Segundo notícia do Público de ontem, o Programa Nacional para as Alterações Climáticas PNAC ) vaticina, como forma de Portugal cumprir as metas do protocolo de Kyoto , uma redução de 15% nos utilizadores de transporte individual , a favor dos transportes públicos:
"A transferência de cinco por cento dos utilizadores do transporte individual para o transporte colectivo, nas áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa, é uma das principais medidas adicionais apresentadas na nova versão do Programa Nacional para as Alterações Climáticas PNAC ). Com mais gente a andar de transportes públicos, conta-se com a redução de 246 mil toneladas de dióxido de carbono lançado pelos escapes dos automóveis.
Nominalmente, cinco por cento é uma cifra pequena. Mas na prática é um valor astronómico. Pelos números do próprio PNAC , o número de passageiros e viagens que aquela transferência envolverá em Lisboa corresponde a 15 vezes o que será conseguido com a expansão das linhas de metropolitano até 2010. Como isto será conseguido, é algo que não é explicado no novo PNAC , publicado dia 23 de Agosto no Diário da República. O programa diz apenas que o será através da colocação em prática das autoridades metropolitanas de transportes. Nem a secretária de Estados dos Transportes, Ana Paula Vitorino, consegue especificar, em detalhe, o que está previsto. Ana Vitorino fala de uma combinação de medidas, como a expansão dos metropolitanos, melhor oferta de autocarros, mais corredores bus. Mas isto tudo já estava previsto antes.
A promessa nova agora é, concretamente, a expectativa de converter mais cinco por cento dos percursos de carros particulares em viagens de metro, autocarros, comboios e barcos. Para convencer os cidadãos, o Governo está a preparar uma campanha para promover a utilização dos transportes públicos, que começará a ser veiculada no próximo ano."
O Governo só pode estar a delirar, se pensa que é assim que cumpriremos Kyoto ... Não será com vagas intenções, das quais o Inferno, a existir, está cheio, nem com custosas campanhas publicitárias (que apenas servirão para gastar algum do "nosso" dinheiro), muito menos com a introdução de autoridades metropolitanas das quais só o nome é conhecido (competências? financiamento? articulação com autarquias? esfera concreta de actuação?, tudo interrogações sem resposta), não será com nada disto que se inverterá uma política sistemática "do betão", de incentivo aos transportes individuais e sacrifício dos colectivos.
Foram pelo menos 20 anos de construção desenfreada de auto-estradas (devemos ser o país com mais quilómetros de auto-estrada em relação à dimensão - concedo que muitas delas são importantes outras são meras duplicações de outras já existentes) e puro desinteresse nos transportes públicos. Será preciso muito mais do que o vago formulado no pomposo PNAC para corrigir isto, a começar pela reforma das mentalidades dos portugueses cada vez mais renitentes a deixar "o seu carrinho" em casa, independentemente do espectro de bichas gigantescas nos IC19 , A5 , VCI e IC24 deste país...
Tal como foram necessários 20 anos para chegar a este ponto, serão necessários no mínimo outros tantos de políticas sistemáticas de incentivo aos transportes públicos e penalização do uso do automóvel para o inverter... isto se não tivermos já, como receio, ultrapassado o ponto de não-retorno ...