Sábado, 14 de Abril de 2007
John Darkow, Columbia Daily Tribune Bob Englehart, The Hartford Courant
Quarta-feira, 4 de Abril de 2007
A minha actividade na
Amnistia Internacional - que se reduz basicamente a escrever apelos urgentes para a libertação de prisioneiros, pedidos de informações sobre detidos sem acusação, etc. - levou-me, recentemente, a escrever ao embaixador do Iraque em Lisboa, do qual recebi ontem uma interessante carta, da qual vou reproduzir excertos.
Para contextualizar, o apelo dizia respeito a dezenas de mulheres e crianças que foram detidas perto de
Najaf, sem a formulação de qualquer acusação, na sequência da luta contra um grupo sunita que preparava atentados contra os peregrinos da
Ashura, a grande celebração xiita, em Najaf.
"Let me reassure you as well as Amnesty International, to which you are affiliated, that the new Iraq, following the referendum on and endorsement of the new permanent Constitution, has placed particular emphasis and priority to the respect of human rights."Pois, mas intenções apenas não chegam...
"However, terrorists and killers, are randomly killing innocent civilian population and wreaking havoc upon the infrastructure and economy of Iraq.The government security forces are continuously encountering these terrorists in order to stem their subversive and criminal activities."Esta passagem tresanda ao jargão que Bush constantemente utiliza face aos media... Onde será que o sr. Embaixador se inspirou?
"The so-called members of Jund al-Sama [o grupo em questão] were no exception, as they were about to perpetrate a massacre against civilian pilgrims performing their prayers in the sacred shrines of the holy city of Najaf. As a cover they used women and children as human shields and kept them as prisoners to execute their vile operation."Isto é provavelmente verdade... mas a linguagem utilizada leva a crer que as forças de segurança, tal como o próprio embaixador, não serão exactamente neutros nesta questão, como todas no Iraque, sectária...
"The government forces managed to abort their attempt (...) and consequently liberated the women and children. (...) They were merely kept safely and comfortably and received every aid possible..."'Tá bem abelha... Aqui é que não engana mesmo ninguém... O comunicado da Amnistia Internacional referia que as mulheres e crianças em causa estavam detidas em regime incomunicado (ou seja, sem que se soubesse o local da detenção, sem formulação de acusação, sem acesso a aconselhamento legal nem ajuda médica). Mesmo que as autoridades tenham acreditado que eram apenas escudos humanos, este tipo de procedimentos é totalmente contrário ao que é mais básico nos Direitos Humanos, e não é crível que se limitassem a zelar pela sua segurança, nem que não as tenham interrogado com métodos mais ou menos persuasivos...
"We are confident that any other information you may have received contrary to the afore-mentioned are either non-reliable or inaccurately reported by parties who lack neutrality and transparency to established facts..."A Amnistia Internacional é reputada pela credibilidade das informações que obtém, a verificação das quais faz sempre parte das suas prioridades. Como tal, entre a Amnistia e um embaixador que representa um governo-fantoche e parcial, como tentei desmontar acima, não é difícil escolher em quem acreditar...
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Terça-feira, 20 de Março de 2007
Passam hoje quatro anos exactos sobre o início da guerra do Iraque, como não deixou de ser um pouco por todo o lado
notado.
Quatro anos depois do início de um conflito que todos menos os Americanos - que começam agora a percebê-lo - sabiam não poder ser ganho, o balanço é quase desnecessário, tão gritantes são os factos e as notícias sobre a diária selvajaria.
Quatro anos depois, o Iraque é um lugar mais inseguro e bastante mais bárbaro. Os Estados Unidos são um lugar mais inseguro.
E Madrid, Londres, Casablanca, Bali, Istambul... a sucessão de atentados, exacerbada pelo espírito quixotesco de Bush, faz do mundo também um lugar muito mais inseguro.
Nada nunca foi tão incerto como hoje.
Para quê?
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Sexta-feira, 2 de Março de 2007
Sexta-feira, 23 de Fevereiro de 2007
Sexta-feira, 2 de Fevereiro de 2007
"The boy who cried Wofowitz", do excelente
Cagle Cartoons!
Sexta-feira, 12 de Janeiro de 2007
Em dose tripla desta vez, um alusivo ao esta semana incontornável plano de Bush e dois para relacionar com o meu post alusivo ao post da semana, todos retirados de
Cagle cartoons.
Quinta-feira, 11 de Janeiro de 2007
Anunciada isoladamente, a medida tomada por Bush como via para a "vitória" (cada vez mais risível este termo quando colocado em relação com o Iraque, e repetindo uma vez mais o que todos dizem, só Bush ainda não viu a evidência) não servirá rigorosamente de nada, como magistralmente ilustra este cartoon que o Público reproduziu hoje (o original é de Chappatte no International Herald Tribune, podem encontrá-lo no siteCagleCartoons,
aqui).
Fazendo tábua rasa das pertinentes sugestões do relatório Baker-Hamilton, Bush prefere ignorar que o envio de mais tropas em nada ajudará os iraquianos a começarem a defender-se a eles mesmos, sendo necessário um sério investimento em infra-estruturas (ainda quase todas destruídas) e no tecido económico (mais do que as pífias ajudas a pequenas empresas iraquianas agora anunciadas).
Prefere também ignorar que o atoleiro iraquiano nunca poderá ser resolvido olhando unicamente para dentro das suas fronterias, necessitando do envolvimento dos vizinhos, tanto a Arábia Saudita - patrocinadora dos sunitas - como a Síria e o Irão - patrocinadores dos xiitas - para pacificar a crescente tensão inter-sectária.
Sem atacar o problema em força e simultaneamente em todas as suas vertentes - militar, política, económica, interna e externa - de nada serve o destacamento de 20.000 soldados - sobretudo quando o número necessário, por si só, a uma pacificação, é pelos especialistas, inclusivamente americanos, na ordem dos 400.000, mais do dobro dos efectivos que ficarão no terreno - de nada serve a não ser para fragilizar ainda mais a capacidade de resposta do exército americano a uma hipotética nova ameaça...
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Sexta-feira, 5 de Janeiro de 2007
Quarta-feira, 3 de Janeiro de 2007
Eis a carta que acabei de redigir e enviar à Direcção de Informação da TVI (endereço de e-mail não disponível, têm de enviar através da
janela para o efeito do site da TVI; irei também enviá-la à
Entidade Reguladora da Comunicação Social, e-mail info@erc.pt) , como protesto pela nojenta emissão do Jornal Nacional de 31 de Dezembro.
Convido-vos, caros irredutíveis gauleses, caso não tenham o tempo ou a paciência de escrever o vosso próprio protesto, a copiar a minha carta e enviá-la também.
Este tipo de comportamento, de (falta de) escolhas é demasiado grave para passar impune.
"Exmos Srs.,
Esperando não ser o único a fazê-lo, pretendo protestar veementemente pela transmissão, no Jornal Nacional de 31 de Dezembro passado, pouco depois das 20h00, de imagens não editadas previavemente da filmagem clandestina da execução de Saddam Hussein, as quais a TVI passou, repito, sem edição prévia e mostrando TODOS os detalhes que de tão fortes nunca deveriam ser transmitidos.
Normalmente, ao deparar-me com algo que não é do meu agrado na vossa emissão, não me daria ao trabalho de vos escrever. Carregar no botão do telecomando da TV é mais fácil. No entanto, o que vi na referida emissão é demasiado grave para passar impune.
A actualidade noticiosa impunha, como se compreende, a divulgação das imagens clandestinas da execução de Saddam Hussein. O que não é e não pode ser compreensível é o facto de, como seria inteiramente lógico e à semelhança das vossas concorrentes directas, a TVI ter optado por transmitir NA ÍNTEGRA as referidas imagens, com todos os pormenores. Desconheço se houve advertências prévias, pois só vi as imagens propriamente ditas, mas independentemente disso senti-me indignado e agoniado, mesmo eu, adulto de 27 anos raras vezes impressionável, pelo que não consigo sequer imaginar o que terão sentido os muitos milhares de crianças que tenho a certeza a TVI não ignorará estarem aquela hora a ver a vossa emissão.
É portanto de uma irresponsabilidade extrema, para além de um mau gosto que ultrapassa todas as fronteiras e revela uma falta de critérios, jornalísticos, éticos, mesmo de racionalidade, a transmissão de tais imagens sem edição prévia. Tal é absolutamente intolerável e não deveria passar sem censura das autoridades para tal competentes.
Infelizmente, como simples cidadão que ainda possui alma, humanidade, e por isso se indigna com imagens que não deveriam, NUNCA, passar na televisão, apenas posso protestar veementemente e assim manifestar a minha indignação, o meu nojo, por esta conduta da vossa parte. Anuncio também que a partir deste momento boicotarei conscientemente a vossa emissão, particularmente as notícas, e apelarei a todos os meus familiares, amigos e conhecidos para que façam o mesmo e deixem de sintonizar a TVI em quaisquer circunstâncias e sobretudo durante os vossos noticiários.
Cordialmente
António Rufino"
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Terça-feira, 2 de Janeiro de 2007
Da condenação à morte de Saddam Hussein já aqui tinha falado,
aqui e
sobretudo aqui. Da confirmação de tal pena também falei
aqui.
Agora, executada tal sentença, levada a cabo, acrescento, da forma mais vergonhosa e indigna possível, em quase total segredo, pelo meios de vivas a Moqtada al-Sadr (ficámos assim a saber quem manobrou clandestinamente para apressar a execução, e quem verdadeiramente a levou a cabo), escrevo de novo. Não sobre a sentença em si, a qual já condenei veementemente e que para além de atentar contra os Direitos Humanos é absolutamente inútil no actual estado do Iraque e visa exclusivamente um único fim, a vingança, mas escrevo sobre as imagens que nos chegaram da execução.
As imagens "oficiais", as que de imediato chegaram às nossas televisões, eram na medida do possível sóbrias, percebendo-se que visavam unicamente servir de prova da morte do ex-ditador.
Dias depois, chegam-nos imagens "clandestinas", filmadas com telemóvel, em que se percebe melhor o ambiente carregado, indigno, sujo, em que decorreu a execução: insultos, vivas ao "senhor da guerrilha" Moqtada al-Sadr e a Alá... tremi ao ver as imagens na RTP1, mas gostei dos graves avisos de José Alberto Carvalho quanto à violência das imagens - mais psicológica que outra coisa, pois apenas algumas partes foram passadas, numa correcta e quanto a mim óbvia decisão editorial.
Distraidamente, fiz um pouco de
zapping para confirmar se a mesma notícia merecia também honras de abertura nos restantes noticiários nacionais. Ao chegar à TVI, estarreci: imagens não editadas, mostrando absolutamente TODOS os pormenores da execução - e até eu, raríssimas vezes impressionável, fiquei enojado.
Enviei de imediato SMS a alguns amigos a dar conta deste nojo, e apelando a um boicote à TVI (o que já ocorre em princípio por definição, dado o nível de qualidade das suas notícias e do resto da programação) e ao envio de cartas de protesto para a TVI.
Agora, alargo este apelo aos dois ou três interessados leitores do Altermundo para que o façam também.
Não tenho mais palavras para descrever o que a TVI fez poucas horas antes da passagem de ano, aliás numa altura em que imensas crianças estariam a ver a TVI (não sei que explicações poderia dar a um filho meu que visse tais imagens... o que dizer? como explicar o inexplicável?), mas também penso que não são necessárias palavras, apenas o nojo, nojo, nojo..
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Quarta-feira, 27 de Dezembro de 2006
Há uns dias, perguntavam-me, incredulamente, se eu achava que Saddam Hussein seria mesmo executado. Eu respondi, sem sombra de dúvidas, que sim.
Agora aí está a confirmação da pena de morte pela morte de cerca de 160 curdos da aldeia de Dujail, em 1982 - e quando ainda se desenrolam os primeiros capítulos do julgamento da odiosa
campanha Anfal - que terá de ser levada a cabo nos próximos 30 dias. Reitero a minha convicção de que serão os últimos dias da vida de Saddam Hussein, pois não acredito que quem tem poder para decidir uma eventual comutação da pena - o governo iraquiano - ou para a impor - os Estados Unidos - queira semelhante cenário.
A morte de Saddam, de resto, será totalmente inútil e se algum efeito tiver será o de exacerbar ainda mais os conflitos sectários, inflamando a já inflamada verve sunita. Uma comutação teria exactamente o mesmo efeito, mas exacerbando nesse caso a também já inflamada verve xiita e curda.
Portanto, quer morra quer viva Saddam é já totalmente inútil para o futuro do país que governou. Nesse sentido, para quê uma vã violação dos Direitos Humanos? Não será concerteza para fazer justiça, mas para um só e por isso desprezível propósito: vingança.
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Quinta-feira, 7 de Dezembro de 2006
A citação é dos Monty Python, e a situação no Iraque é por estes dias quase tão absurda como os
sketches destes - só não é igualmente hilariante, e muito menos igualmente genial...
Vem esta citação a propósito da apresentação do Iraq Study Group (versão integral
aqui) do encomendado plano para a reformulação da estratégia americana no Iraque.
Essencialmente, resume-se áquilo que, pelo menos para europeus informados, não é mais que verdades de La Palisse: a actual política de Washington está a ter resultados desastrosos, pelo que é necessário alterá-la substancialmente; todos os actores regionais, incluindo a Síria e o Irão, devem ser envolvidos na estabilização do Iraque e do Médio Oriente, o que passa também pela resolução de situações como a do Líbano ou a da Palestina; aumentar o número de tropas no Iraque não resolve a situação, reduzi-lo também não, pelo que é necessário progressivamente dar mais responsabilidade às tropas iraquianas; o grande desafio é a "reconciliação nacional" entre árabes xiitas e sunitas e curdos.
Tudo isto, todas estas "brilhantes" conclusões, não é novo, mas tristemente tudo isto é fado...
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Quinta-feira, 16 de Novembro de 2006
Após a derrota nas eleições intercalares, o governo Bush e o seu correligionário Blair parecem ter percebido finalmente aquilo que desde sempre esteve à frente dos seus olhos: que o problema do Iraque - que foi por ele criado - não pode ser resolvido olhando apenas para o próprio Iraque, como se ele estivesse isolado do resto da região, como se não houvesse interacções óbvias entre os vários actores geoestratégicos do xadrez do Médio Oriente.
Propõem-se agora, em gestos de suposta magnanimidade, propor à Síria e ao Irão uma participação no futuro do Iraque - como se, agindo como até agora, elas não estivessem já a desempenhar tal papel... Mas isto os Estados Unidos e o Reino Unido sabem-no; trata-se, portanto, de chamar estes dois actores ao palco certo, ou seja, a uma actuação conforme aos planos de Washington para a região.
No Público de ontem faz-se uma tentativa de análise do que poderá estar em cima da mesa, num ainda putativo diálogo diplomático entre Washington e Londres, de um lado, e Damasco e Teerão, do outro:
"O preço que Teerão e Damasco pediriam em troca da ajuda no Iraque seria muito alto, concordam vários analistas. Aparentemente, os dois países querem negociações genuínas e não limitadas a determinados temas. E exigem debater a questão israelo-palestiniana para obter uma "paz justa".
Isto parece-me lógico. Não é expectável obter qualquer concessão se não se negociar seriamente, e isso implica que não haja dossiers não negociáveis.
"A Síria, pelo seu lado, ambiciona recuperar a sua influência no Líbano, negociar a devolução dos Montes Golã, conquistados e anexados por Israel. Estará também interessada num compromisso quanto ao tribunal que julgará os suspeitos da morte do antigo primeiro-ministro libanês Rafiq Hariri. O processo deve incluir responsáveis de Damasco e libaneses aliados do Presidente sírio, Bashar al-Assad, que nega envolvimento."
Penso que uma negociação franca das duas partes deveria obter como resultado uma ajuda síria em troca da devolução dos Montes Golã, já que um compromisso em torno da questão Hariri seria moralmente nefasto para o Ocidente. Tendo dito isto, estou convencido de que os ditames da realpolitik levarão a que se recuse negociar a devolução dos Montes Golã - que a Síria legitimamente reclama a Israel, mas que este país por intermédio do seu grande amigo americano nunca aceitará - e se aceite um compromisso espúrio em torno do futuro julgamento dos supostos envolvidos na morte de Hariri. E os americanos têm experiência em julgamentos politicamente enviesados...
"O Irão, por seu turno, não deverá contentar-se com menos do que uma normalização das relações com os Estados Unidos - uma reversão completa do antagonismo actual - e o direito de prosseguir o seu programa nuclear."
Aqui, penso que a normalização das relações diplomáticas com Washington - e por arrasto com os restantes países ocidentais - é algo de perfeitamente razoável e a utilizar sem dúvida como moeda de troca. Duvido no entanto que tal seja suficiente para que Teerão (cujo poder de influência é grande, por oposição ao limitado papel que a Síria, mesmo que o queira, poderá desempenhar) venha a ter um papel preponderante na estabilização do Iraque tal como a desejam os Estados Unidos.
Como não me parece que seja viável um acordo quanto à pedra de toque, o dossier nuclear - de que Teerão só muito dificilmente, sob pressões que o Ocidente não está em condições de colocar, abdicará - veremos apenas um papel limitado do Irão no refreamento dos amigos xiitas iraquianos. Porque é óbvio que, com os xiitas no poder e de rédeas razoavalmente livres (tendo Teerão as mãos nessas rédeas para casos de emergência), o Irão ganha um inestimável aliado na região e estende mais o seu poder e o seu peso político-diplomático.
É isto que neste momento me parece inevitável e constitui certamente um quebra-cabeças a fazer lembrar aqueles problemas de xadrez que aparecem em certos jornais, o qual os diplomatas americanos quase certamente não saberão ou não conseguiram resolver... Também nisto, neste "pensar muito à frente", Bush, enquanto presidente da mais poderosa nação do mundo - e qualquer um nessa posição tem de ser um excelente jogador de xadrez político, e qual Kasparov saber antecipar o movimento do adversário várias jogadas à frente - também nisto, repito, Bush devia ter pensado quando, 5 jogadas atrás no tabuleiro do Médio Oriente, avançou os seus peões sobre o adversário...
(gentilmente surripiado ao regressado
Max :)