há mais de 20 anos e se recusa a levantar o estado de emergência no país, em vigor desde o assassinato de Sadat, um país onde a mão militar é pesadíssima e visível por todo o lado e a liberdade de expressão uma miragem, este regime apresenta mais garantias que o de Ahmadinejad? Só porque Mubarak  não diz as mesmas barbaridades que o presidente iraniano (já governa há tempo suficiente para ter aprendido...)? Talvez assim seja, mas não me parece que seja suficientemente tranquilizador.
A diferença será, então, o facto de o Egipto ter um acordo de paz e relações diplomáticas com Israel? Esta, sim, parece-me que é a diferença que explica a abissal diferença de atitudes, e uma subjugação rasteira a um dos mais pequenos países do mundo, e o que mais desproporcional influência tem: quem está de bem com Israel, pode desenvolver um programa nuclear, mesmo que seja uma ditadura militar; quem não está, não pode.
É de uma hipocrisia gritante. E já não falo do assobiar para o lado em relação ao programa nuclear claramente bélico do Paquistão, que não tem, que eu saiba, relações com Israel e não é, que eu saiba, uma democracia - e que tem como único fim fazer face ao igualmente agressivo programa nuclear indiano...
Partilho das preocupações quanto ao carácter pacífico do programa iraniano, mas eu sempre achei que quem tem telhados de vidro não atira pedras. Pessoalmente, sou radicalmente contra o nuclear, e acho que todos os países, sem excepção, deviam destruir todas as armas nucleares, sem excepção. Mas isto sou eu, que sou lírico e acredito em utopias, e vivo num pequeno país da Europa Ocidental de brandos hábitos.
Em relação a um programa que, mesmo sendo mentira que se destina unicamente a suprir necessidades energéticas (que é o mais provável - a Índia e o Paquistão seguiram a mesma linha de actuação, até poderem apresentar o seu armamento nuclear como fait accompli), não reconheço no entanto nenhuma autoridade moral aos Estados Unidos, à França, ao Reino Unido (a Alemanha passa...), a Israel, para condenarem aquilo que eles próprios prosseguem.
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Terça-feira, 26 de Setembro de 2006

União Europeia: uma fundamental pausa kit-kat

Vem no Público de hoje, e ao ler o título "Durão Barroso defende pausa no alargamento da UE"  tremi, receando mais uma idiotice do geneticamente cretino "cherne fugidio". Ao ler a notícia, no entanto, sou forçado a concordar.
Citando o artigo, Durão Barroso diz apenas aquilo que eu penso há muito tempo, defendendo que a UE "deverá suspender a entrada de novos membros até à resolução do actual impasse institucional. "Enquanto presidente da Comissão, considero imprudente admitir novos Estados, além da Bulgária e Roménia, antes de a questão institucional estar resolvida", afirmou Barroso, durante uma conferência de imprensa com o primeiro ministro francês, Dominique de Villepin . (...) Barroso deixou no entanto claro que há limites para a capacidade da UE de admitir novos membros com o actual modelo institucional, que, segundo a convicção generalizada entre os responsáveis europeus, rebentará pelas costuras com Vinte e Sete Estados a partir de Janeiro. "Não podemos acolher novos Estados membros sem uma reforma prévia das instituições", insistiu"
Continuo a achar que a última vaga de adesão à UE foi um erro crasso. Admitir cinco países Rep . Checa, Eslováquia, Hungria, Polónia, Eslovénia), como estava definido previamente, já era um sério desafio à capacidade de absorção de uma União sem instituições à altura de uma Europa a Vinte. Sempre foi minha convicção que absorver cinco países vindos do antigo espaço de influência comunista, com todos os problemas decorrentes de uma transição abrupta para uma economia radical de mercado, iria demorar longos anos, mais que em todos os alargamentos anteriores incluindo o "nosso", quando foi necessário integrar três países pobres - na altura - em pouco tempo, Portugal ,Espanha e Grécia), porque os problemas a resolver eram de índole estrutural. O alargamento a dez países em lugar de cinco apanhou-me totalmente de surpresa, e desde logo pensei  - para além de demorar ainda mais tempo a absorver - que era um erro de sérias consequências - que de resto ainda agora começamos a ver...
A reestruturação institucional da UE já há muito tempo que era, mais que uma necessidade, uma urgência. Com uma Europa a Vinte e Cinco ainda o é mais, por isso não posso deixar de concordar com o alerta de Durão Barroso. Até os chernes às vezes dizem coisas acertadas...
Claro que o problema de como será feita a reestruturação, se através da propagada Constituição Europeia, ou de uma diferente, é uma questão totalmente diferente, e que por si só merece um grande e estruturado post ... Quando foi redigida a dita Constituição, achei que não resolvia nada de fundamental. Fiquei de algum modo contente com a rejeição a que foi sujeita porque é uma janela de oportunidade para resolver alguns dos seus problemas - embora pense que já se perdeu demasiado tempo de simples imobilidade, e esteja convencido que não temos actualmente líderes à altura do desafio.
Voltando à questão fundamental: já é tempo de reestruturar, de uma vez por todas, a arquitectura institucional da UE!
(apelo lírico e destinado a cair em saco roto:) Uma nova e radicalmente diferente constituição, já!
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Boa sorte para as equipas portuguesas

Esta breve "posta" é só para deixar registados os meus votos de boa sorte ao Benfica (como sempre, até aos 2-0 estou com eles ;)) e ao Porto nos jogos de hoje da Liga dos Campeões. Bem vão precisar...
Votos extensíveis naturalmente ao Sporting e ao Braga, Nacional e V. Setúbal.
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um discurso de Abraracourcix às 10:05
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Segunda-feira, 25 de Setembro de 2006

Existe futuro para o Serviço Nacional de Saúde?

A Sofia @ Defender o Quadrado informou-me, nos comentários a um seu (como de costume interessante) post, de uma notícia do Diário Económico acerca de um estudo, que neste momento estará sobre a mesa do ministro, relativo à sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS). No seguimento da pequena discussão que mantive com ela a respeito desse post e, sobretudo, do recente e polémico anúncio de alargamento do âmbito das taxas moderadoras, sobre o qual tanto eu como ela já escrevemos, julgo que o estudo é uma excelente quadro contra o qual avaliar as futuras decisões ministeriais em relação ao SNS.
Para quem não queira ou não tenha paciência de ler a notícia, em resumo ela trata de um estudo que o sr. Correia de Campos encomendou a um grupo de sete ditos "peritos" que equaciona sete hipóteses de enfrentar o crescimento galopante do buraco do SNS - mais a hipótese que em Economia se designa de ceteris paribus, que consiste em nada fazer. Dessas sete, para os peritos, só duas não são totalmente de rejeitar, embora mereçam muitas reticências: aumentar os impostos e, precisamente, aumentar os "co-pagamentos". A notícia apresenta também, em resumo, as vantagens e desvantagens de cada uma das hipóteses considerada:

"Não fazer nada
(+) É a primeira proposta, e está apresentada. Aqui, deixava-se evoluir naturalmente o actual sistema de financiamento.
(-) O aumento dos custos seria incomportável, a prazo, para os cidadãos e para o próprio Estado. O actual ministro da Saúde, aliás, já o disse por mais de uma vez.

Saída do Serviço Nacional de Saúde (’opting out’) [traduzindo, passagem para a esfera privada de componentes do SNS, ou seja, venda aos privados de hospitais...]
(+) A comissão não apresenta qualquer vantagem para este modelo de financiamento.
(-)  Haveria um aumento do consumo de actos médicos sem o consequente aumento da saúde da população, e as seguradoras não teriam capacidade para absorver a procura destas soluções.

Aumento dos impostos (canalizados para a saúde)
(+) Uma das opções de financiamento para assegurar a sustentabilidade do SNS é o aumento da tributação, sendo um aspecto crucial o crescimento da própria economia.
(-) O cenário de aumento médio de 33% das necessidades de financiamento da Saúde, em clima de baixo crescimento económico, é o que mais se aproxima da situação actual.

Aumentar os pagamentos directos da população
(+) É uma solução atractiva porque aumenta a contribuição da população e poderá exercer um efeito moderador sobre o consumo.
(-) Cria maior incerteza financeira e leva a que quem utiliza mais pague também mais, destruindo parcialmente a solidariedade entre quem tem saúde e quem precisa de cuidados.

Limitação da cobertura do Serviço Nacional de Saúde
(+) Tem a vantagem financeira de poder negar o acesso a quem tenha uma doença que não esteja coberta pelo sistema.
(-)  É inconstitucional, desvirtua a lógica do Serviço Nacional de Saúde e dificilmente seria proposto por um partido político ou aceite pela população.

Organização de Agências de Financiamento local [esta não percebi o que seria...]
(+) A vantagem é uma  responsabilização acrescida dos eleitos locais pela saúde das suas populações.
(-)  Leva à criação potencial de uma diferenciação da qualidade na prestação dos cuidados de saúde.

Criação de planos de poupança saúde
(+) Permitem a transferência de risco de um modo intertemporal para o mesmo indivíduo, garantindo o aspecto da protecção contra o risco, sem qualquer impacto na redistribuição no sistema.
(-) No actual contexto sociológico português, não parece admissível que instrumentos desta natureza tenham mais do que um papel supletivo, voluntário e alicerçado nos privados."

Escrevo este post para explanar duas reflexões. Em primeiro lugar, a mera consideração de todas estas alternativas, mesmo se o ministro parece já ter optado pela estratégia de aumento dos "co-pagamentos", não invalida que não venha a aplicar outras. Considerando a "peça" que governa (?) a Saúde, não me admiriaria mesmo de ver consagradas algumas das que os peritos consideram como liminarmente rejeitáveis...
Em segundo lugar, gostei de ler que os tais "peritos" chegaram à mesma conclusão que eu, reles licenciado em Economia: segundo a notícia, "a comissão sublinha que “a sustentabilidade financeira do SNS reside fundamentalmente no controlo da restante despesa pública[o negrito é meu] e exemplifica: “Se a restante despesa pública crescesse apenas 2% ao ano, isso libertaria espaço fiscal suficiente para um crescimento das transferências do SNS consentâneo com um seu desenvolvimento normal e em condições de eficiência”. Aqui está, para mim, a solução ideal para o SNS, e que estará radicalmente nos antípodas daquilo que o ministro fará...
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Vanessa Fernandes, a vencedora da semana

No seguimento de uma rubrica que tento manter semanalmente, ou quase, esta semana dou os parabéns a uma repetente neste espaço, Vanessa Fernandes. E repetente por inteiro e redobrado mérito, diga-se: ao vencer em Beijing pela décima segunda vez consecutiva (!!), sagrou-se campeã mundial de triatlo. Não há palavras para descrever o tamanho do seu feito e a sua fibra de campeã. Fica apenas o enorme orgulho. Parabéns (mais uma vez) Vanessa!
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um discurso de Abraracourcix às 14:07
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Quantas vidas tem Bin Laden?

Habitualmente, a pergunta que todos se faziam era "onde está Bin Laden?". Agora, a pergunta é "como está Bin Laden? vivo ou morto?", desde que, no sábado, o jornal francês L'Est Republicain (jornal da região da Lorraine , o arquivo é de acesso pago) noticiou a sua morte, invocando fontes da Direction générale des services extérieurs DGSE ), os serviços secretos franceses.
Naturalmente, quer a DGSE , quer a CIA quer os próprios serviços secretos sauditas, de onde a notícia originalmente proveio, negam qualquer confirmação da morte do homem mais procurado do mundo. Claro que isto não quer dizer absolutamente nada, porque tal negação ocorreria quer em caso de a notícia ser verdadeira quer não - resta-nos então esperar uma confirmação, ou desmentido...
Seja como for, esta é já a "quarta morte" de Osama bin Laden , pois já por três vezes no passado tinha sido anunciada a sua morte, e sempre desmentida. Será desta? Ou será que, furtivo como um gato que sempre consegue iludir os seus perseguidores, herdou também as suas sete vidas?
De uma forma ou de outra, e excluindo o lado simbólico, de efeitos desconhecidos, a sua morte nada alteraria no actual estado do mundo e da região. É esse o seu legado, como por altura da 5ª efeméride do 11 de Setembro li: o de que a sua organização, a Al Qaeda , sobreviveu à própria Al Qaeda , como sobreviverá à queda do seu líder.
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um discurso de Abraracourcix às 09:34
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Sexta-feira, 22 de Setembro de 2006

Cartoon da semana

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Da pertinência da adesão da Turquia à UE

É hoje também notícia - e o Max como de costume está em cima do acontecimento e já se pronunciou - a absolvição de Elif Shafak , escritora turca, do crime de "ataque à identidade turca", crime previsto na própria Constituição turca. No caso, Elif Shafak escreveu um livro (The Bastard of Istambul em inglês) em que fala e critica abertamente o genocídio da população arménia no início do século passado na Turquia.
Segundo os cálculos mais fidedignos, pereceram cerca de 1 milhão de arménios, em actos que claramente configuram um genocídio mas que a Turquia furiosamente sempre se negou a reconhecer - uma das utilidades principais da inconstitucionalidade dos "ataques à identidade turca" é precisamente esta...
Para além dos factos propriamente ditos, e de obviamente me congratular com a absolvição de um mero acto de liberdade de expressão, o que me merece aqui reflexão é o facto de, como é habitual sempre que estes casos se passam na Turquia, a absolvição só ter ocorrido sob intensa pressão ocidental para que tal acontecesse.
Isto só reforça os meus argumentos a favor da adesão turca à União Europeia: se, no actual status quo, a Turquia já é permeável a pressões públicas para que respeite "ocidentalmente" a liberdade de expressão, no seio da UE tal permeabilidade - e até influência tendente a mudar tal mentalidade - será naturalmente maior, ou seja, mais facilmente levará a Turquia a "ocidentalizar" a sua forma de pensar.
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Golpe de estado na Tailândia: quem é o homem na sombra?

Tenho seguido com atenção as notícias que têm chegado da Tailândia, onde um golpe liderado pelo general Sonthi Boonyaratglin, pelos vistos homem obcecado pela legalidade e constitucionalidade e avesso a golpadas,  derrubou o governo de Thaksin Shinawatra, sobre o qual pendiam graves acusações de corrupção (e o sentimento geral entre a população que tal correspondia à verdade).
Para já, o parlamento e o senado foram dissolvidos, a lei marcial foi decretada, foram proibidas reuniões com mais de 5 pessoas, e quaisquer actividades dos partidos políticos, bem como decretadas severas restrições à comunicação social. Ou seja, neste momento a Tailândia é tecnicamente uma ditadura.
O novo executivo, já investido pelo rei, prometeu ter pronta uma nova Constituição dentro de duas semanas, por forma a tentar no prazo de um ano convocar eleições. E aqui entra o que eu tenho tentado perceber: se, como explica o amigo Max, a Tailândia estava à beira de novas eleições - eu só sabia que Thaksin Shinawatra já tinha prometido afastar-se do poder, após intensa pressão popular - que escolheriam um novo governo em princípio impoluto, não faz grande sentido um golpe de Estado que apenas adia a normalidade democrática para o final do próximo ano.
Parece-me portanto haver interesses ocultos nesta história: ou o exército tailandês, tradicionalmente visto como garante último da democracia no país, sentiu que de alguma forma estava a perder poder e quis ganhá-lo pela força, ou terá sido o próprio rei (que rumores consistentes afirmam ter congeminado na sombra o golpe) a ansiar essa conquista de poder.
Em qualquer dos casos, a aparição de um general tido como "legalista" como líder do movimento golpista tem um de dois significados: ou essa capa "legalista" apenas oculta o seu verdadeiro carácter, ou está a ser - conscientemente ou provavelmente não - utilizado como "testa de ferro", mera marioneta de quem segura os cordéis (outros militares ou até o rei)...
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Os melhores javalis


O chefe viu:
   "Nightwatchers", Peter Greenaway

  

 

   "The Happening", M. Night Shyamalan

  

 

   "Blade Runner" (final cut), Ridley Scott

  


O chefe está a ler:
   "Entre os Dois Palácios", Naguib Mahfouz

O chefe tem ouvido:
   Clap Your Hands Say Yeah, Some Loud Thunder

   Radiohead, In Rainbows
 

por toutatis! que o céu não nos caia em cima da cabeça...

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