Escrevo este post para, em primeiro lugar, apoiar o protesto do
Devaneios Desintéricos para, face à
lustração polaca. Julgo que o termo "lustração" se refere à "limpeza moral" da Polónia de tudo o que cheire ao antigo regime comunista, seja com a recente suspensão de pensões a antigos combatentes das Brigadas Internacionais na Guerra Civil de Espanha, seja com a obrigatoriedade de funcionários públicos, advogados, jornalistas procederam a um "registo de interesses" em como nunca colaboraram com o regime comunista - e não, semelhanças desta lei com algumas outras que vos soem familiares de outros países, noutros tempos, não é mera coincidência...
Em segundo lugar, este post serve para expiar as minhas culpas por, apesar de também eu prestar alarmada atenção ao que se passa na Polónia (mérito, entre outros, também do Max), nunca aqui nada ter escrito sobre isso. É cada vez mais perceptível a senda polaca rumo à mais insana intolerância - ou mesmo irrealismo totalitário. É cada vez mais incompreensível como tal é possível no seio da União Europeia - quase tão difícil de compreender como o plúmbeo silêncio de Bruxelas e de todos os 26 parceiros europeus.
Para que se compreenda que o que está em questão não é apenas uma lei anti-comunista, mas antes parte integrante de um bem articulado projecto de "refundação moral" (leia-se projecto totalitário) da Polónia, eis uma relação das medidas tomadas pelos gémeos Kaczynski, primeiro-minstro e presidente da Polónia, ambos do partido PiS (direita ultra-católica), desde que desembarcaram nos corredores do poder polaco e deram livre aso ao seu projecto de uma Polónia surreal mas demasiado real:
- homofobia declarada (apesar dos rumores de o próprio primeiro-ministro ser homossexual... ), com a proclamação da homossexualidade como "contra-natura", o corte de apoios a associações de apoio aos direitos gay e a recente invasão de algumas delas por supostas ligações com pedofilia e pornografia infantil (que rapidamente se verificou serem totalmente falsas)
- limitação de direitos sociais das mulheres, com corte de apoios a associações de apoio a divorciadas (divorciados também, que o divórcio não é catolicamente correcto) e mães solteiras
- proposta de reintrodução da pena de morte para crimes ditos "imorais" - homicídios, violação de crianças, etc. - não só na Polónia como na Europa
- proposta de criminalização do aborto mesmo em casos de violação ou de perigo para a vida ou saúde da mãe (assistimos a um caso destes recentemente)
- perseguição judicial de jornalistas por "ofensas anti-católicas"
- proposta de consagração de Jesus Cristo como rei eterno da Polónia
- declarações descaradamente anti-semitas de Maciej Giertych, euro-deputado, pai do ministro da Educação polaco, também ele membro do PiS (os judeus gostam de viver em ghettos, "Hitler apenas os forçou"; "embora não sendo uma raça diferente, o desejo de viverem separados nas suas próprias comunidades tornou-os [os judeus] biologicamente diferentes"
- proibição total da pornografia (quem for apanhado com material pornográfico pode ser condenado a 1 ano de prisão) e restrições à prostituição
- lei promulgada pelo dito ministro da Educação, proibindo os professores de sequer referir a homossexualidade nas aulas e penalizar com despedimento (e até prisão) os professores que admitam ser homossexuais
- last but not the least, a tal lei da lustração, que obriga todos os titulares de cargos públicos, professores, juízes, advogados e jornalistas a declararem se alguma vez colaboraram com o anterior regime comunista, sob pena, caso não cumpram este "registo de interesses", de serem impedidos de exercer a sua profissão
- já me esquecia da suspensão das pensões aos polacos que combateram na Guerra Civil Espanhola sob a égide das Brigadas Internacionais (felizmente parece que os afectados podem pedir a nacionalidade espanhola, segundo uma lei de 1996 de nuestros hermanos)
Espero que isto chegue para nos fazer a todos mexer e, no mínimo, aderir à campanha proposta pelo Max de flooding do e-mail do embaixador polaco com mails de protesto. Escrevam pois a manifestar o vosso repúdio por tudo isto para: politica.embpol@mail.telepac.pt
De
max a 28 de Março de 2007 às 18:20
Obrigado amigo Rufino por aderires a este método de chatear os polacos :))) seria óptimo se conseguissemos que mais blogs ditos "políticos" se juntassem a nós!
ó Max... mas se os tais blogs político têm interesses e ligações ao mesmo pessoal que ocupa cargos e que se recusa a condenar estas situações porque raios é que iriam abrir a boca? Isto só com um razoavel nivel de pressão social é que ia ao sitio.
Pois é, Pedro Fontela... mas se nem sequer os próprios polacos parecem muito mobilizados para tal, que podemos nós fazer, para além de alguma - pouca e inócua - pressão?
De
max a 29 de Março de 2007 às 21:09
Ora ora, eu até nem importo de chatear um embaixador polaco :))))
De
O Raio a 1 de Abril de 2007 às 19:41
Tudo o que escreves é verdade.
Mas não é só na Polónia que enormidades destas acontecem.
Nos países bálticos grande parte da população (na Estónia creio que é quase metade), como é de origem russa nem sequer tem direito à cidadania, são não-cidadãos.
E na Letónia ou na Lituania os antigos membros das SS nazis ainda fazem desfiles publicos.
O problema é que os despostas que mandam na UE querem tudo, querem ter um país forte e populoso que satisfaça as suas ambições.
Portugal foi fácil de engolir e escravizar.
Mas a Polónia, os países bálticos, a República checa, a Eslovénia e a Eslováquia, ainda por cima todos ao mesmo tempo são demais e estão a provocar uma indegestão na UE.
Não, não é só na Polónia... embora isso não faça o que lá aconteça menos grave.
Concordo contigo quanto à "indigestão": sempre fui muito crítico deste último alargamento a Leste, precisamente por considerar que integrar 10 países de uma só vez era "um passo maior que a perna" e, mais que isso, uma mera fuga para a frente face à crise institucional, de crescimento e de valores da UE.
"O problema é que os despostas que mandam na UE querem tudo, querem ter um país forte e populoso que satisfaça as suas ambições."
Achas que é esse o motivo para o silêncio face às inadmissíveis leis polacas? Nesse caso, porque é que se não aceita já a Turquia? Também é um país forte e populoso... Creio que a razão não é essa, é mesmo a ambição desmesurada de querer de forma demasiado rápida integrar todos os países do ex-bloco soviético simultaneamente, quando o bom senso apelaria a um processo de integração faseado e muito mais lento...
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