Quarta-feira, 12 de Março de 2008

Lição de democracia (mais uma), versão Espanha

O PSOE, como já era esperado, venceu as eleições legislativas em Espanha, com o resultado e margens de vitória mais ou menos antecipadas pela maioria das sondagens divulgadas. Nada de novo ou sequer inesperado aqui a acrescentar ao que anteriormente escrevi sobre a política à espanhola.
O que me chamou mais a atenção nestas eleições, para além de todos os considerandos sobre resultados, vencedores e vencidos, possíveis acordos de governação, etc., foi, tal como já numa anterior ocasião, o nível de participação dos eleitores. 75% dos espanhóis votou. Menos de 25% de abstenção! Comparem com o nível de participação das mais recentes eleições em Portugal, mesmo as mais importantes...
A política espanhola pode ter muitos defeitos, mas os espanhóis sabem o que politicamente querem, e fazem algo por isso - algo tão simples como deslocar-se a uma escola ou outro edifício público a um domingo, fazer uma cruz num quadrado de papel e metê-lo numa caixa fechada. Algo tão simples mas que os portugueses teimam em achar demasiado complicado, demasiado cansativo.
Cada vez que ocorre uma destas eleições a que em Portugal se dá por algum motivo particular atenção (por ser mesmo aqui ao lado, no caso presente) e surgem estes devastadores - na nossa lusa perspectiva - dados de participação eleitoral, recordo e dou cada vez mais razão a certos e saudosos armadilhadores (agora emigrados para outras e distintas paragens): talvez a democracia como sistema político, plena de vícios como já está, não seja o que era, mas o que está em crise, e em crise grave, é a democracia portuguesa.
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Segunda-feira, 7 de Maio de 2007

Abram alas para Sarkozy, o presidente-exterminador implacável

Como seria de esperar, Sarkozy venceu, e por larga margem. A participação voltou a exceder os 85%, dando ao resto da Europa - refiro-me acima de tudo a Portugal, cujos políticos deviam enfiar esta carapuça - uma nova lição de democracia.
Dando continuação ao discurso assertivo do período de campanha, ao fazer a declaração de vitória Sarko mostrou já ao que vinha: sossegou os Estados Unidos, prometeu unir em vez de dividir a França (numa clara demarcação da retórica de Chirac, que prometeu fazer face à "fractura social" quando foi eleito e nada fez a este respeito, antes pelo contrário, agravou-a e muito), declarou que a França seria um "farol de liberdade" para os oprimidos de todo o mundo (uma nota algo americanista e soberanista e por isso muito à la de Gaulle).
Uma nota especial para a primeira proposta surpreendente do futuro presidente francês, que prometeu ainda ir ter em especial atenção os países da bacia mediterrânica e disse pretender criar uma comunidade do Mediterrâneo. Eis algo que fará Sócrates sorrir e aplaudir fortemente - e até eu estou por uma vez de acordo com ambos. O auxílio - económico, político - é a melhor forma de os países da orla meridional do "mar interior" da Europa se desenvolverem e, por essa via, debelarem problemas que são também preocupantemente europeus, como os diversos tráficos (droga, armas, pessoas...) e acima de tudo as gigantescas ondas de imigração ilegal.
Já que desconfio que não proporei isto muitas vezes, aqui fica: um forte aplauso para esta proposta de Sarkozy! (que não para o resto do seu discurso-robocop...)
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Quarta-feira, 25 de Abril de 2007

A lição de democracia da França

"Em Portugal cerca de metade dos eleitores não se dá ao trabalho votar para eleger o seu presidente da República. Nas eleições de ontem, em França, participaram 87 por cento dos eleitores. Nos EUA, mesmo em eleições controversas e muito disputadas, a situação é idêntica à portuguesa e à de muitos países industrializados: um em cada dois eleitores não vota. Em França é apenas um em cada sete que não o faz.
Suspeito que pouca gente, em Portugal ou no resto do mundo, dê relevância a este facto. E não se trata de um acaso: já quando foi o referendo sobre a Constituição Europeia, ninguém reparou que uma quantidade apreciável dos franceses não só votara como principalmente tinha lido o maçudo tratado de 300 páginas que era submetido à sua apreciação.
No entanto, quem ler tudo o que se escreve sobre a França - e no nosso país é muito - diria que é a democracia francesa que está em crise, ao passo que no resto do mundo vai de vento em popa. A França de hoje não tem amigos e tornou-se num saco de pancada fácil, previsível, dos comentadores mais preguiçosos. A França deixou de ser uma realidade a conhecer ou a investigar; tornou-se apenas num acumulado de lugares-comuns. Para quem conheça bem a França, - não a de há vinte ou trinta anos mas a actual -, a maioria do que se escreve não passa de lixo impresso. (...)"
(Rui Tavares, no Público de segunda-feira)
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Segunda-feira, 23 de Abril de 2007

Reflexões sobre as eleições em França (revisto e aumentado)

Desta vez sem qualquer surpresa do calibre do "21 avril" de 2002, o povo francês votou e escolheu Nicolas "robocop" Sarkozy (Sarko para os franceses) e Ségolène "pudim" Royal (Ségo) para a segunda volta, a disputar a 6 de Maio.
O meu primeiro destaque é para a participação eleitoral: votaram perto de 85% dos eleitores. 16% de abstenção, as eleições mais participadas desde 1968 (fim da era De Gaulle). Isto, numas eleições em que muito estava em jogo (fim do consulado Chirac - um anão intelectual quando comparado com De Gaulle, e não só com ele... - memórias da segunda volta de Le Pen há 5 anos, crise de identidade...), não deixa de me surpreender quando comparado com a realidade portuguesa.
Nas últimas legislativas, por exemplo, onde muito também estava em jogo (fuga de dois primeiro-ministros, naufrágio de um terceiro, um país completamente À deriva) e onde os analistas concordaram ter havido um bom nível de participação, a abstenção foi de 35% (recuo de 3 míseros pontos face às legislativas anteriores).
Dei-me ao trabalho de pesquisar o site da Comissão Nacional de Eleições e descobri que em Portugal só houve uma abstenção menor que esses 16% nas eleições para a Constituinte, em 1975. De resto, há 20 anos que a abstenção em todas as eleições nacionais é maior, substancialmente maior a partir de certo ponto e sempre crescente até ao princípio da presente década.
Lembro-me por isso de um debate relativamente recente com alguns gauleses irredutíveis que de vez em quando passam por esta aldeia, e eu pelas aldeias deles, acerca da relevância do voto e da abstenção militante. O exemplo que dei na altura foi precisamente a realidade francesa, e estes resultados só reforçam a minha ideia da importância de votar e que isso é tanto mais importante quanto mais está em jogo. Os franceses, de resto, concordaram ontem comigo...

Quanto aos resultados propriamente ditos, e como já li algures, a surpresa foi mesmo o facto de não ter havido qualquer surpresa: passaram à segunda volta os favoritos das imensamente descredibilizadas empresas de sondagens.
Sarko (31,2%) e Ségo (25,9%), de resto, obtiveram votações algo superiores ao antecipado, a atestar que houve alguma bipolarização. E digo alguma porque o voto de protesto - o maior medo nestas eleições, o qual em 2002 provocou o terramoto político que foi a passagem de Le Pen à segunda volta - se manteve, mas foi eficazmente canalizado pelo centrista Bayrou, que ao apostar num algo demagógico discurso anti-sistema - sobretudo anti-dicotomia direita/esquerda - obteve uma excelente votação de 18%.
Para além disso, muita da votação anterior de Le Pen foi "canibalizada" pelo discurso "robocop" de Sarkozy. À esquerda, fenómeno simétrico deste aconteceu com a votação da extrema-esquerda e o discurso "floreado" de Ségolène.
A minha leitura é então esta: quem há 5 anos utilizou o voto como arma de protesto e fez não só com que Le Pen fosse o segundo mais votado, mas também com que o voto nos extremos políticos (a FN de Le Pen e os diversos candidatos da extrema-esquerda) atingisse perto de 30%, desta vez preferiu maioritariamente Bayrou; quem votou de novo nestas eleições e contribuiu para a enorme taxa de participação causou a bipolarização entre os dois principais candidatos.
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um discurso de Abraracourcix às 12:47
link do discurso | comentar - que alegre boa ideia!
Terça-feira, 27 de Março de 2007

O Portugal de Salazar

Como já de alguma forma se antecipava há algum tempo, Salazar venceu a votação do Maior Português de Sempre, gongoricamente promovida pela RTP desde há largos meses.
Conheço quem tenha entrado em choque com o resultado. Conheço quem se recuse a acreditar que 82.000 portugueses (41% dos 200.000 que foi dito terem votado) genuinamente pensem que Salazar é o maior português da nossa História de quase 900 anos. Conheço quem faça planos de emigrar para Espanha, ou para outro qualquer sítio onde um ditadorzeco não seja o maior do sítio.
Como conheço quem, não concordando, aplauda a escolha, por ser a manifestação de um descontentamento, um mal-estar, uma malaise indefinida - um spleen, à maneira dos absínticos escritores do séc. XIX -  que perpassa e afecta o mais profundo da sociedade portuguesa.
Aplausos espúrios, penso eu. Se por um lado gosto do facto de a escolha permitir abrir o armário dos esqueletos onde durante tempo se escondeu, como tabu, tudo o que se referia ao Estado Novo, à ditadura, a Salazar (ainda hoje é difícil pronunciar este nome sem tremer, qual Voldemort português, "aquele cujo nome não se pode pronunciar"), e reconheça que se trata, apenas e só, de um programa de entretenimento que teve muitos defeitos mas a virtude de fazer com que se fale do que não é normalmente falado, por outro há algo que brota do mais profundo de mim, do lugar mais recôndito da minha consciência, lá onde se aloja tudo o que faz de mim aquilo que sou, algo que recusa, que não pode aceitar uma escolha destas.
Mesmo admitindo - e até certo ponto concordando - uma necessidade de protesto pelo estado a que isto chegou (o recurso a uma certa citação de há 33 anos é propositado), mesmo partilhando do tal mal-estar geral, mesmo sentindo também eu, e muito, o tal spleen, não posso aceitar que essa necessidade de protesto gere um voto maciço num ditador que representa tanto daquilo que não se quer. É dizer que estamos mal, e que queremos mudar, mas em vez de ansiarmos por algo melhor, ansiarmos a voltar ao estado anterior, que nos esquecemos, ou queremos esquecer, que era pior.
Sim, estamos mal. Sim, é preciso mudar o estado a que isto chegou. Mas antes estávamos pior, e acho fantástica a dimensão do aspecto selectivo da memória. A memória colectiva é curta, sem dúvida, e muito, demasiado selectiva.
Para além disto, há o aspecto, também focado por alguns dos comentadores e defensores das personagens do top 10 abordadas no derradeiro programa, da falta de cultura da população portuguesa, da falta de qualidade do ensino em Portugal. Eu, que me considero bastante mais culto que a média, nunca falei de Salazar, do Estado Novo, do 25 de Abril na escola. Tudo o que sei devo-o aos meus pais e ao meu voraz  apetite por aprender. Ora a maior parte dos portugueses que nasceram depois de 1974, e sobretudo a esmagadora maioria dos que participam em votações como a dos Maiores Portugueses, não beneficia destes aspectos.
Para estes, Salazar é um personagem como outro qualquer, sem nenhum carácter particularmente malévolo ou indesejável. Se lhes dizem que havia alguém que "punha ordem na barraca", olhando para o actual estado das coisas e da nossa democracia essas pessoas sentem-se atraídas por esse personagem e votam nele.
Ao mesmo tempo, também se tornam mais permeáveis à manipulação e à persuasão daqueles que genuinamente acreditam e promovem Salazar, o Estado Novo, o "nacionalismo", e de caminho (esta é a parte que ocultam, ou tentam ocultar, para assim melhor convencer) a xenofobia, a intolerância, o repúdio pelos valores democráticos. São esses, os PNR, FN e afins que promoveram o voto em Salazar, e com estes argumentos o conseguiram alcandorar a "Maior Português de Sempre" - com aspas, muitas aspas...
(prefiro destacar que, facto referido ao de leve no programa, uma sondagem "verdadeira" - isto é, cientificamente preparada - resultou na escolha de D. Afonso Henriques como favorito dos portugueses, uma escolha bem mais consensual, como seria D. João II, ou o Infante D. Henrique, ou Camões).
O que é particularmente grave, em relação a esta promoção do voto em Salazar, é verificarmos que idêntica promoção por parte de um grupo legalmente organizado e com muitos milhares de simpatizantes - o PCP - só resultou em 19% de votos para Cunhal... Ou seja, e sendo a capacidade de organização dos "salazarentos", adjectivemo-los assim para conveniência, bem menor que a do PCP, ou a sua capacidade de persuasão é extraordinarimente boa, ou há muita gente por aí pronta a ser persuadida... Nesta perspectiva o sucesso na escolha de Salazar é o sinal mais alarmante até agora do rumo que as coisas estão a tomar, e do que não está a ser feito, por incapacidade ou, pior, por falta de vontade, para contrariar esse rumo.
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Quarta-feira, 28 de Fevereiro de 2007

Receita para fazer um político de sucesso

Retirada desse livro de políticas receitas culinárias que é o Público (a falta de maiúsculas já estava no texto que está no Público online):

"poderemos talvez trocar as entranhas das aves pelas campanhas eleitorais em curso na frança e nos eua. a receita dos candidatos que tiverem sucesso será copiada. foi assim, nos seus tempos de glória, com blair. há-de ser assim com ségolène ou sarkozy, ou com hillary clinton, barak ou giuliani. valerá por isso a pena examinar desde já algumas tendências do pronto-a-vestir político americano e francês. (...)
o primeiro truque da receita é, portanto, encontrar um político batido e sem ingenuidades. depois, todavia, convém recorrer a tantas operações plásticas quantas as necessárias para, seja qual for o seu cadastro, fazê-lo parecer fresco e inovador. repare-se que até sarkozy, depois de cinco anos no governo, reclama o papel de challenger. aqui, o aspecto físico ajuda. (...)
mais do que ideias novas, é essencial uma cara nova. pode ser injusto. mas vem assim na receita. (...)
quanto a convicções, a receita é aqui complicada: é preciso metê-las no cozinhado, mas de modo que não ofendam o paladar de ninguém. para isso, os melhores cozinheiros recomendam que se evite o doutrinarismo outrora atribuí-do a thatcher. todos se lembrarão como, há dois anos, angela merkel se deu mal com isso na alemanha. o perigo é maior para os políticos de direita, onde ainda se acredita em "ismos" com bibliografia e programa. os candidatos da esquerda, cujos partidos de governo há muito limparam os armários de qualquer vestígio de socialismo, estarão mais à vontade. o truque é preferir uma longa e variada lista de medidas a qualquer plano conciso e coerente. e, acima de tudo, fazer da imprecisão uma prova de grandeza de alma. a melhor receita, neste aspecto, é a de barak, que se propõe ultrapassar divisões e reconciliar os seus compatriotas. como se o conflito, em política, resultasse apenas da incompreensão dos políticos, e não da incompatibilidade das opções. daí que convenha ao candidato ideal, em qualquer tema, falar pelos dois lados e também contra os dois lados. (...)
aqui, a velha sebenta de sincretismo do professor blair é ainda de aproveitar. (...)
finalmente, talvez não seja necessário imitar o basismo de ségolène, mas ficará bem ao candidato dar aos seus ouvintes a impressão de que só lhes está a falar porque, antes, os ouviu. para reforçar esse efeito de identificação, dará jeito ao candidato ter uma história que faça do seu eventual sucesso, não apenas um triunfo pessoal, mas uma marca da vida nacional. (...)
a receita não resolve todas as dificuldades. as duas maiores estão nas "máquinas", isto é, nas estruturas capazes de enquadrar e mobilizar activistas e eleitores, e nas "grandes questões", nos temas ditados pelo noticiário ou pela curiosidade da imprensa. ségolène estragou um pouco a sua imagem ao ter de saciar o velho esquerdismo do ps e arranjar lugar para os seus marretas. mas era o preço do partido. nos eua, hillary clinton não consegue sacudir a sombra iraquiana.
a política, mesmo com as melhores receitas, não é fácil. como saturno, tem uma tendência para devorar os seus filhos. talvez os aspirantes ao sucesso pudessem experimentar a ser um pouco menos digeríveis, mais duros."
(Rui Ramos)
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Segunda-feira, 19 de Fevereiro de 2007

Reflectir sobre a abstenção: um comentário "na mouche"

Retirado da última página do Público de hoje, esta crónica de Helena Matos acerta em cheio ao analisar as causas do fenómeno abstencionista, que ao contrário do que muitas vezes se pensa não é exclusivo de Portugal...
Este comentário, aliás, vai na linha de muito que se tem dito por . Em relação a isto, a minha posição pró-voto e anti-abstencionismo mantém-se intocada, mas artigos como este lançam luz para a necessária reflexão sobre as causas da abstenção, e como combatê-la e dessa forma também o mais insidioso e perigoso desinteresse - e até repúdio - pela democracia como instituição.


"Realidade virtual

"Enquanto escrevo decorre em Espanha o referendo ao estatuto da Andaluzia. A abstenção quase atinge os 67 por cento. Contudo a discussão dos líderes políticos em torno deste estatuto foi gigantesca. Na verdade quase tão gigantesca quanto a abstenção. E se da Andaluzia passarmos para Portugal, França, Brasil, encontraremos este mesmo abismo entre as preocupações dos povos e a agenda que lhes é imposta pelos seus dirigentes. De alguma forma o ex-líbris desta clivagem entre o mundo visto a partir dos gabinetes governamentais e das casas das pessoas comuns foi o referendo sobre a limitação da aquisição de armas que teve lugar no ano de 2005, no Brasil. O resultado foi devastador: 63,94 por cento dos brasileiros responderam negativamente à pergunta "O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?" Os brasileiros não têm certamente nenhum interesse perverso no comércio e posse de armas mas é preciso desprezar absolutamente quer a violência de que são vítimas quer a inoperância das forças policiais para supor que eles iriam responder a esta pergunta tal como se vivessem na Suécia ou em Portugal.
Na UE as perguntas felizmente são de outra natureza, mas vale a pena interrogarmo-nos se, à excepção da nomenclatura bruxeleense, existirá algum cidadão da UE que sinta necessidade de uma Constituição europeia? Ao contrário do que se diz, os eleitores não estão desinteressados. Simplesmente não reconhecem interesse naquilo que lhes é proposto. Ou, pior ainda, começam a entender que aquilo que de facto os preocupa, como a segurança social, o serviço nacional de saúde, a carga fiscal ou a política de segurança pública, não é colocado sequer à sua discussão quanto mais ao seu escrutínio directo. Aliás, o receio de que os portugueses impusessem assuntos excêntricos aos das reluzentes agendas partidárias levou à exigência de 75 mil assinaturas para que uma proposta de referendo seja simplesmente apresentada à AR, que pode sempre rejeitá-la, enquanto bastam 7500 assinaturas para se constituir um partido ou formalizar uma candidatura à Presidência.
Suponhamos que, em vez do faz-de-conta do costume, os portugueses eram solicitados a discutir o futuro da segurança social. Por exemplo, perguntar-lhes se preferem manter o actual status quo mesmo que isso implique situações futuras de ruptura. E por que não discutir com as populações o fecho ou a manutenção de esquadras?
Mas podemos ficar pelo "suponhamos" porque nessas matérias, tal como noutras, quer os sucessivos governos quer as sucessivas oposições esperam que nos mantenhamos suficientemente distraídos com a realidade virtual que diariamente nos recomendam."

PS - Os inconformistas e armadilhadores do blog bi-linkado lá em cima que me perdoem, mas os seus escritos continuam a ser a minha principal fonte de comentários anti- o que que quer que seja...
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Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2007

Manifesto pró-voto - a propósito do post da semana

Ontem o inconformista Pedro Silva publicou um post onde, a propósito de opiniões sobre o actual estado da nossa democracia deixadas num anterior post sobre o mesmo assunto, explica as razões da sua descrença na mesma e porque não vota há mais de 10 anos. Um dos comentários tenta explicar ao Pedro a importância de votar, com o qual eu estou totalmente de acordo - tão de acordo que me motivou para escrever este post: o meu pessoal manifesto a favor do voto.
Apesar de nunca ter sabido o que é não poder votar (livremente entenda-se), pois nem "filho de Abril" chego quase a ser (nasci em 1979), desde mesmo antes de ter 18 anos que penso, veementemente, que votar é não só um direito, mas acima de tudo um dever. É uma posição extremamente forte mas inteiramente pessoal que não visa ofender ninguém, mas para mim quem não vota não tem o direito de criticar a política do país - o governo, a oposição, tudo, incluindo a própria democracia.
Se é perfeitamente legítimo o extremo desencanto em relação ao actual estado de coisas neste nosso rectângulo, tão extremo que repudia qualquer partido, tal repúdio pode e deve ser expresso nas eleições. É para isso que serve o voto em branco, obviamente - ou em alternativa o voto nulo, para quem tem - como foi dito em comentário ao referido post - medo que alguém faça uma cruz por eles...
A abstenção não é para mim nestes moldes aceitável. Se o facto de esta atingir 50 ou 60%, como já vem acontecendo recentemente, não faz soar na nossa classe política as campainhas de alarme que devia, mesmo concordando com muito do que o Pedro diz considero que se a parte desses 50 a 60% que não vota pelos mesmos motivos que o ele se desse ao trabalho de se deslocar até à urna e votasse branco ou nulo, tenho a certeza que transmitiriam uma mensagem muito mais forte, que não poderia pois ser ignorada.
Por isso, amigos, camaradas, palhaços, inconformistas... Votem!!
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Quinta-feira, 30 de Novembro de 2006

Post da semana

Esta semana, destaco uma citação que o sempre atento Max lanou no Devaneios Desintéricos, o meu/vosso blog de referência. "a liberdade de pensar na Democracia possível" deixa pistas e faz-nos pensar nisso mesmo, em quanta democracia, e qual democracia, será afinal possível...
Para não abusar do surripianço descarado, deixo aqui apenas parte da tal citação. Para o resto, vão ao Devaneios, e aproveitem para apreciar o novo e arejado layout - esta nota de publicidade é para evitar a censura do Max por lhe ter "roubado" a citação...

"Pensar sempre conduziu a suscitar a questão da ordem do Mundo. Ora, o Mundo é dirigido pelo Poder, e aquele que pensa coloca em causa o Poder. Pensar é, pois, uma actividade perigosa (...) O que está a acontecer na Rússia não é um caso isolado. Aquilo que lá se passa é um presságio de uma tendência crescente no seio dos poderes que hoje decidem a ordem do nosso Mundo: a de calar, por diferentes métodos, aqueles que ponham em causa a ordem vigente."
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Sexta-feira, 22 de Setembro de 2006

Cartoon da semana

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Os melhores javalis


O chefe viu:
   "Nightwatchers", Peter Greenaway

  

 

   "The Happening", M. Night Shyamalan

  

 

   "Blade Runner" (final cut), Ridley Scott

  


O chefe está a ler:
   "Entre os Dois Palácios", Naguib Mahfouz

O chefe tem ouvido:
   Clap Your Hands Say Yeah, Some Loud Thunder

   Radiohead, In Rainbows
 

por toutatis! que o céu não nos caia em cima da cabeça...

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