Segunda-feira, 19 de Fevereiro de 2007
Retirado da última página do Público de hoje, esta crónica de Helena Matos acerta em cheio ao analisar as causas do fenómeno abstencionista, que ao contrário do que muitas vezes se pensa não é exclusivo de Portugal...
Este comentário, aliás, vai na linha de muito que se tem dito por
aí. Em relação a isto,
a minha posição pró-voto e anti-abstencionismo mantém-se intocada, mas artigos como este lançam luz para a necessária reflexão sobre as causas da abstenção, e como combatê-la e dessa forma também o mais insidioso e perigoso desinteresse - e até
repúdio - pela democracia como instituição.
"Realidade virtual"Enquanto escrevo decorre em Espanha o referendo ao estatuto da Andaluzia. A abstenção quase atinge os 67 por cento. Contudo a discussão dos líderes políticos em torno deste estatuto foi gigantesca. Na verdade quase tão gigantesca quanto a abstenção. E se da Andaluzia passarmos para Portugal, França, Brasil, encontraremos este mesmo abismo entre as preocupações dos povos e a agenda que lhes é imposta pelos seus dirigentes. De alguma forma o ex-líbris desta clivagem entre o mundo visto a partir dos gabinetes governamentais e das casas das pessoas comuns foi o referendo sobre a limitação da aquisição de armas que teve lugar no ano de 2005, no Brasil. O resultado foi devastador: 63,94 por cento dos brasileiros responderam negativamente à pergunta "O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?" Os brasileiros não têm certamente nenhum interesse perverso no comércio e posse de armas mas é preciso desprezar absolutamente quer a violência de que são vítimas quer a inoperância das forças policiais para supor que eles iriam responder a esta pergunta tal como se vivessem na Suécia ou em Portugal. Na UE as perguntas felizmente são de outra natureza, mas vale a pena interrogarmo-nos se, à excepção da nomenclatura bruxeleense, existirá algum cidadão da UE que sinta necessidade de uma Constituição europeia? Ao contrário do que se diz, os eleitores não estão desinteressados. Simplesmente não reconhecem interesse naquilo que lhes é proposto. Ou, pior ainda, começam a entender que aquilo que de facto os preocupa, como a segurança social, o serviço nacional de saúde, a carga fiscal ou a política de segurança pública, não é colocado sequer à sua discussão quanto mais ao seu escrutínio directo. Aliás, o receio de que os portugueses impusessem assuntos excêntricos aos das reluzentes agendas partidárias levou à exigência de 75 mil assinaturas para que uma proposta de referendo seja simplesmente apresentada à AR, que pode sempre rejeitá-la, enquanto bastam 7500 assinaturas para se constituir um partido ou formalizar uma candidatura à Presidência. Suponhamos que, em vez do faz-de-conta do costume, os portugueses eram solicitados a discutir o futuro da segurança social. Por exemplo, perguntar-lhes se preferem manter o actual status quo mesmo que isso implique situações futuras de ruptura. E por que não discutir com as populações o fecho ou a manutenção de esquadras?Mas podemos ficar pelo "suponhamos" porque nessas matérias, tal como noutras, quer os sucessivos governos quer as sucessivas oposições esperam que nos mantenhamos suficientemente distraídos com a realidade virtual que diariamente nos recomendam."
PS - Os inconformistas e armadilhadores do blog bi-linkado lá em cima que me perdoem, mas os seus escritos continuam a ser a minha principal fonte de comentários anti- o que que quer que seja...
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De
Hopes a 21 de Fevereiro de 2007 às 11:12
O problema da abstenção nos referendos é consequência de um desinvestimento dos governos na educação, informação e participação cívica. Este é um facto que pode ser combatido e não deve inviabilizar a realização de referendos, na minha opinião.
Mais complicada, é a questão do que é ou não referendável. E aqui, a escolha por parte dos governos, do que é referendável é altamente tendenciosa. E porquê? Porque o eleitorado abdica da participação cívica, perde poder de pressão política e não consegue exigir que a situação se altere. O que é preocupante, é com altas taxas de abstenção, os governos vão achar que não têm de ouvir o eleitorado, nem têm que ser legitimados...
Quanto à abstenção (para não me repetir e pedindo desculpa pela publicidade), a minha opinião esta aqui: http://my-hopesanddreams.blogspot.com/2007/02/votar-ou-no-votar.html
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