Sexta-feira, 1 de Fevereiro de 2008

Bom dia, boa tarde ou boa noite, é conforme

Os Gato Fedorento podem estar em (saudável) pousio, mas isso não impede Ricardo Araújo Pereira, não sei se com a ajuda dos outros gatos, de estar em cima do acontecimento! (até porque consta que tiveram alguma inside information, visível nalguns pormenores do video)
Brilhante como sempre!

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"Obrigado, pá. Obrigado por tudo."

"Obrigado, pá. Obrigado por tudo." (Sócrates para Correia de Campos durante a cerimónia de pancadas nas costas de adeus ao ex-ministro)
Obrigado por:
  • acabar com a exclusividade de propriedade de farmácias por farmacêuticos, afrontando este poderoso lobby (bom)
  • certificar-se de que a referendada lei do aborto é aplicada em todos os hospitais, incluindo no quintal do sr. Jardim (muito bom)
  • aplicar sistemas de controlo de pontualidade no SNS (bom e relativamente mau)
  • não saber comunicar com os médicos na questão do controlo de pontualidade como noutras questões, fazendo com que os médicos do sector público se sintam parte do problema do SNS e não parte da solução - aumentando assim o sentimento de que talvez trabalhar no privado seja melhor, afinal de contas (mau)
  • reformular a rede de maternidades (bom)
  • não saber comunicar aos portugueses a bondade e necessidade dessa reformulação (mau)
  • reformular a rede de urgências (bom)
  • não saber comunicar aos portugueses a bondade e necessidade dessa reformulação (mau)
  • não se assegurar de que antes do encerramento de qualquer serviço de urgência estava já implementada a alternativa gizada para cobrir a área afectada - e que na maior parte dos casos irá ainda demorar bastante tempo - fazendo com que a população dessa área ficasse desprotegida e se sentisse, mais do que isso, simplesmente abandonada (mau, muito mau)
  • não se aperceber de que numa situação em que as populações de muitas zonas já se sentem - já estão - desprotegidas, era essencial que a rede de resposta a emergências (112, VMER, ambulâncias) funcionasse na perfeição, apenas reagindo a casos surgidos nos media fazendo repentinamente reformular a rede de emergências, em lugar de o fazer em antecipação a problemas que já sabia acontecerem há muito tempo e que devia saber que ao acontecer neste período conturbado teria uma repercussão mediática e pública desmesurada (muito mau)
As notas do ministro neste seu curso de 3 anos foram então, nesta avaliação à la prof. Marcelo: 1 muito bom, 3 bom, 1 suficiente, 3 mau, 2 muito mau. 5 positivas, 5 "negas" - balanço mitigado portanto, fazendo assim perceber por que foi um ministro tão controverso, amado por alguns, odiado por muitos (entre os quais me confesso incluir, como foi patente a todos os que visitaram esta gaulesa aldeia quase desde a sua fundação).
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um discurso de Abraracourcix às 09:24
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Terça-feira, 29 de Janeiro de 2008

Alvíssaras! alvíssaras! A Besta demitiu-se!

Soube há um par de horas desta notícia bombástica e vim a correr para casa escrever a minha alegria no Altermundo: Correia de Campos, ou a Besta, como era conhecido aqui nesta gaulesa aldeia - com direito a fotografia hiper-realista na barra do blog - demitiu-se! Afinal talvez ainda haja esperança para o Serviço Nacional de Saúde...
Entretanto, aproveitem a foto da Besta (já que será a última vez - espero - que ela será vista por estas bandas) e, num exclusivo Altermundo/Agência Gaulix, o diálogo que precedeu o pedido de demissão do ministro:



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Sexta-feira, 12 de Janeiro de 2007

Imposto sobre a saúde + hospitais SA/EPE = SPS (Sistema Privado de Saúde): a pulga atrás da orelha

Ontem no Diário Económico dizia-se:

"Governo estuda novo imposto

"A comissão que estuda o actual modelo de financiamento do Serviço Nacional de Saúde vai propor ao Governo a criação de um novo imposto para garantir que o sistema não vá à falência. (...)
No documento ontem debatido afirma-se que “caso venha a ocorrer uma insustentabilidade das contas públicas, o financiamento do SNS será garantido pelo Orçamento do Estado e por contribuições compulsórias definidas com base no rendimento, para a instituição que tem a seu cargo o seguro público complementar”.
(...) numa primeira fase, a intenção da comissão é que ele seja de adesão voluntária. A ideia é criar “um seguro complementar público, em que coberturas adicionais são garantidas contra o pagamento de contribuições, eventualmente ligadas ao rendimento, dos beneficiários que escolham esta cobertura complementar”. No entanto, se a situação das contas da Saúde se mantiver no vermelho é que a comissão recomenda ao Governo que lance um novo imposto dedicado exclusivamente à Saúde.

(...)  Dez medidas para financiar a Saúde

(...) 8 - Contribuições compulsórias com base no rendimento
É a medida mais extrema: uma espécie de novo imposto destinado apenas a financiar a prestação de cuidados de saúde, e com contribuições obrigatórias dos cidadãos consoante o seu rendimento. A comissão admite que existem “óbvias semelhanças com um aumento de impostos”, mas salienta que há diferenças. Por um lado, a obrigatoriedade de as verbas irem para os gastos com a Saúde e, por outro, o facto de haver uma entidade própria a gerir essas verbas, além de uma “menor resistência da população”. [como?!?]

Hoje, no Diário de Notícias, o desmentido:

"Governo afasta criação de novo imposto para a Saúde

"O Governo garante que não vai criar "novos impostos" para pagar os cuidados de saúde. O lançamento de uma contribuição feita por cada português, consoante o seu rendimento, é um dos cenários equacionados pela comissão que está a estudar um modelo alternativo para financiar o sector. Mas foi ontem excluído pelo ministro Correia de Campos, mesmo antes do relatório com as recomendações finais ser entregue à tutela.
Em comunicado, o Ministério da Saúde "nega categoricamente" que vá adoptar esta medida. (...)"


Eu, que gosto de matemática e resolvo facilmente a equação "imposto sobre a saúde + hospitais SA/EPE = SPS (Sistema Privado de Saúde)" já me preparava para escrever o post "Serviço Nacional de Saúde (1974-2007). Paz à sua alma" e mandar rezar uma missa à sua memória (se o sr. DGCI pode, eu também posso), vou para já deixá-lo on hold...
Não porque o desmentido ministerial me tenha convencido - "atirar o barro à parede" é uma das mais velhas tácticas políticas: depois desmente-se, espera-se, mas entretanto a pequena pulga já ficou atrás da orelha e vai fazendo o seu caminho, permitindo mais tarde aplicar a medida sem grande polémica.
Espero, muito sinceramente, que não seja este o caso. Espero ainda mais sinceramente não ter de um dia dizer "já não me revejo neste país" - esse dia já esteve mais longe, eu sei...
O epitáfio já está portanto escrito. Resta saber se - quando - a "Besta" me vai obrigar a aplicá-lo.
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Terça-feira, 9 de Janeiro de 2007

O nome da Besta: Correia de Campos

Esta é a minha singela homenagem ao corajoso sequaz de Satanás - ele mesmo, aquele que quer implodir o Sistema Nacional de Saúde e fazer dos seus cacos o Serviço Privado de Saúde, engrossando o seu diabólico lucro naturalmente.

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Quarta-feira, 3 de Janeiro de 2007

Assiduidades, impressões digitais, insultos ministeriais: o fim do SNS tão próximo...

O Hospital Pedro Hispano - onde conheço muitos médicos, para ficar desde já claro o meu "registo de interesses" - está em ebulição, devido ao anunciado controlo de assiduidade dos profissionais por meio da sua impressão digital, medida a que os médicos se opóem veementemente por verem nela uma afronta à qualidade - e quantidade - do seu trabalho, e por pensarem que esta medida apenas levará todos os médicos a cumprirem escrupulosamente os horários; como há muito mais médicos que trabalham horas a mais do que os que trabalham a menos, isto levará à degradação dos cuidados prestados.
Concordo com a necessidade de os horários dos médicos serem monitorizados. No entanto, concerteza por influência de quem conheço, sou bastante sensível ao que a Sofia Loureiro dos Santos apelida de "reverso da medalha", e que não só é sub-valorizado (ignorado até, na ofensiva do ministro na opinião pública) como é "sabotado" pelos próprios médicos, que ao falar não se cansam de dar tiros nos pés.
E o que é então para mim o reverso da medalha? Falo do que conheço por experiência próxima, naturalmente, mas do que sei asseguro que, por cada médico que trabalha menos que as contratualizadas 42 horas semanais (isto em relação aos que têm vínculo à função pública; quanto aos contratos individuais de trabalho, que são cada vez mais comuns, essa é outra questão), há pelo menos 3 que trabalham mais, muito mais, que as horas "normais".
De tal forma que, para mim, o problema não é no controlo da assiduidade "per se", mas antes na absoluta certeza que tenho que, se todos os médicos sem excepção trabalharem as horas devidas, nem a mais nem a menos, com todos os deveres (assiduidade, pontualidade) e direitos (folgas) a que têm direito, se isso acontecer os hospitais passarão a funcionar muito pior do que até agora.
Exemplos há bastantes. As consultas para começar: há imensos doentes com consultas marcadas para as 8h00, por exemplo, que só são atendidos às 10h00; afirmo com conhecimento de causa que isso acontece porque as consultas são muitas vezes marcadas com intervalos de 10 minutos, às vezes havendo até várias marcações para a mesma hora. Ora como muitos doentes demoram mais que 10 minutos na consulta, o que acho perfeitamente razoável, é natural que as consultas vão atrasando... os doentes não têm culpa, obviamente, mas os médicos também não.
Este problema só será agravado se os médicos forem compelidos a cumprir horários: porque, pelo menos no hospital que conheço melhor, o limite de doentes por médico é de 12. Cada médico vê, no mínimo, 20 - muitas vezes 30 ou 40 (e isto é rigorosamente verdade), implicando sair do hospital às 20h00 em vez de às 17h00... ora se passarem a cumprir o horário, saindo à hora certa e vendo o número certo de doentes, as listas de espera de consultas (muitas delas importantes, urgentes até) vão engrossar insuportavelmente. E o mesmo para as cirurgias, se os médicos deixarem de operar por isso implicar sair bem depois do horário estipulado...
Este é o ignorado reverso da medalha, com potencial suficiente para levar o SNS até novos abismos de desencorajamento, para médicos ou futuros médicos, e para doentes que cada vez menos quererão ir aos hospitais e se conformarão com a elevada conta do médico privado. Isto é o que na realidade está por trás de decisões aparentemente "justas" como a de controlar a assiduidade dos médicos. Quando o ministro diz, como ontem, que até é positivo que os médicos deixem de dar "borlas" aos hospitais, fá-lo na certeza de com isso beneficiarem o sector privado, de onde o sr. Correia de Campos é oriundo e para onde voltará quando deixar de ser ministro.
Volto a frisar que, de uma forma ou outra, deve haver controlo, aliás nem acho que os próprios médicos tenham assim tanto contra isso. O problema é que está a ser insinuado na opinião pública - ou, como ontem, dito com todas as letras pelo ministro - que é a classe médica, como um todo, que não trabalha porque não quer, e é isso que passa sempre para a opinião pública.
Os médicos que conheço não são contra o controlo de assiduidade, mas vêm este discurso como uma afronta, um insulto (embora não o saibam dizer para a opinião pública e a sua opinião, incorrectamente expressa, passe como corporativismo). Muito mais quando o ministro insinua, como ontem, que os casos de sobrelotamento das urgências (a da Feira, no caso) não são verdade e diz aos médicos, claramente, que "chega de patriotismo barato" e que "quem não queira trabalhar que se vá embora".
Mais grave ainda, disse aos internos - os especialistas de amanhã, os que supostamente vão suprir as necessidades que existem - que "se sentem que não lhes dão as condições para uma correcta aprendizagem, que vão para Espanha". Isto é que é um discurso de quem se preocupa com o SNS? Isto é um discurso de quem não quer saber, porque a perda de uns (público) será sempre o ganho de outros (privado).
E é fácil ver como tudo isto poderá beneficiar o sector privado: mesmo se nenhum médico sair do público (os quais iriam obviamente para o privado), se os hospitais públicos reduzirem a qualidade do serviço que prestam, como estou convencido de que acontecerá se TODOS os médicos cumprirem o que têm a cumprir (volto a repetir, há muito mais médicos que fazem horas a mais do que os que fazem a menos), se o serviço público piorar, mais e mais doentes optarão, ou ver-se-ão obrigados, a recorrer ao sector privado.
Está à vista de todos, e não é de agora, é de há muitos anos, simplesmente agora é gritantemente visível...

PS - Também é revelador dos interesses em jogo que nenhum partido - com a excepção do recorrente grito de alerta do PCP, que infelizmente por vir do "partido da cassette" não tem praticamente destaque (afinal, é só mais uma cassette) - que nenhum partido, dizia, se levante contra esta lenta - agora já não tão lenta - degradação do SNS...
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Terça-feira, 28 de Novembro de 2006

Cenários pós-vitória do Sim no referendo: SNS ou privados?

É uma discussão muito pertinente, dilema que já me assaltou mas ainda não tinha visto explanado em nenhum sítio. Entrei agora no blog Pelo Sim (vai também para a barra direita, secção relativa ao referendo: "olha o peixe fresco!"), onde um dos autores, EPB, levanta o assunto para se mostrar favorável à realização da IVG, caso a sua despenalização seja aprovada, no Sistema Nacional de Saúde (SNS). Sem ter ainda a minha opinião consolidada quanto a isto, pendo mais para o lado do SNS, embora também já tenha ouvido partidários do SIm oporem-se à realização de IVGs no sistema público... mais uma discussão com pano para mangas.
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Quarta-feira, 4 de Outubro de 2006

Reorganização da rede de Urgências hospitalares: no papel é uma coisa...

...na realidade poderá revelar-se outra diferente. Isto porque a comissão de peritos encarregue do processo, a julgar pelos sinais, só conhece mesmo o país no papel - só assim consigo explicar algumas das decisões tomadas.
Se o encerramento de algumas urgências me parece relativamente pacífico numa lógica de racionalização (Vila do Conde, Fafe, Sto. Tirso, Estarreja, Cantanhede, Anadia, Fundão, Montijo, todas elas já de diminuta importância; mesmo Macedo de Cavaleiros, onde já estive, custa-me aceitar mas até compreendo), já o de outras me levanta questões que não vi respondidas: Régua não fica demasiado longe de Vila Real para justificar o encerramento? O encerramento simultâneo das uirgências de Espinho, São João da Madeira e Ovar, que passarão todas a drenar para o Hospital da Feira, não sobrecarregará em demasia este último?
E o que dizer do encerramento da urgência do Curry Cabral, que apenas prestava apoio em algumas áreas relacionadas com trauma? Se, como li hoje, "com 529 mil habitantes, considera-se que três hospitais com urgências do tipo polivalente e médico-cirúrgicos em Lisboa são suficientes", por outro lado, ontem dizia-se que "entre os critérios está a população servida (uma urgência por 120 mil habitantes)"... Não bate certo, pelo menos na minha matemática...
Um olhar atento à zona que conheço melhor, por ser onde vivo, é revelador das limitações do trabalho realizado pelos ditos "peritos"... e se estas limitações ocorrem no Grande Porto, também tenho de admitir que ocorram noutras zonas, que por não conhecer tão bem não vou abordar. No âmbito da reestruturação, e tendo em conta o citado critério, que é tido como o mais importante, de uma urgência para 120 mil habitantes, é em toda a linha questionável a perda de valências do Hospital de Gaia (passará de polivalente para médico-cirúrgico apenas) - só o concelho de Vila Nova de Gaia tem pelo menos duas vezes os tais 120 mil habitantes...
Junta-se a isto o encerramento da urgência de Vila do Conde (que em si não é questionável) e a perda de valências da urgência da Póvoa de Varzim (passa de médico-cirúrgico para "serviço de urgência básico"), ambos em zonas que drenam para o Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e as declarações da directora do serviço de urgências deste, atestando que, sendo  "os casos graves desta zona serão, assim, transferidos para Matosinhos que, já com uma média superior a 300 atendimentos por dia, terá sérias dificuldades em acolhê-los, a não ser que os recursos humanos sejam reforçados e as instalações adaptadas. "Esta urgência foi programada para 200 doentes por dia".
Temos assim um exemplo de como os ditos "peritos" não parecem ter tirado os olhos do papel. Para além disso, também não me parece que tenham visto o sistema como um todo, mas antes olhando para cada caso isoladamente. Veremos se a realidade contradiz ou corrobora o papel...
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Terça-feira, 3 de Outubro de 2006

Os portugueses, o aborto, a SIDA e o princípio da avestruz

Ontem, escrevi isto em comentário a um post do armadilhas acerca do aborto:

"Os portugueses têm uma particularidade (não sei se isto se verifica noutros povos): não querem que lhes digam coisas desagradáveis; fogem como podem de verdades desagradáveis; mesmo quando no seu íntimo sabem a verdade desagradável, escondem-na de si mesmos; em suma, tornam-se avestruzes. E os portugueses acham que o aborto é uma coisa desagradável. Sabem que é uma questão premente que é preciso resolver, mas não querem que lho digam frontalmente."

Deparei-me hoje com um artigo do Público da passada quinta-feira que, à luz deste, chamemos-lhe assim, "princípio da luso-avestruz", ganha nova relevância.
A relevância da minha reflexão é a aplicação deste princípio não só ao referendo sobre o aborto, como no comentário anterior, mas às elevadas taxas de infecção de HIV em Portugal e ao fracasso das campanhas de sensibilização e alteração de mentalidades.
O artigo fala de um livro lançado a semana passada, onde se chega à conclusão que os portugueses negam para si mesmos a probabilidade de contrair SIDA tem e a importância de se protegerem - porque é algo que "só acontece aos outros", aos "drogados", aos "maricas", às "putas". Acima de tudo, é desagradável que lhes digam que não é assim, que o que é relevante são comportamentos de risco onde se inclui as relações sexuais desprotegidas.
É desagradável que lhes digam "vocês também podem contrair o HIV". E como é desagradável, gera-se um mecanismo mental que remete essa informação para um cantinho ignorado do cérebro - o "cantinho da avestruz", de elevadíssimas proporções nos portugueses.
Excertos do artigo:

"Sida desencadeou mecanismo psicológico de negação"

"Que um homem nascido na década de 1950-60 - quando a iniciação sexual se fazia muitas vezes com uma prostituta - desconheça as formas de contágio da sida e tenha comportamentos de risco entende-se; que "jovens nascidos da era da sida" façam o mesmo é motivo de estranheza, defendem os autores de A sida em Portugal e o contexto sociopolítico, que hoje é lançado em Lisboa.
O livro tenta explicar por que razões falharam as campanhas de prevenção da epidemia. Portugal mantém-se como um dos Estados-membros da União Europeia com piores índices da infecção. Isto mais de 20 anos depois do primeiro caso no país, em 1983.
Os autores pegam num exemplo. Num estudo de 2004 provou-se que o risco de contágio associado aos serviços de saúde é sobrevalorizado pelos portugueses. Na realidade, "o risco é mínimo mas a população não se convence disso", lamenta um dos autores, Fausto Amaro, sociólogo e professor do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.
Desde o início da epidemia houve uma associação entre o HIV/sida e grupos de risco: homossexuais, toxicodependentes e prostitutas. Embora a epidemia esteja hoje a crescer sobretudo entre os heterossexuais, a associação a grupos estigmatizados permaneceu. Os inquéritos foram revelando que, muitas vezes, é ignorado o risco de contágio pessoal por pessoas que se julgam invulneráveis por não pertencerem a estes grupos.
As autoridades de combate à epidemia decidiram, há cerca de uma década, mudar o vocabulário, para tentar criar a ideia de que todos correm risco: passou-se a falar de "comportamentos de risco" em vez de "grupos de risco". Mas a "bem intencionada alteração" não veio contrariar crenças arreigadas. "A sida desencadeou em Portugal um mecanismo de negação da doença que deu origem à deficiente percepção do risco de infecção pelo VIH", defendem.

"Os autores passam em revista as várias campanhas anti-sida levadas a cabo pelo Estado e associações como a Abraço. O tom variou entre o informativo, dramático e até humorístico. Ora, são já vários os estudos - no campo do tabaco, obesidade, álcool ou drogas - que demonstram que a informação não basta para mudar comportamentos. E o medo também não, explicam os autores. A pessoa evita captar mensagens que lhe são incómodas. E campanhas para assustar "podem levar a mecanismos de negação da doença ou de estigmatização dos indivíduos atingidos", lê-se na obra.
(...) Fausto Amaro afirma que existe "falta de um plano sistemático e de campanhas de sensibilização contínua". (...) Os autores passam em revista o processo de desenvolvimento do indivíduo desde a infância, quando se começa a desenvolver a identidade pessoal e social, que vai influenciar comportamentos futuros. "A educação da criança é um todo. A educação para a saúde deve começar nas escolas primárias", incutindo-se desde o início, por exemplo, "o sentido de responsabilidade individual, a promoção do respeito entre rapazes e raparigas", sublinha Louise Cunha Teles. É nesta fase que se começa a mudar comportamentos."

(Catarina Gomes)
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Segunda-feira, 25 de Setembro de 2006

Existe futuro para o Serviço Nacional de Saúde?

A Sofia @ Defender o Quadrado informou-me, nos comentários a um seu (como de costume interessante) post, de uma notícia do Diário Económico acerca de um estudo, que neste momento estará sobre a mesa do ministro, relativo à sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS). No seguimento da pequena discussão que mantive com ela a respeito desse post e, sobretudo, do recente e polémico anúncio de alargamento do âmbito das taxas moderadoras, sobre o qual tanto eu como ela já escrevemos, julgo que o estudo é uma excelente quadro contra o qual avaliar as futuras decisões ministeriais em relação ao SNS.
Para quem não queira ou não tenha paciência de ler a notícia, em resumo ela trata de um estudo que o sr. Correia de Campos encomendou a um grupo de sete ditos "peritos" que equaciona sete hipóteses de enfrentar o crescimento galopante do buraco do SNS - mais a hipótese que em Economia se designa de ceteris paribus, que consiste em nada fazer. Dessas sete, para os peritos, só duas não são totalmente de rejeitar, embora mereçam muitas reticências: aumentar os impostos e, precisamente, aumentar os "co-pagamentos". A notícia apresenta também, em resumo, as vantagens e desvantagens de cada uma das hipóteses considerada:

"Não fazer nada
(+) É a primeira proposta, e está apresentada. Aqui, deixava-se evoluir naturalmente o actual sistema de financiamento.
(-) O aumento dos custos seria incomportável, a prazo, para os cidadãos e para o próprio Estado. O actual ministro da Saúde, aliás, já o disse por mais de uma vez.

Saída do Serviço Nacional de Saúde (’opting out’) [traduzindo, passagem para a esfera privada de componentes do SNS, ou seja, venda aos privados de hospitais...]
(+) A comissão não apresenta qualquer vantagem para este modelo de financiamento.
(-)  Haveria um aumento do consumo de actos médicos sem o consequente aumento da saúde da população, e as seguradoras não teriam capacidade para absorver a procura destas soluções.

Aumento dos impostos (canalizados para a saúde)
(+) Uma das opções de financiamento para assegurar a sustentabilidade do SNS é o aumento da tributação, sendo um aspecto crucial o crescimento da própria economia.
(-) O cenário de aumento médio de 33% das necessidades de financiamento da Saúde, em clima de baixo crescimento económico, é o que mais se aproxima da situação actual.

Aumentar os pagamentos directos da população
(+) É uma solução atractiva porque aumenta a contribuição da população e poderá exercer um efeito moderador sobre o consumo.
(-) Cria maior incerteza financeira e leva a que quem utiliza mais pague também mais, destruindo parcialmente a solidariedade entre quem tem saúde e quem precisa de cuidados.

Limitação da cobertura do Serviço Nacional de Saúde
(+) Tem a vantagem financeira de poder negar o acesso a quem tenha uma doença que não esteja coberta pelo sistema.
(-)  É inconstitucional, desvirtua a lógica do Serviço Nacional de Saúde e dificilmente seria proposto por um partido político ou aceite pela população.

Organização de Agências de Financiamento local [esta não percebi o que seria...]
(+) A vantagem é uma  responsabilização acrescida dos eleitos locais pela saúde das suas populações.
(-)  Leva à criação potencial de uma diferenciação da qualidade na prestação dos cuidados de saúde.

Criação de planos de poupança saúde
(+) Permitem a transferência de risco de um modo intertemporal para o mesmo indivíduo, garantindo o aspecto da protecção contra o risco, sem qualquer impacto na redistribuição no sistema.
(-) No actual contexto sociológico português, não parece admissível que instrumentos desta natureza tenham mais do que um papel supletivo, voluntário e alicerçado nos privados."

Escrevo este post para explanar duas reflexões. Em primeiro lugar, a mera consideração de todas estas alternativas, mesmo se o ministro parece já ter optado pela estratégia de aumento dos "co-pagamentos", não invalida que não venha a aplicar outras. Considerando a "peça" que governa (?) a Saúde, não me admiriaria mesmo de ver consagradas algumas das que os peritos consideram como liminarmente rejeitáveis...
Em segundo lugar, gostei de ler que os tais "peritos" chegaram à mesma conclusão que eu, reles licenciado em Economia: segundo a notícia, "a comissão sublinha que “a sustentabilidade financeira do SNS reside fundamentalmente no controlo da restante despesa pública[o negrito é meu] e exemplifica: “Se a restante despesa pública crescesse apenas 2% ao ano, isso libertaria espaço fiscal suficiente para um crescimento das transferências do SNS consentâneo com um seu desenvolvimento normal e em condições de eficiência”. Aqui está, para mim, a solução ideal para o SNS, e que estará radicalmente nos antípodas daquilo que o ministro fará...
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Quarta-feira, 20 de Setembro de 2006

Crónica de uma morte anunciada

Longe de polémicas entre srs. Coutos paranóicos carreiristas e dois ou três autores de "blogs obscuros" com "interesses [ainda mais] obscuros" (por sinal dos mais fiéis "irredutíveis gauleses" que vão tendo a paciência de me ler e ocasionalmente comentar), no Altermundo prefiro dar relevo ao que é realmente importante neste nosso bananal. Ao escândalo. Ao choque. Ao horror. Vamos ver:
Ontem, o ministro da Saúde (??) anunciou que vai instaurar taxas moderadoras para os internamentos hospitalares e cirurgias. Mas como o ministro é uma pessoa muito boazinha, tratou logo de frisar que uma larga percentagem dos utentes já estão isentos de tais taxas - dadores de sangue, cancerosos, tuberculosos e seropositivos, respirem fundo. Todas as poucas pessoas (caberiam numa qualquer abandonada aldeia transmontana, a acreditar no ministro) que não se incluem numa ou em mais destas categorias vai ter de mudar de passatempo. Em vez de pedir para serem internados e operados - sim porque todos sabemos que um doente só é internado porque quer, o médico é apenas o maître d'hôtel que apresenta o menu de cirurgias, "a operação do dia está deliciosa hoje, senhor" - para resolver a sua hérnia, ou cancro da próstata, ou pneumonia, ou ataque cardíaco, estes desavergonhados que vão mas é para a praia, que o mar tem efeitos curativos importantíssimos nas hérnias, cancros da próstata, pneumonias e, consta (ainda não está provado), até nas hemorróidas.
O problema disto é que o próprio ministro reconhece que os € 7 que vai cobrar a cada internado (por dia?), mais provavelmente outro tanto por cirurgia, é apenas uma quase insignificante contribuição para o buraco do SNS - a intenção é apenas "moralizar" o sistema. Porque, como já disse, os médicos são apenas maîtres d'hôtel que falharam a vocação, e os doentes são todos ricaços que se pelam por uma cama de enfermaria na companhia de outros cinco endinheirados.  "Qual spa?! Caldo de bactérias multi-resistentes é o que está a dar!", dizem uns aos outros entre uma tossidela e uma falha de respiração.
O ministro, que é um guru da moda, é que vê à frente, e já percebeu que na colecção Outono/Inverno 2006/2007 o internamento hospitalar vai estar "out". O que vai estar "in", mas isto ele não o pode dizer, e este é que é o escândalo subjacente a este escândalo, são os hospitais privados, que já estão em bicos de pés a babarem-se pelos restos mortais do SNS.
Já não falta muito para o fim do SNS. Já está aí a chegar. Já chegou.
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Quinta-feira, 31 de Agosto de 2006

Serviço Nacional de Saúde, a caminho do epitáfio?

Este é sobretudo para despertar a curiosidade da Sofia (Loureiro dos?) Santos, que amavelmente me visitou e se tornou na 5ª leitora deste blog, mas também para os outros 4 visitantes.
Tenho informações, que ainda não posso divulgar, que apontam para uma "Bomba H" prestes a rebentar no SNS. E não estou a exagerar a potência da coisa... vai ficar tudo em estilhaços.
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Terça-feira, 29 de Agosto de 2006

Polémica sobre o Serviço Nacional de Saúde

Sim, porque é polémico dizer bem do SNS, como eu quero dizer e como diz a Sofia Santos num blog que descobri, Defender o Quadrado, onde traduz tudo aquilo que eu penso sobre o SNS. Como depois de ler não vale a pena escrever o que quer que seja, fica o link.
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Os melhores javalis


O chefe viu:
   "Nightwatchers", Peter Greenaway

  

 

   "The Happening", M. Night Shyamalan

  

 

   "Blade Runner" (final cut), Ridley Scott

  


O chefe está a ler:
   "Entre os Dois Palácios", Naguib Mahfouz

O chefe tem ouvido:
   Clap Your Hands Say Yeah, Some Loud Thunder

   Radiohead, In Rainbows
 

por toutatis! que o céu não nos caia em cima da cabeça...

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