Quem acompanha este blog regularmente já deve saber que as primárias americanas são a minha
obsessão do momento. Infelizmente ainda não tinha conseguido postar os meus comentários à "
mini-super-terça-feira" de há 2 dias.
Por força da batalha sem fim entre Obama e Clinton pela nomeação para as presidenciais de Novembro, os dois maiores estados que votaram na terça-feira (e dois dos maiores em todos os Estados Unidos), Texas e Ohio, eram considerados decisivos para as aspirações de ambos os democratas - do lado republicano, eram vistos apenas como a confirmação aritmética da nomeação de John McCain, o que aliás veio a suceder.
Na segunda-feira tinha já cogitado com os meus botões o que sucederia caso um ou outro ganhassem esses decisivos estados. Concluí que se Obama ganhasse ambos, aumentaria a sua ligeira vantagem mas criaria uma dinâmica e uma aura de vitória tais que Hillary Clinton deixaria de ter hipóteses de nomeação, por muito que ainda viesse a tentar. Se Obama vencesse no Texas e Clinton no Ohio (cenário plausível tendo em vista as sondagens divulgadas), manter-se-ia o
status quo de ligeiro favoritismo de Obama. Se Clinton ganhasse ambos os estados, e como era duvidoso que as margens de vitória fossem amplas, apenas iria encurtar um pouco a desvantagem numérica em delegados à convenção democrata de Agosto, mas quebraria a aura de vitória de Obama e voltaria a gritar "Presente".
Tendo este último caso sido o que acabou por acontecer, Hillary Clinton inverte assim em parte a inclinação da dinâmica de favoritismo. Não que ela tenha tornado a ser a favorita, pois Obama mantém quase intacta a vantagem em número de delegados (Clinton ganhou Ohio e Texas, mas ambos por margens razoavelmente curtas, o que pela regra de proporcionalidade na atribuição dos delegados apenas lhe permitiu subir um par de furos face a Obama), mas é um "baralhar e voltar a dar" as cartas políticas, reforçando ainda mais a indecisão que paira sobre os democratas.
É já matematicamente impossível a qualquer dos dois assegurar a nomeação apenas por via das eleições primárias, pelo que tudo será decidido pela capacidade de atracção dos super-delegados (uma espécie de inerências como sucede - ou sucedia - nos partidos aqui do nosso rectângulo, mas à americana). Isto significa que até à lavagem dos cestos na convenção democrata - embora pela recente contundência verbal da campanha seja mais correcto vaticinar uma lavagem de roupa suja - haverá vindima.
Em última análise, este impasse beneficia... John McCain, que com a nomeação já assegurada se pode concentrar em angariar fundos para Novembro enquanto os seus rivais continuam a gastá-los para se tentarem vencer um ao outro, e ir distribuindo a sua artilharia por Obama ou Clinton, conforme tacticamente mais lhe aprouver. Aliás, nem o próprio tenta guardar segredo que todos os republicanos preferem enfrentar Hillary Clinton, odiada por metade do país e tão fraccionadora deste como George Bush o foi, ou seja, mais potenciadora de galvanizar e mobilizar os eleitores republicanos.