Quarta-feira, 27 de Setembro de 2006

Hipocrisia nuclear

Isto assusta-me e frustra-me: o Egipto vai reiniciar o seu programa de energia nuclear, abandonado após o acidente em Tchernobyl. O Presidente Mubarak assegura que o programa tem fins inteiramente pacíficos, e que é "uma questão urgente" com vista a resolver o problema energético do país. O Público, ontem, adiantava que estão projectadas três centrais nucleares, a primeira das quais prevista para começar a funcionar dentro de dez anos, na zona de Alexandria, com uma produção energética maior que a barragem de Aswan. Prevê-se um um investimento total de 1170 milhões de euros, através de uma parceria com a Rússia ou a China.
Perante a já anunciada anuência da diplomacia americana ("os Estados Unidos encorajam a utilização pacífica com fins civis do nuclear", afirmou Francis Ricciardone, embaixador americano no Cairo, dando-me uma sarcasticamente tremenda vontade de rir), eu pergunto: entre o Egipto e o Irão, qual é a diferença?
Ambos os países clamam tratar-se de um programa nuclear com fins exclusivamente pacíficos; ambos pretendem colmatar o que dizem ser prementes necessidades energéticas (o Egipto exporta petróleo bruto, embora sem grandes reservas, esclarece o Público, tendo no entanto vindo a  descobrir importantes reservas de gás natural; o Irão tem importantes reservas de petróleo e de gás natural); ambos têm boas relações com a Rússia e a China e contam com o seu apoio diplomático e económico.
Qual é a diferença então? O regime político nos dois países? Mubarak, um déspota que é eleito com maiorias soviéticas há mais de 20 anos e se recusa a levantar o estado de emergência no país, em vigor desde o assassinato de Sadat, um país onde a mão militar é pesadíssima e visível por todo o lado e a liberdade de expressão uma miragem, este regime apresenta mais garantias que o de Ahmadinejad? Só porque Mubarak  não diz as mesmas barbaridades que o presidente iraniano (já governa há tempo suficiente para ter aprendido...)? Talvez assim seja, mas não me parece que seja suficientemente tranquilizador.
A diferença será, então, o facto de o Egipto ter um acordo de paz e relações diplomáticas com Israel? Esta, sim, parece-me que é a diferença que explica a abissal diferença de atitudes, e uma subjugação rasteira a um dos mais pequenos países do mundo, e o que mais desproporcional influência tem: quem está de bem com Israel, pode desenvolver um programa nuclear, mesmo que seja uma ditadura militar; quem não está, não pode.
É de uma hipocrisia gritante. E já não falo do assobiar para o lado em relação ao programa nuclear claramente bélico do Paquistão, que não tem, que eu saiba, relações com Israel e não é, que eu saiba, uma democracia - e que tem como único fim fazer face ao igualmente agressivo programa nuclear indiano...
Partilho das preocupações quanto ao carácter pacífico do programa iraniano, mas eu sempre achei que quem tem telhados de vidro não atira pedras. Pessoalmente, sou radicalmente contra o nuclear, e acho que todos os países, sem excepção, deviam destruir todas as armas nucleares, sem excepção. Mas isto sou eu, que sou lírico e acredito em utopias, e vivo num pequeno país da Europa Ocidental de brandos hábitos.
Em relação a um programa que, mesmo sendo mentira que se destina unicamente a suprir necessidades energéticas (que é o mais provável - a Índia e o Paquistão seguiram a mesma linha de actuação, até poderem apresentar o seu armamento nuclear como fait accompli), não reconheço no entanto nenhuma autoridade moral aos Estados Unidos, à França, ao Reino Unido (a Alemanha passa...), a Israel, para condenarem aquilo que eles próprios prosseguem.
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Os melhores javalis


O chefe viu:
   "Nightwatchers", Peter Greenaway

  

 

   "The Happening", M. Night Shyamalan

  

 

   "Blade Runner" (final cut), Ridley Scott

  


O chefe está a ler:
   "Entre os Dois Palácios", Naguib Mahfouz

O chefe tem ouvido:
   Clap Your Hands Say Yeah, Some Loud Thunder

   Radiohead, In Rainbows
 

por toutatis! que o céu não nos caia em cima da cabeça...

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