Quinta-feira, 10 de Janeiro de 2008
Sócrates anunciou hoje, no final da reunião de Conselho de Ministros, que o novo aeroporto de Lisboa será em Alcochete. Fico aliviado: já
aqui e
aqui tinha deixado expressa a minha opinião de que a Ota era uma hipótese pouco melhor que absurda - sobretudo porque todo o processo que culminou nessa escolha foi tudo menos transparente...
Agora, sob pressão da opinião pública, da oposição, até de sectores do patronato, o processo foi mais claro: uma chuva de estudos que apontavam todos eles para as vantagens da hipótese Alcochete - a própria hipótese foi lançada pela opinião pública, lembram-se? - e finalmente o anúncio de que o Governo, atento ao desgaste da sua imagem, emenda a mão e escolhe Alcochete.
Fica assim provado definitvamente (sinais já havia anteriormente) de que por mais arrogância e absolutismo que demonstrem normalmente, Sócrates e o seu Governo são permeáveis a pressões públicas.
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Segunda-feira, 5 de Fevereiro de 2007
Em entrevista publicada também hoje no Público, Campos e Cunha, o meteórico ministro das Finanças que antecedeu, durante quatro breves meses, Teixeira dos Santos, para além de muitas coisas - essencialmente, e naturalmente, defende o seu legado na pasta das Finanças e a importância do mesmo como tendo lançado as bases para a recuperação das finanças públicas e para o que depois dele foi feito ou deveria ter sido (caso do defunto PIIP - Plano de Investimentos em Infra-estruturas Prioritárias), deixa, à margem, alguns comentários acerca da decisão de construir o novo aeroporto na Ota e que me deixam ainda mais convencido da asneira que foi essa decisão, sobretudo quando ainda ninguém me explicou convenientemente que outras alternativas havia e o motivo da sua exclusão - e na ausência dessas explicações, começo a concluir que elas simplesmente não existem...
"Comecemos pela Ota, já que Lisboa, tendo um problema no seu aeroporto, tem de escolher entre diferentes alternativas. A minha convicção é que as alternativas foram colocadas de fora depressa demais. Basta recordar que a decisão política foi tomada em Julho e os estudos técnicos só foram apresentados meses depois. Por isso, quando me dizem que o aeroporto vai ser feito, só me lembro do que uma vez me disse um oficial da Força Aérea. Para ele, se os civis quisessem uma base militar, a primeira que daria era a Ota, pois a sua pista era perigosa. Quando aterrava na Ota ia sempre ele aos comandos, pois o local tem problemas de ventos. Mas o maior problema é que a Ota não tem capacidade de expansão. Imagine o que era ter-se feito, e o que é que hoje diríamos, um aeroporto decidido no tempo de Sá Carneiro ou Mário Soares e agora, 20 anos depois, verificar-se que estava congestionado. Ora, 20 anos é o tempo previsto para a Ota ficar congestionada, pelo que leio na imprensa. E é um investimento muito grande. Pode não passar pelo Orçamento de Estado, mas que será sempre pago pelos portugueses e pelos utilizadores de aeroportos."
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Quinta-feira, 7 de Dezembro de 2006
E mais um do Público, este um artigo de opinião de Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto, com quem cada vez mais vou descobrindo partilhar algumas opiniões. É o caso do presente artigo, que citarei na íntegra e que reproduz mais ou menos fielmente a minha posição relativamente ao elefante branco... perdão, aeroporto da Ota (resumidamente, é uma asneira construir a Ota, melhor opção sendo a de alargar a Portela e adaptar o aeródromo do Montijo para acolher parte do tráfego desviado da Portela)
Já agora, alguém me explica porque se decidiu construir um aeroporto em terreno de leito de cheias - e não de um rio, mas sim na confluência de três (!!) rios. Parece-me no mínimo um bizarro critério...
"Ainda vamos a tempo"
"Já se sabe que as obras públicas estão sempre sujeitas ao efeito consecutivo de um multiplicador comum: primeiro, surgem os estudos de consultores competentíssimos, que indicam um orçamento inicial. Na elaboração dos cadernos de encargos, esse orçamento é multiplicado até se chegar à base de licitação. Adjudicada a obra, os "trabalhos adicionais" imprevistos e não orçamentados multiplicam novamente o valor pelo mesmo factor. Quando a factura chega ao conhecimento do público, a culpa não é de políticos nem técnicos, porque há muito que morreu solteira.
As obras faraónicas anunciadas por este Governo já entraram nessa espiral. No caso da Ota, sabe-se que custará muito mais do que as previsões e não vai ficar "de borla" para o Estado, que deixará de receber os importantes lucros que tem hoje com a Portela. Já se adivinha que a futura parceria pública/privada vai incluir o Aeroporto do Porto (não vá este tornar-se num temível concorrente) e será confundida e misturada com a privatização da ANA. Para cúmulo e como as inundações alagaram a zona de leito de cheia que será abrangida pelo aeroporto, cresce a dúvida se o estudo de impacte ambiental caucionará a gigantesca obra de terraplenagem. Entretanto, a ANA resolveu investir no plano de expansão da Portela, que será realizado até 2010 e custará 550 milhões de euros (antes do tal multiplicador comum...), que depois serão deitados fora em 2017 quando o aeroporto, que entretanto estará ligado ao metro, for demolido para ser substituído pela Ota...
Mas as novidades não ficam por aí. Lembram-se da nove ponte ferroviária entre Lisboa e o Barreiro que, segundo o Governo, devia servir para os TGV destinados a Madrid e ao Algarve e também para o do Porto e para as "navetes" do aeroporto da Ota, que entrariam em Lisboa pelo sul? Afinal, os últimos estudos mostram que a elevada duração destes dois trajectos exigirá a construção de um novo e caríssimo canal de entrada em Lisboa pelo lado norte...
Com tantas "surpresas", deviam-se repensar e articular os projectos ferroviários e aeroportuários. Desde logo, é preciso "casar" os estudos de procura (que foram elaborados em separado...) porque é certo que a rede de TGV vai arrefecer a procura do transporte aéreo em 20 por cento. Em segundo lugar, deve ser reavaliada a opção "Portela + 1", que passa por ampliar o aeroporto existente e desenvolver um outro, secundário para as low cost, por exemplo na base aérea do Montijo. Essa solução foi rejeitada para Lisboa (apesar de ter sido adoptada em muitas capitais) com o argumento de que com dois aeroportos não se conseguem economias de escala. Ora, não serão essas economias muito menores do que os exorbitantes custos associados à opção Ota?
Uma coisa parece evidente: a opção "Portela mais Montijo" justificaria que, em vez da ponte do Barreiro e do novo canal a norte, se concentrasse todo o tráfego ferroviário por uma travessia a montante, exactamente na zona do Montijo. Teríamos então um sistema integrado, com uma nova rede ferroviária (sem navetes...) a ligar todos os nossos aeroportos...
Com menor pompa e circunstância e maior realismo, talvez ainda se vá a tempo de evitar grandes asneiras..."
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